segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

de braços abertos

só podemos AGIR no AGORA

mas PASSADO refletido no presente é AGORA

não me venha com "o que passou, passou"

se lembro, não passou; se não lembro, nunca houve

estou em paz com meu passado


eu me formo, reformo e transformo constantemente nos ENCONTROS
encontros com pessoas, encontros com lugares, encontros com bichos, encontros com plantas, encontros com sensações

minha matéria é fluida
vai sendo moldada
recebe marcas

mas de tempos em tempos PASSO A LIMPO
olho pra dentro
encontro-me comigo
e pluft - sou outra!

os encontros de fora transformam
os encontros de dentro TRANSMUTAM

alquimia não é transmutar chumbo em ouro, no sentido literal das matérias
alquimia é transmutar-se a si próprio, mudando sua própria constituição
sem resíduos
simplesmente mudando
como mágica

minhas experiências vão me formando
a forma e a constituição que tenho HOJE são meu ponto de partida para transmutar
a transmutação gera algo TOTALMENTE NOVO em termos de matéria e forma
o que permanece é a CONSCIÊNCIA
mas essa mesma consciência se ALTERA ao testemunhar a transmutação
e continua se alterando ao se PERCEBER num novo formato, numa nova composição

a transmutação consciente e voluntária é linda e leve
não é dolorida, não é sofrida

ela só pede DESAPEGO
ela só pede CORAGEM

quem não transmuta de tempos em tempos fica acumulado, pesado
vai se estragando

estragar também é transmutar
é a matéria em decomposição dando lugar à terra fresca
a Natureza sempre se encarrega de fazer com que cada um siga seu ciclo
mas quando a consciência não quer, ela se apega e sofre
não adianta sofrer, pois a Natureza trabalha mesmo assim, mas a consciência apegada sofre

quem é livre de apego e medo vai transmutando naturalmente e nem precisa ter consciência disso

apego É medo
medo de FALTAR
medo de sofrer MAIS

apego é CONFORMISMO
"tá bom assim..."
"deixe quieto..."

ok,
TODOS querem CONFORTO

MAS...

a pulsação da Vida PEDE alguns saltos, alguns mergulhos, alguns descontroles, algum suor criativo

PULSAÇÃO

é possível, é lindo e é natural sentir a vida pulsar com conforto, graça e leveza

porque a vida pulsante não nos deixa em desconforto
o que nos deixa em desconforto é a tentativa de SEGURAR a pulsação da vida
as proporções do pulso da Vida envolvem muito mais alegria, liberdade, contentamento, criatividade, disposição
e apenas PEQUENAS DOSES de medo, raiva e tristeza

só o suficiente pra dar o salto, pra fazer MUDAR DE LUGAR
a descida que impulsiona a subida
a retração que impulsiona a flecha
o DISTANCIAMENTO que é necessário para nos APROXIMAR  de nosso alvo

é preciso SENTIR o perigo (medo) para que possamos FAZER ALGO em relação a ele

o sentir é breve; o FAZER ALGO dura

quando eu reconheço a pulsação da Vida eu me entrego
desapego da dor - do mesmo jeito que ela veio, ela vai... tudo que eu tenho a fazer é DEIXÁ-LA ir
desapego da alegria - não preciso me apegar a ela, pois ela está SEMPRE disponível! Quando ela se vai, logo volta... tudo o que preciso é DEIXÁ-LA voltar

de braços abertos

de braços abertos eu liberto a dor
de braços abertos eu recebo a alegria

de braços abertos eu olho pro céu e agradeço
com os braços soltos me curvo à terra e me recolho

torno a subir
e continuo a caminhada



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Reflexões sobre a Roupa

Ando por esses dias numa onda com a roupa. Encanei com o sutiã, principalmente aqueles com bojo. De repente me dei conta de que eles deixam todos os peitos com cara dos peitos da Barbie! JesusMariaJosé, como que eu, euzinha, super prafrentex, fui cair nessa?!?!

Essa onda da roupa certamente vem da onda da expressão. Aquele papo de que a gente olha pra dentro e expressa pra fora; se liga no coração e deixa vir a expressão. Só que tem um pequeno detalhe: em geral tivemos nossas formas de expressão sistematicamente podadas desde a mais tenra idade. Então é preciso uma boa dose de atenção. Não estamos acostumados a nos expressar. Seria um movimento livre e leve, mas muitas amarras nos prendem, então nos cabe ir cortando essas amarras, pouco a pouco, com gentileza, mas sem vacilar. Fé cega, faca amolada! (ouça a música, com alguns brindes, na voz da eterna Elis)

Pois bem, voltando à roupa.

Roupa é expressão. Quem não usa roupas, usa adornos. Quem usa roupas iguais, iguaizinhas, não se expressa (continue o raciocínio por sua conta e risco...).

Voltando ao sutiã. Peitos com cara de Barbie não se expressam. Tá frio, tá calor, tudo liso. Todas as mulheres com peitos iguais.

