quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Reflexões sobre a Roupa

Ando por esses dias numa onda com a roupa. Encanei com o sutiã, principalmente aqueles com bojo. De repente me dei conta de que eles deixam todos os peitos com cara dos peitos da Barbie! JesusMariaJosé, como que eu, euzinha, super prafrentex, fui cair nessa?!?!

Essa onda da roupa certamente vem da onda da expressão. Aquele papo de que a gente olha pra dentro e expressa pra fora; se liga no coração e deixa vir a expressão. Só que tem um pequeno detalhe: em geral tivemos nossas formas de expressão sistematicamente podadas desde a mais tenra idade. Então é preciso uma boa dose de atenção. Não estamos acostumados a nos expressar. Seria um movimento livre e leve, mas muitas amarras nos prendem, então nos cabe ir cortando essas amarras, pouco a pouco, com gentileza, mas sem vacilar. Fé cega, faca amolada! (ouça a música, com alguns brindes, na voz da eterna Elis)

Pois bem, voltando à roupa.

Roupa é expressão. Quem não usa roupas, usa adornos. Quem usa roupas iguais, iguaizinhas, não se expressa (continue o raciocínio por sua conta e risco...).

Voltando ao sutiã. Peitos com cara de Barbie não se expressam. Tá frio, tá calor, tudo liso. Todas as mulheres com peitos iguais.

Perguntei a mim mesma o que me fazia usar sutiãs com bojo e a resposta foi:
"porque eles deixam meus peitos bonitos"
"bonitos?! Então quer dizer que meus peitos são feios?! Então quer dizer que pra deixar meus peitos bonitos eu preciso escondê-los sob espuma?!"
"Ãhn, hum, veja bem, são assim um tanto pequenos, meio separados, meio caídos..."
"pois então se vira! Me desculpe, não sei o que você vai fazer, mas me recuso a achar uma parte de mim feia e ter que escondê-la, camuflá-la"

Ok. Resolvi então fazer a minha queima particular de sutiãs.

Botei uma camiseta e fui pra rua resolver pendências cotidianas. Nunca me senti tão livre!

Me sentia um tanto quanto nua, é verdade. Exposta. Mas expressão é exposição. E em nenhum momento me senti mal. Era apenas novidade.

E os outros, reparariam?! E os olhares masculinos, se espantariam?!

Nada que tenha chegado em mim... (ok, não sou exatamente o tipo que atrai olhares, rs...).

Assim foi indo, já se passaram algumas semanas e não tenho a menor vontade de enganchar um elástico com arame e espuma nos meus tórax e ombros abafando meus mamilos. E o mais surpreendente, sabe o que aconteceu? Meus peitos ficaram simplesmente lindos! Reviveram. Reencontrei com uma parte de mim - tão importante, diga-se de passagem - que sempre esteve escondida, que sempre esteve aquém das expectativas estéticas (minhas, é claro) e que no entanto cumpriram brilhantemente seu principal papel, que foi alimentar meu filho. Tirar o sutiã me fez me sentir completa. Completa e honesta. Parece que antes tinha um medo de que "descobrissem que aquilo lá era só espuma"; e agora, literalmente de peito aberto, a mensagem é "essa sou eu!".

É certo que algumas situações causam um pouco de insegurança, como conversar com os pedreiros, rs... mas, desculpem, não vou atribuir minha "decência" e minha credibilidade, a uma peça de roupa. Escolho com mais cuidado a blusa e vamo que vamo.

De qualquer forma, não estou dizendo "mulheres, tirem o sutiã". Só queria registrar aqui essa loucura. E também não garanto que você nunca mais vai me ver de sutiã. Vai saber...

Ah, pra finalizar recomendo esse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CDqzYgMJAcc
da engraçadíssima Jout Jout Prazer. Ele me chegou depois que fiz um desabafo público "Por que escondemos nossos mamilos sob espuma?" e caiu como uma luva nessa minha reflexão!

