quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

É preciso repensar - e refazer - os rumos da educação

Hoje encontrei com um antigo professor. Ele lecionava português e literatura no meu então colegial, agora chamado de Ensino Médio. Lá se vão... peraí, deixa fazer as contas... dezoito?! Caramba, dezoito anos!!! Perguntei se ele continua dando aula e ele falou que passou por um momento muito difícil, uma crise de stress, se readaptou (quando o professor da rede pública deixa de trabalhar em sala de aula e assume outras funções na escola. Adivinha por que? Porque está a ponto de se matar ou matar um...) e agora está na Sala de Leitura. Era um dos meus professores favoritos e se hoje gosto tanto de ler e de escrever certamente ele tem influência! Espero que continue influenciando jovens e crianças no gosto pelas letras, mas precisava ter passado por uma crise tão séria (não sei detalhes, mas não se entra num processo de readaptação por bobagem...).

Apesar de ter um caso exatamente como esse ao meu lado (logo explico), foi falando com esse professor que me caiu a ficha: precisamos mudar a educação, não apenas pelas crianças, mas também pelos professores!

Tenho um filho que logo começará a frequentar a escola. Logo mesmo, fim do mês. E tenho estudado sobre sistemas e métodos pedagógicos, tenho conversado com outras mães e o que vejo me faz sentir muito forte que a escola, do jeito que está, é extremamente nociva ao desenvolvimento humano. Sim, chocante, alarmante, triste. Mas eu só enxergava isso pelo lado do aluno. Agora veio a pancada: pelo lado do professor a coisa não é menos nociva ou chocante.

Quantos talentos, mestres brilhantes, com carisma para motivar, para encantar, para conduzir com respeito; quantos desses professores não estão sendo esmagados pelo sistema de ensino? Jovens sonhadores e cheios de energia pra fazer a diferença que vão sendo transformados em adultos amargurados, cansados de tantas decepções, até que desistem, saem de cena, frustrados. Todos perdem. Não é um final digno pra um ofício tão nobre!

Vou contar um pouco da história de alguns admiráveis professores que conheço bem de perto:
- Minha mãe foi professora da rede pública. Lecionava educação artística e tenho certeza que fez diferença na vida de seus alunos, trazendo beleza e cultura praqueles alunos de periferia, que não veriam aquelas coisas na televisão e que provavelmente não teriam aquela oportunidade de expressão em casa... Se aposentou antes do tempo, não aguentava mais.
- Meu pai tentou ser professor, mas não é do tipo que aceita facilmente as regras, viu que não ia dar certo e foi dar aula pra cachorro (é sério! Virou adestrador de cães e paralelamente escreve suas poesias, peças, músicas...).
- Meu padrasto é professor, agora readaptado. Lecionava educação física e ia muito além da bola. Tenho certeza que fez muita diferença na vida de seus alunos também, trazendo disciplina, determinação, saúde. Mas foi esmagado pela sala de aula.
- Minha tia, irmã da minha mãe, foi professora primária. Lecionou por muitos e muitos anos em escolas rurais e enfrentava coisas que você nem sonha pra ensinar o alfabeto praquelas crianças. Teve que se afastar da sala de aula porque fez um câncer, mas, guerreira que é, vive às voltas com o ambiente escolar e voltou pra sala de aula no ano passado. É contadora de histórias e estimula a leitura nessa garotada que só quer saber de tela. Mas precisava ter sofrido tanto?!
- Minha prima, filha dessa tia, também é professora primária. Optou por trabalhar em uma escola particular antes que fosse esmagada pela rede pública...
- Minha irmã é professora de inglês para crianças em uma escola particular. Parece estar feliz com o ofício, mas atribui em grande parte essa satisfação à escola onde trabalha e à forma como os professores são tratados lá.
- Minha cunhada teve uma experiência-relâmpago em sala de aula e foi extremamente traumática. Assim como meu pai, viu logo que aquilo não ia dar em boa coisa...

Fora os exemplos na família tenho conhecido pessoas da minha geração que foram ser professores, com o nobre propósito de melhorar o mundo, e que estão voltando atrás, apavorados.

E agora quem se apavora sou eu: não podemos perder esses talentos! O mundo precisa MUITO de bons professores, de educadores. A nova geração precisa MUITO de bons exemplos, de pessoas que os encantem, de pessoas que saibam apresentar o mundo, mas que também os deixem descobrí-lo por seus próprios olhos. No fim do ano passado conheci uma pessoa assim e que está conseguindo trabalhar assim, dentro de uma proposta totalmente nova, fora da escola. Não parece fácil, mas parece motivador.

E por falar em "fora da escola", conheço pouco da desescolarização, mas não sei se a saída é extinguir a escola. Precisa sim de um terremoto, precisa por tudo abaixo (talvez aí a desescolarização tenha um papel crucial), mas precisa ser reconstruída. Com novas bases, com novos prumos. Com novas formas e novas funções. Talvez até com outro nome... ok, chega de escola, rs...

Mas a certeza é que não há tempo a perder! Não quero deixar essa lição de casa pro meu filho. Não quero esperar mais dezoito anos pra ver onde isso vai dar...


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