Perguntei a mim mesma o que me fazia usar sutiãs com bojo e a resposta foi:
"porque eles deixam meus peitos bonitos"
"bonitos?! Então quer dizer que meus peitos são feios?! Então quer dizer que pra deixar meus peitos bonitos eu preciso escondê-los sob espuma?!"
"Ãhn, hum, veja bem, são assim um tanto pequenos, meio separados, meio caídos..."
"pois então se vira! Me desculpe, não sei o que você vai fazer, mas me recuso a achar uma parte de mim feia e ter que escondê-la, camuflá-la"

Ok. Resolvi então fazer a minha queima particular de sutiãs.

Botei uma camiseta e fui pra rua resolver pendências cotidianas. Nunca me senti tão livre!

Me sentia um tanto quanto nua, é verdade. Exposta. Mas expressão é exposição. E em nenhum momento me senti mal. Era apenas novidade.

E os outros, reparariam?! E os olhares masculinos, se espantariam?!

Nada que tenha chegado em mim... (ok, não sou exatamente o tipo que atrai olhares, rs...).

Assim foi indo, já se passaram algumas semanas e não tenho a menor vontade de enganchar um elástico com arame e espuma nos meus tórax e ombros abafando meus mamilos. E o mais surpreendente, sabe o que aconteceu? Meus peitos ficaram simplesmente lindos! Reviveram. Reencontrei com uma parte de mim - tão importante, diga-se de passagem - que sempre esteve escondida, que sempre esteve aquém das expectativas estéticas (minhas, é claro) e que no entanto cumpriram brilhantemente seu principal papel, que foi alimentar meu filho. Tirar o sutiã me fez me sentir completa. Completa e honesta. Parece que antes tinha um medo de que "descobrissem que aquilo lá era só espuma"; e agora, literalmente de peito aberto, a mensagem é "essa sou eu!".

É certo que algumas situações causam um pouco de insegurança, como conversar com os pedreiros, rs... mas, desculpem, não vou atribuir minha "decência" e minha credibilidade, a uma peça de roupa. Escolho com mais cuidado a blusa e vamo que vamo.

De qualquer forma, não estou dizendo "mulheres, tirem o sutiã". Só queria registrar aqui essa loucura. E também não garanto que você nunca mais vai me ver de sutiã. Vai saber...

Ah, pra finalizar recomendo esse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CDqzYgMJAcc
da engraçadíssima Jout Jout Prazer. Ele me chegou depois que fiz um desabafo público "Por que escondemos nossos mamilos sob espuma?" e caiu como uma luva nessa minha reflexão!

Ah, antes de finalizar: ontem conheci na piscininha do clube uma menina de seis (SEIS) anos, que despudoradamente tirou o biquini pra se trocar na beira da piscina (até aqui ok) e ao se vestir colocou um sutiã, COM BOJO.

Pronto, agora acabou. O mundo!


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fluxo Esforço Inércia Disciplina e por aí vai...

Ultimamente tenho ouvido falar muito no tal do "fluxo". Que a vida flui, que a energia flui e que para que sejamos felizes basta entrar no fluxo e deixar rolar. A ideia é muito simples, daquela simplicidade que desafia as complicações onde fomos nos metendo nessa vida cyber-urbana-acadêmica e justamente por isso as mentes pensantes desconfiam logo de cara.

A mim a ideia convence. Se está difícil, se está demandando esforço, é porque não é por aí.

Mas tem um pequeno detalhe: o que é esforço?

Em muitos aspectos adquirimos um certo comodismo e entramos num estado de inércia. As dificuldades surgem, os incômodos surgem, e parece que pra lidarmos com eles precisamos de algum esforço, mas se o esforço indica que não estamos no fluxo, então o fluxo é ficar nesse estado de dificuldade e incômodo? Então a questão é optar pelo "menor esforço"?

Não!

A questão é que pra sair do comodismo, pra romper com essa inércia, precisamos de um peteleco - ou na maioria das vezes um belo chute na bunda!

Esse peteleco, esse chute, demanda um esforço, dói um pouco, talvez até fique roxo, mas não é nada de mais. Essa dorzinha do chute, esse desconforto de sair do lugar, esse esforço pra parar de bocejar e agir, são perfeitamente suportáveis e cabíveis, deixe de manha! Respire fundo, olhe sua vida e avalie: você está deitado na rede reclamando que não tem isso, não tem aquilo, não fazem isso ou fazem muito daquilo? Está precisando de um peteleco...

Ou, ao contrário, você trabalha, trabalha, rala pra caramba e nada sai como você quer? Está precisando desapegar dessa ralação toda, silenciar e buscar o tal do fluxo, esse lugar mágico onde as coisas acontecem.

Mas uma coisa é certa: o fluxo não está no esforço tanto quanto não está na inércia.

E aqui entra uma visão nova - nova pra mim, é claro - do papel da disciplina.