Ah, antes de finalizar: ontem conheci na piscininha do clube uma menina de seis (SEIS) anos, que despudoradamente tirou o biquini pra se trocar na beira da piscina (até aqui ok) e ao se vestir colocou um sutiã, COM BOJO.

Pronto, agora acabou. O mundo!


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fluxo Esforço Inércia Disciplina e por aí vai...

Ultimamente tenho ouvido falar muito no tal do "fluxo". Que a vida flui, que a energia flui e que para que sejamos felizes basta entrar no fluxo e deixar rolar. A ideia é muito simples, daquela simplicidade que desafia as complicações onde fomos nos metendo nessa vida cyber-urbana-acadêmica e justamente por isso as mentes pensantes desconfiam logo de cara.

A mim a ideia convence. Se está difícil, se está demandando esforço, é porque não é por aí.

Mas tem um pequeno detalhe: o que é esforço?

Em muitos aspectos adquirimos um certo comodismo e entramos num estado de inércia. As dificuldades surgem, os incômodos surgem, e parece que pra lidarmos com eles precisamos de algum esforço, mas se o esforço indica que não estamos no fluxo, então o fluxo é ficar nesse estado de dificuldade e incômodo? Então a questão é optar pelo "menor esforço"?

Não!

A questão é que pra sair do comodismo, pra romper com essa inércia, precisamos de um peteleco - ou na maioria das vezes um belo chute na bunda!

Esse peteleco, esse chute, demanda um esforço, dói um pouco, talvez até fique roxo, mas não é nada de mais. Essa dorzinha do chute, esse desconforto de sair do lugar, esse esforço pra parar de bocejar e agir, são perfeitamente suportáveis e cabíveis, deixe de manha! Respire fundo, olhe sua vida e avalie: você está deitado na rede reclamando que não tem isso, não tem aquilo, não fazem isso ou fazem muito daquilo? Está precisando de um peteleco...

Ou, ao contrário, você trabalha, trabalha, rala pra caramba e nada sai como você quer? Está precisando desapegar dessa ralação toda, silenciar e buscar o tal do fluxo, esse lugar mágico onde as coisas acontecem.

Mas uma coisa é certa: o fluxo não está no esforço tanto quanto não está na inércia.

E aqui entra uma visão nova - nova pra mim, é claro - do papel da disciplina.

Sempre achei que disciplina fosse estabelecer algo e cumprí-lo sistematicamente: não comerei mais carne; farei atividade física duas vezes por semana; levarei meu cachorro pra passear todo dia; visitarei meus pais toda semana; levarei meu filho no parquinho segunda, quarta e sexta.

Só que essa disciplina aprisiona, pelo simples fato de que essa disciplina está baseada no futuro e o futuro não existe. Ou então está baseada no passado, quando estabeleço as deliberações pautadas em situações que passei e não quero passar mais, ou que quero que se repitam. E o passado não existe mais...

Não adianta, a vida acontece aqui e agora. Fora isso é ilusão e ilusão é prisão.

A minha nova disciplina, a minha nova visão sobre a disciplina, é ter constância e rigor na auto-observação. É ser disciplinada o suficiente pra não me deixar entorpecida numa rede reclamando da vida (deitar na rede pra descansar, maravilha! O problema não é a rede...) Ou então ser disciplinada o suficiente pra me dar conta de que esse caminho onde já trabalhei tanto não vai dar onde eu queria, e ter a coragem, o desapego e a humildade de dar meia volta e recomeçar a caminhada.

As duas situações exigem esforço; as duas situações pedem quebra de inércia (inércia do repouso e inércia do movimento); as duas situações demandam energia. A Vida pede energia, mas toda ação pela Vida nos energiza! Se algo te pede energia, mas não te energiza, desconfie... isso não é fluxo!


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Meus ídolos negros

Semana passada contei ao mundo que descobri que sou racista (!). O texto teve uma boa repercussão e a melhor delas foi um vídeo que recebi de um querido amigo. Trata-se de uma palestra da série TEDx (assista aqui), que começa com a mesma linha de raciocínio do meu texto e vai muito além (não é a toa que tem milhares de visualizações, rs...). Assista. São 18 minutos que podem mudar sua vida!