Sempre achei que disciplina fosse estabelecer algo e cumprí-lo sistematicamente: não comerei mais carne; farei atividade física duas vezes por semana; levarei meu cachorro pra passear todo dia; visitarei meus pais toda semana; levarei meu filho no parquinho segunda, quarta e sexta.

Só que essa disciplina aprisiona, pelo simples fato de que essa disciplina está baseada no futuro e o futuro não existe. Ou então está baseada no passado, quando estabeleço as deliberações pautadas em situações que passei e não quero passar mais, ou que quero que se repitam. E o passado não existe mais...

Não adianta, a vida acontece aqui e agora. Fora isso é ilusão e ilusão é prisão.

A minha nova disciplina, a minha nova visão sobre a disciplina, é ter constância e rigor na auto-observação. É ser disciplinada o suficiente pra não me deixar entorpecida numa rede reclamando da vida (deitar na rede pra descansar, maravilha! O problema não é a rede...) Ou então ser disciplinada o suficiente pra me dar conta de que esse caminho onde já trabalhei tanto não vai dar onde eu queria, e ter a coragem, o desapego e a humildade de dar meia volta e recomeçar a caminhada.

As duas situações exigem esforço; as duas situações pedem quebra de inércia (inércia do repouso e inércia do movimento); as duas situações demandam energia. A Vida pede energia, mas toda ação pela Vida nos energiza! Se algo te pede energia, mas não te energiza, desconfie... isso não é fluxo!


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Meus ídolos negros

Semana passada contei ao mundo que descobri que sou racista (!). O texto teve uma boa repercussão e a melhor delas foi um vídeo que recebi de um querido amigo. Trata-se de uma palestra da série TEDx (assista aqui), que começa com a mesma linha de raciocínio do meu texto e vai muito além (não é a toa que tem milhares de visualizações, rs...). Assista. São 18 minutos que podem mudar sua vida!

Pois bem, esse mesmo amigo não parou por aí e me lançou um desafio: citar três personalidades afro-brasileiras e dizer como elas influenciaram minha vida positivamente.

Amo um pretexto pra escrever e claro que aceitei!

Logo de cara já pensei em duas e achei que seria moleza achar a terceira, maaaaas... não consegui! Lembrei, sim, de várias personalidades negras (Matheus, não consigo dizer afro-brasileiro com naturalidade e pra mim negro é lindo, black is beautifull), mas não cheguei em nenhuma que tivesse tido uma influência marcante na minha vida. Sinal de alerta! Minhas referências são brancas... meus ídolos são brancos...

Não sei  qual a proporção das populações negra e branca no mundo, ou no Brasil (alguém se habilita?!), mas de todas as pessoas "famosas" que admiro, apenas duas serem negras é no mínimo estranho. Na verdade meu critério foi mais rigoroso. Pra influenciar minha vida não basta que eu tenha "admiração". Eu tenho que ter paixão, eu tenho que ser íntima da pessoa. Admiro muitos negros, mas paixão, paixão mesmo, só por esses dois aqui ó:

Gilberto Gil
Oh céus, o que falar do Gil?! Nunca estive com o cara, mas converso com ele quase que diariamente através de suas músicas. Quando estou meio pra baixo, meio desanimada, meio esquisita, não falha: basta colocar qualquer disco do Gil e tudo fica colorido. Basta pensar nele, no rosto dele, no sorriso dele e não há baixo astral que resista. Sério mesmo. Até eu acho esquisito como que uma pessoa pode amar tanto uma outra que nem sabe da sua existência. Mas, pois é, amo mesmo. Às vezes me imagino participando de um concurso desses, tipo "Passe o Dia com seu Ídolo". Eu escolheria o Gil! E fico me imaginando com ele, ouvindo ele contar as histórias das músicas, pedindo pra ele tocar Refazenda (em homenagem ao Joaquim, a "música do abacatêo"), perguntando pra ele o que ele acha do jeito que tá o mundo, se tem saída, se tem solução. Chego até a ouvir ele dizendo que o mundo é lindo e que ele nem quer saber de saída, quer mais é continuar por aqui mesmo.
 "O melhor lugar do mundo é aqui e agora"
"Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando..."
 "É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar"
"A raça humana é a ferida acesa, uma beleza, uma podridão, o fogo eterno e a morte, a morte e a ressurreição!"

Milton Nascimento
Se ele "só" compusesse já seria meu ídolo; se ele "só" cantasse, também. Mas ele faz as duas coisas! A música do Milton fala diretamente à minha alma. Ele canta as Minas Gerais que eu tanto amo. Ele fez um disco inspirado na Amazônia que é uma das coisas mais lindas que eu conheço e que firmou meu amor pelas florestas, amor esse que me fez ir estudar engenharia florestal, caminho onde encontrei minha alma gêmea. E foi nesse disco, Txai, onde encontramos uma música perfeita pra abrir a cerimônia do nosso casamento: "o amor enfim ficou senhor de mim, e eu fiquei assim, calado sem latim, coisas da vida...". Milton tem uma paz, uma divindade. Milton eleva minha vida.

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Na minha busca pela terceira personalidade negra alguns nomes importantes vieram à mente: Zumbi dos Palmares, Milton Santos, Lázaro Ramos, Xica da Silva, Elza Soares. Mas não consigo escrever sobre nenhum deles com a paixão e a intimidade que tenho com Gil e Milton. Acho que na verdade o "problema" não seja pouca influência dos demais, mas um brilho ofuscante dos dois "primeiros colocados". De qualquer forma, vale a reflexão: quem vem moldando nossa visão de mundo?

Bem que eu queria que a cor da pele não importasse e acredito que esse dia vá chegar, mas temos uma história de muita tristeza ainda muito recente. Vale o cuidado.

E você, quais são seus ídolos negros?


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Eu não sou racista, mas...

Dia desses estava eu com meu filho voltando de um passeio, caminhando em direção ao nosso carro, quando noto a presença de um homem ao lado do carro. O cara ali em pé, com uma cara meio séria e um olhar de quem não sabe pra onde vai. Com as orelhas em pé e antenas ligadas, reduzi o passo, olhei em volta.

Na fração de segundo que ganhei reduzindo o passo, vi que o cara estava só trancando o carro dele, que estava ao lado do meu, e antes que eu atravessasse a rua ele já tinha ido na direção oposta.

Fêmeas com filhote são naturalmente mais alertas... mas o cara era negro... e não era lá muito "bem vestido" (não gosto desse termo, mas não tenho paciência pra procurar atenuantes...).

Tentei simular minha reação se o cara fosse branco. Branco e mal vestido. Branco e bem vestido. Negro e bem vestido. Só sei que me vi num emaranhado de racismo - pela cor da pele - e preconceito - pelo teor das vestes.

Uma vez li num texto da Carta Capital que qualquer frase que comece com "eu não sou racista, mas..." não vai terminar em boa coisa.

Eu não sou racista, MAS fiquei com medo do homem negro ao lado do meu carro.

Eu não sou preconceituosa, MAS fiquei com medo do homem mal vestido ao lado do meu carro.

Aproveitando a pauta da violência contra a mulher, não sei se é verdade, mas li que qualquer redação do ENEM que tivesse a frase "Eu não sou machista, mas..." seria automaticamente desclassificada.

E agora sentindo na pele a força desse "mas", entendo que a desclassificação não é pelo machismo, mas pela desonestidade. Quem afirma "eu não sou machista, mas..." é lógico que é machista! E além de machista é mentiroso!

Voltando à minha vivência, percebi claramente o quanto sou racista e preconceituosa. Percebi o quanto sou levada por uma imagem e o quanto minha intuição, aquela da fêmea com filhote, está abafada, soterrada e respirando com dificuldade sob os escombros de aulas de história e geografia, de novelas, de notícias de jornais e revistas, de conversas vazias, enfim, de pontos de vista alheios a mim e que, não sei por que raios, um dia tomei como sendo meus.

Felizmente situações como essa tiram um tanto de entulho! Ao olhar e aceitar meu racismo e meu preconceito eu sabia claramente que não iria "curar" essa minha visão equivocada tendo mais aulas de história e geografia ou refinando meus veículos de mídia e lendo o Blog do Sakamoto. Eu soube o que não fazer, mas não soube o que fazer... mas tudo bem. Olhei, aceitei e segui a vida.

Até que, semanas depois, a resposta veio numa conversa com a minha mãe e meu cunhado (concunhado, na verdade, rs...), num despretensioso almoço de sábado, no quintal com crianças correndo e churrasqueira churrascando.

Não lembro como começou, mas temos essa facilidade pra pular de "hum, o tabule ta uma delícia" pra "a solução do mundo é a elevação espiritual de cada um". E assim foi. Eu falei a primeira frase, minha mãe a segunda, não necessariamente nessa ordem e com algumas outras no meio.

E aí o lance é esse. Não se cura racismo com aula de história, não se cura machismo com estatísticas e depoimentos. A única forma possível é CADAUM olhar pra dentro de si e buscar essa tal dessa consciência, dessa lucidez, dessa centelha divina, porque nesse lugar não há espaço pra racismo, machismo e qualquer outro ismo.

A má notícia é que você não pode fazer isso por ninguém. Não há campanha que dê jeito... (e que pretensão fazer uma campanha de conscientização! Não é possível conscientizar o outro. Mas voltaremos nesse tópico).

A boa notícia é que VOCÊ e SÓ VOCÊ pode fazer isso por você. E vou dar uma dica: não precisa de nada nem ninguém. Precisa olhar pra dentro, precisa se ouvir. O resto é alegoria. Mas aí a questão é com você...