Pois bem, esse mesmo amigo não parou por aí e me lançou um desafio: citar três personalidades afro-brasileiras e dizer como elas influenciaram minha vida positivamente.

Amo um pretexto pra escrever e claro que aceitei!

Logo de cara já pensei em duas e achei que seria moleza achar a terceira, maaaaas... não consegui! Lembrei, sim, de várias personalidades negras (Matheus, não consigo dizer afro-brasileiro com naturalidade e pra mim negro é lindo, black is beautifull), mas não cheguei em nenhuma que tivesse tido uma influência marcante na minha vida. Sinal de alerta! Minhas referências são brancas... meus ídolos são brancos...

Não sei  qual a proporção das populações negra e branca no mundo, ou no Brasil (alguém se habilita?!), mas de todas as pessoas "famosas" que admiro, apenas duas serem negras é no mínimo estranho. Na verdade meu critério foi mais rigoroso. Pra influenciar minha vida não basta que eu tenha "admiração". Eu tenho que ter paixão, eu tenho que ser íntima da pessoa. Admiro muitos negros, mas paixão, paixão mesmo, só por esses dois aqui ó:

Gilberto Gil
Oh céus, o que falar do Gil?! Nunca estive com o cara, mas converso com ele quase que diariamente através de suas músicas. Quando estou meio pra baixo, meio desanimada, meio esquisita, não falha: basta colocar qualquer disco do Gil e tudo fica colorido. Basta pensar nele, no rosto dele, no sorriso dele e não há baixo astral que resista. Sério mesmo. Até eu acho esquisito como que uma pessoa pode amar tanto uma outra que nem sabe da sua existência. Mas, pois é, amo mesmo. Às vezes me imagino participando de um concurso desses, tipo "Passe o Dia com seu Ídolo". Eu escolheria o Gil! E fico me imaginando com ele, ouvindo ele contar as histórias das músicas, pedindo pra ele tocar Refazenda (em homenagem ao Joaquim, a "música do abacatêo"), perguntando pra ele o que ele acha do jeito que tá o mundo, se tem saída, se tem solução. Chego até a ouvir ele dizendo que o mundo é lindo e que ele nem quer saber de saída, quer mais é continuar por aqui mesmo.
 "O melhor lugar do mundo é aqui e agora"
"Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando..."
 "É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar"
"A raça humana é a ferida acesa, uma beleza, uma podridão, o fogo eterno e a morte, a morte e a ressurreição!"

Milton Nascimento
Se ele "só" compusesse já seria meu ídolo; se ele "só" cantasse, também. Mas ele faz as duas coisas! A música do Milton fala diretamente à minha alma. Ele canta as Minas Gerais que eu tanto amo. Ele fez um disco inspirado na Amazônia que é uma das coisas mais lindas que eu conheço e que firmou meu amor pelas florestas, amor esse que me fez ir estudar engenharia florestal, caminho onde encontrei minha alma gêmea. E foi nesse disco, Txai, onde encontramos uma música perfeita pra abrir a cerimônia do nosso casamento: "o amor enfim ficou senhor de mim, e eu fiquei assim, calado sem latim, coisas da vida...". Milton tem uma paz, uma divindade. Milton eleva minha vida.

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Na minha busca pela terceira personalidade negra alguns nomes importantes vieram à mente: Zumbi dos Palmares, Milton Santos, Lázaro Ramos, Xica da Silva, Elza Soares. Mas não consigo escrever sobre nenhum deles com a paixão e a intimidade que tenho com Gil e Milton. Acho que na verdade o "problema" não seja pouca influência dos demais, mas um brilho ofuscante dos dois "primeiros colocados". De qualquer forma, vale a reflexão: quem vem moldando nossa visão de mundo?

Bem que eu queria que a cor da pele não importasse e acredito que esse dia vá chegar, mas temos uma história de muita tristeza ainda muito recente. Vale o cuidado.

E você, quais são seus ídolos negros?