Eu tenho feito. Eu tenho olhado pra dentro. Eu tenho me ouvido. Eu tenho cultivado a presença. E tem sido lindo! Mas sabe o que está sendo mais lindo nessa história? Descobrir que eu posso. E descobrir também que é muito mais fácil e simples do que eu pensava, a partir do momento em que parei de buscar fora, parei de ter dúvida e simplesmente confiei em mim mesma. No começo bateu uma solidão, confesso. Bateu até um abandono, uma vontade de que fizessem por mim. Mas só durou até eu entender a verdadeira liberdade que existe por trás disso. E só dá pra entender vivendo.

Mas e o mundo? E os absurdos que existem por aí? Vamos deixar atrocidades acontecerem enquanto olhamos pra nossos umbigos?!

Primeiramente, não vamos olhar pra nossos umbigos, e sim pra nossos corações e, acredite, esse é o maior ato de altruísmo que uma pessoa pode fazer! Viver em conformidade com seu coração.

Depois basta dar vazão à sua necessidade de expressão, uma necessidade básica do ser humano, mas que fica um tanto negligenciada ou desviada se não estamos conectados com a nossa essência, com o nosso coração, com a nossa consciência.

O movimento é esse: olha pra dentro e expressa pra fora. Assim, redundante mesmo: expressa pra fora! Deixa sair, deixa brilhar, deixa, deixa, deixa...

Deixa
Fale quem quiser falar, meu bem
Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa, deixa, deixa
Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez
Deixa
A Paixão também existe
Deixa
Não me deixe ficar triste

Saravá Baden Powel!!!
Saravá Elis!!!

https://www.youtube.com/watch?v=biqZ3ImZlZI




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Sentir

Você de fato sente o que está sentindo? Ou tenta impor algo que deveria sentir, antes mesmo de se dar uma mínima atenção?

Arrisco dizer que você, assim como eu, foi treinado a não sentir. Fomos treinados a pular o presente, numa ânsia de antecipar - ou prever? - o futuro. O pequeno detalhe é que isso é impossível e nesse ingênuo descuido pode estar a base de muita infelicidade, de desarmonias diversas, inclusive doenças.

Um exemplo básico é o que falamos pra uma criança que se machuca: "não foi nada! Já passou!" e outras mentiras afins. Sim, mentira. Nos achamos muito honestos, criticamos ferrenhamente a corrupção, e no entanto mentimos deslavadamente e o tempo todo pros nossos próprios filhos. E pior: queremos que eles mintam pra eles mesmos! E acreditem!

A criança caiu, é CLARO que está doendo. E se a criança está chorando É CLARO que NÃO PASSOU.

O "vai passar" é menos mentiroso, afinal, tudo passa, mas é uma tentativa de não sentir o presente e se apegar a uma esperança de um futuro sem dor. Mas quem garante?

Agora ao invés da criança que cai é o adulto que leva um pé na bunda, da paixão ou do chefe... e aí, não foi nada? Já passou?

Eu poderia citar inúmeros exemplos de situações onde fomos ensinados a não sentir, ou de situações onde praticamos conosco o não sentir, mas acho que você já pegou o espírito da coisa...

E como gosto das coisas práticas e objetivas, proponho um exercício: comece a observar seus sentimentos. Geralmente é mais visível quando é uma situação de incômodo. Perceba esse incômodo chegando e antes mesmo de se perguntar por que está assim, ou tentar se convencer de que aquilo "não é nada e logo vai passar", ou ainda de se atropelar querendo impor como você deveria estar se sentindo, sinta. Afirme: "eu estou com raiva!". E sinta a raiva!

Sinta seu corpo durante esse episódio de raiva. Resista bravamente à tentação de procurar porquês (essa armadilha é muito presente pra mim, não sei com você). A questão é que não dá pra saber por que estou sentindo isso, antes mesmo de sentir! A mente se adianta e perde o foco. Não importa por que você está com raiva, só importa que está. Então sinta.

Serve pra raiva, tristeza, medo, ciúme, solidão, saudade, revolta... até pra dor física. Sinta a dor antes de correr pro analgésico. Ou de pensar no médico.

Observe sua mente. A minha fica muito inquieta, tipo "como assim isso está acontecendo e eu não vou fazer nada?!". Sossega mente...

O próximo passo é se aceitar, libertando-se dos ideais, que aparecem em frases como "Eu não deveria estar assim, eu deveria estar assado...". A dica é afirmar: "Eu estou com [raiva] e eu me amo e me aceito mesmo assim". No meu caso tem acontecido um pouco diferente: "eu estou com raiva. Por que estou com raiva?! Eu não deveria estar procurando porquês! Mas eu me amo e me aceito mesmo assim". Experimente. Sem julgamentos. Essa é uma prática de amor incondicional. Amor por você mesmo, que é requisito pra amar qualquer outro ser - ou coisa, vai saber...

Feito esse simples exercício - afirmar o que está sentindo e afirmar a autoaceitação - abra-se pro inesperado. Eu não sei o que vem depois, e nem você sabe. Não tem como saber.

Mas tem como sentir... só que sentir, ao contrário da ilusão do saber, não se antecipa. Sentir é agora. E só.



PS - esse texto e o anterior (Confiar) relatam experiências que me foram inspiradas por uma musa. Ah, eu tenho uma musa! Se é que é possível ter uma musa. Talvez seja mais adequado dizer que fui/estou sendo abençoada pela presença de uma musa... presença com forte influência no que tenho vivido e tudo que escrevo, como sempre, é fruto do que vivo. Tudo o que aconselho estou na verdade dizendo pra mim mesma e praticando eu mesma... mas por outro lado não consigo deixar que você ache que tudo isso simplesmente saiu da minha cabecinha... por mais que isso não tenha a menor importância!


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Confiar

Foi numa sessão de acupuntura que tive uma clareza do que é confiar.

Eu confio em você porque confio em mim. A confiança que tenho na minha capacidade de escolha me deixa segura para confiar nas suas escolhas que me envolvem. A confiança que tenho na forma como lido com os encontros e desencontros me tranquiliza quanto a possíveis "erros". Confio ainda no fato de que só atraímos o que precisamos - e procuro manter minha presença para não vir a precisar de tombos e machucados e sofrimentos diversos. A gente aprende sim no sofrimento, mas esse não é o único método e nem o mais eficiente...

E foi com todo esse sentimento que entreguei meu corpo ao terapeuta. Em alguns momentos ele me pedia permissão pra fazer isso ou aquilo e eu simplesmente consentia. Eu não tinha vontade nenhuma de perguntar o porquê disso ou o porquê daquilo, e sei que essa vontade não vinha porque os porquês não eram necessários. A escolha já havia sido feita.

Sinto bem parecido no que diz respeito ao meu relacionamento conjugal. As escolhas podem ser revistas, mas não existe "em cima do muro". Se estamos, estamos, a escolha foi feita e a confiança é consequência natural. Mas note: não existe lugar para "você traiu minha confiança". O que pode vir a existir é algo mais parecido com "eu me enganei nas minhas ilusões" ou "lamento ter que aprender isso dessa forma". Ok, o capítulo matrimonial merece um texto só pra ele!

Por outro lado, não tenho nem um pouco dessa entrega quando vou a um pronto socorro. Não vou deixar o médico aplicar uma injeção em mim ou no meu filho antes de saber exatamente o que se passa. E se precisar de auxílio especializado será de um médico da minha confiança; será de um médico que eu escolhi.

Sei que muitas vezes a própria situação nos deixa com poucas escolhas, e é pra evitar esses momentos que é importante cultivar a presença.

Esse tema da escolha é, na verdade, um outro capítulo. Chegarei lá!


domingo, 30 de agosto de 2015

A vida é a arte do encontro...

... embora haja tanto desencontro pela vida

Essa semana um desencontro me tirou do eixo

Ou me colocou nele... eu achava que estava no meu eixo, mas tava nada

Ou eu acho que existe um eixo, mas existe nada

Fiquei só e triste na tentativa de achar esse eixo


É melhor ser alegre que ser triste
(...) mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza


Por que a gente é ensinado que a tristeza não é boa?

Será que as crianças que estão assistindo DivertidaMente terão mais chances de incluir a tristeza em suas vidas? Reconhecer o papel da tristeza? Mas...


A tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não


Ontem, arrumando armários, me encontrei com diversos momentos do meu passado

Cartas, bilhetes, fotos, desenhos

E de repente me senti acompanhada e amada. Pelo meu passado. Mas ok. Passado que volta é presente...

Hoje quatro encontros - presenciais, pessoais, atuais e reais - me trouxeram boas doses de alegria de volta. Encontro marcado com antecedência, encontro marcado de última hora, encontro por acaso num lugar óbvio e encontro muito por acaso, daqueles no meio da rua, no qual um minuto de diferença e não teria acontecido.

A vida é a arte do encontro!

O que me faz lembrar que antes do tal desencontro, a semana começou com um lindo encontro, onde me foi trazido um tripé a ser cuidado: minha relação comigo mesma; minha relação com as pessoas que me cercam; e minha relação com o ambiente à minha volta. No decorrer da atividade percebi que estava descuidando da minha relação com as pessoas, uma coisa meio "egotrip", que atribuo a um desbalanceio da minha vontade de me re-encontrar enquanto ser individual após um longo puerpério. Depois de uns dois anos e meio sendo "nós" - eu e o Joaquim - cadê eu?! Fui então me procurar, fui me encontrar, fui gostando e desgostando do que via, mas ali envolvida cada vez mais nesse caminho. E quando me dei conta era só eu comigo e eu com o ambiente (a sensação que tive é que as pessoas simplesmente faziam parte do ambiente e não mereceriam atenção especial enquanto pessoas... tipo aquela linha de pensamento que acha que o ser humano é só mais um bicho em meio à natureza e deveria se comportar como tal... sabemos que não é bem assim...).

Eis que no dia seguinte, numa dessas bobagens de facebook me deparo com um brincadeira desconcertante: como cada signo ligaria dois pontos em uma folha.

E lá estava o álibi da minha egotrip:


Aí veio o tal desencontro e com ele o amargo de ser um pontinho solitário em seu mundo.

Bem, voltamos pro começo da história.

E a semana acabou com mais esse encontro, com Vinícius, me lembrando que a vida é a arte do encontro, que é melhor ser alegre que ser triste, que pra fazer {uma vida} - licença poética! com beleza é preciso um bocado de tristeza e que a tristeza tem sempre a esperança de um dia não ser mais triste não.

Saravá!


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

de médico e louco...

Fui a uma cartomante em busca da cura. Ela me sugeriu discretamente que procurasse um médico...

Agora, imagine-se de frente pro seu distinto doutor, ávido pelo diagnóstico, e ele sugerindo nas entrelinhas, mas de forma irrefutavelmente clara, que você deveria se consultar com um pai de santo.

O que você faria?! Mudaria de médico, imagino. E ainda diria pra todo mundo que aquele médico é louco.

Tenho entendido que a vida não é assim tão preto no branco. Tem muitos (MUITOS) tons de cinza - e de branco (!) - entre os extremos (e atenção, não estou fazendo nenhuma alusão e um famoso livro, que faço questão de deixar claro como o branco que não li!).

Admito que fui procurar outra bruxa... e reconheço que não fui procurar o médico que a anterior sugeriu. Mas decidi manter meu tratamento ortodoxo, cujo qual já estava no descrédito e quase que abandonado.

As bruxas e os médicos não vem ao caso. Nem o alvo da minha cura.

Eu só queria compartilhar mais esse momento da minha vida onde as nuances se fazem presentes. Onde as crenças se abalam. Onde algumas estruturas estremecem. Onde me vejo impelida a olhar sob outros ângulos e de repente percebo que no degradé entre o preto e o branco pode existir inclusive um arco-íris!

A cartomante na verdade ganhou ainda mais credibilidade comigo! Porque a impressão que eu tenho é que muitos profissionais (e aqui estou falando amplamente, de todas as profissões) se veem na obrigação de resolver o problema, quando na verdade deveriam apenas encaminhar a questão pra quem realmente entende do assunto, ou tem ferramentas pra lidar com ele.

E com isso vem mais uma constatação: pra fazer bem o seu trabalho não basta saber bem o seu ofício. É preciso saber também dos ofícios dos outros. É preciso conhecer as fronteiras e passear vez ou outra pelos lados de lá. Não pra fazer o trabalho do outro, mas pra saber o que ele faz e ter o repertório de que alguém faz isso. E pra reconhecer que cada um é bom no que faz. E que não precisamos (nem devemos!) nos atrever a fazer tudo. Só precisamos conhecer o menu...


sexta-feira, 17 de julho de 2015

É sempre bom lembrar...

... que um copo vazio está cheio de ar, como disse Gil.

Aliás, a música veio depois da minha ideia pro título desse texto. E como não costumo desperdiçar nada, fui lá relembrar a letra. Não é que cai certinho com a minha reflexão?! Reflexão que tem tudo a ver com o vídeo Vida Real, do Porta dos Fundos, diga-se de passagem. Que eu amo, diga-se de passagem.


Mas a história é a seguinte, ouça um bom conselho que eu te dou de graça:


É sempre bom lembrar que aquele prato LINDO da foto com legenda "eu que fiz"
é resultado de muitas tentativas fracassadas, ou no mínimo de um dia muito bem inspirado, bons ingredientes e uma luz favorável.

É sempre bom lembrar que aquele CORPÃO da modelo, da atriz, da atleta, é resultado de uma dedicação profissional e por isso entenda-se disciplina, personal trainer, nutricionista, cozinheira e certamente lágrimas e dores. E muitos, muitos cosméticos. Caros, muito caros. E algumas cirurgias, com certeza (o Photoshop vou citar no final, porque ele serve pra todos os itens!).

É sempre bom lembrar que aquela foto da VIAGEM dos sonhos é um pequeno fragmento de uma vida que inclui decepções amorosas, desgostos profissionais, conta bancária negativa. Sim, inclui, acredite. Mesmo quem viaja é gente como a gente.

É sempre bom lembrar que as declarações de amor ao FILHOTE como legenda de uma foto fofa de uma criança fofa são partes integrantes de uma relação que inclui raiva, que inclui gritos, que inclui culpa, que inclui arrependimento - ou é só comigo, gente?! Amor incondicional não serve de legenda só pra fotos fofas. Serve de legenda pra stress e cansaço também...

É sempre bom lembrar que existe PHOTOSHOP pros profissionais e filtros do Instagram pros amadores.

É sempre bom lembrar que a vida on line SEMPRE vai parecer mais linda, mais feliz, mais saudável, mais colorida e mais brilhante do que a vida off line, essa vida fora da linha que a gente leva, que todo mundo leva. E mesmo assim nos pegamos pensando "por que só eu sou assim?". E tem mais: quem que traçou o raio dessa linha? Inalcançável, inatingível, sempre deixando a gente de fora... Ô menina, vai ver nesse Almanaque como é que isso tudo começou!


Copo vazio

Gilberto Gil

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Quando mostramos só a metade alegre, deixamos o mundo com uma falsa imagem alegre. Quando mostramos só a metade alegria não acontece a magia da verdade inteira.

Não, não estou fazendo campanha para que mostremos nossas mazelas em rede social. Prefiro continuar vendo gente bonita e bem sucedida. Mas não custa avisar... é sempre bom lembrar... que o mundo acontece, de fato, do outro lado da tela. Pra TODOMUNDO. É sempre bom lembrar que quanto mais tempo ficamos vendo as metades-alegria, mais perdemos as metades-tristeza que estão do nosso lado, ali, fora da tela. E é só quando juntamos essas metades que acontece o todo poderoso amor.

O curioso é que no nível das pessoas tenho a impressão de que só se vê metades-alegria e no nível do mundo só se vê as metades-tristeza. Que tal começar a ver como pessoas também podem ser tristes, raivosas e fracassadas? Vamos lidar com isso? A boa notícia é que podemos fazer o exercício de começar a ver que o mundo também pode ser um lugar bonito, limpo e seguro. Que tal procurar a magia da verdade inteira?


* como sempre, esse texto é pra mim. Não estou dizendo, estou ouvindo... mas obrigada pela companhia! *






segunda-feira, 15 de junho de 2015

A primeira troca!!!

Depois de umas duas semanas (!) de desencontros, finalmente consegui fazer a troca com a Betina, que havia me encomendado um par de botinhas pro seu príncipe, anjo, elfo Micael.

Acabei de chegar em casa e estou maravilhada com os presentes que recebi.

São de uma beleza, uma delicadeza, uma poesia...

Mas vamos à história, eu estava doida pra contar uma história!

Fora a parte dos desencontros pra entrega, a foi tudo muito simples. A Betina me pediu um par de botinhas e disse que pagaria. Na mesma hora lembrei de um trabalho lindo que ela faz, uns bonecos de lã, e propus a troca. Ela disse que tinha ficado horas pensando o que poderia fazer pra trocar, que tinha até esquecido desses bonecos! E assim foi.

A Betina não disse que cor nem que modelo queria a botinha. Eu também não perguntei...

Eu não disse que tipo de bonequinho queria. Ela também não perguntou...

Logo aprontamos e, apesar de morarmos na mesma cidade e ser uma cidade relativamente pequena, demoramos duas semanas pra conseguir nos encontrar!

Até que hoje, debaixo de uma linda garoa, com os carros parados na calçada - no meio do caminho, não era casa de uma nem casa de outra - trocamos lãs. Lãs trabalhadas por mãos habilidosas, mãos guiadas por cabeças astutas, cabeças conectadas com corações amorosos. De mãe pra mãe, de mãe pra filho.

E teve um toque lindo do Raphael, companheiro da Betina e pai do Micael, que trouxe adoráveis, cheirosas e deliciosas ervas direto da horta que cultiva.

Isso sim que é riqueza!



não foi a toa que mencionei que as cores não foram combinadas!

a troca com o toque do Rapha e sua Bem Dita Terra


terça-feira, 9 de junho de 2015

Escreve-se

Tenho feito uma experiência em economia criativa (rá, descobri que tem nome!), oferecendo artigos de crochê feitos por mim em troca de outros produtos, serviços ou dinheiro, mas sem medida fixa, negociando caso a caso. Essa história está aqui e prometi voltar pra contar o desenrolar, o que começo a fazer agora.

Pois bem, a primeira coisa que aprendi é que ampliar as possibilidades de pagamento também amplia as possibilidades de receber riqueza e abundância. Isso pode parecer meio óbvio, isso já está descrito por economistas das mais renomadas universidades (descobri hoje lendo esse texto mais do que inspirador), mas quando a gente descobre por si, sentindo na pele, é outra coisa! (professores, lembrem-se disso...).

Quando propus o sistema de troca livre (hum, parece que temos um nome...) vieram retornos que, se valorados monetariamente, seriam extremamente altos pra um "simples gorro de crochê", mas que por outro lado custaram muito pouco pra quem "pagou". Hum... o que está sobrando nessa conta? Está sobrando que não é um simples gorro de crochê e não é uma simples venda. É uma troca de cuidados, de afeto, de confiança... e isso, sorry, não há dinheiro que pague!

Aconteceu - ou melhor, está para acontecer - uma troca por dinheiro também. E foi muito difícil chegar a um valor. Cheguei, propus, a pessoa topou. Estou satisfeita com o valor (estou mesmo, juro!), mas a primeira sensação é de que aquele dinheiro é muito pouco. O que eu compro com isso?! Meu marido veio me perguntar, meio brincando, o que nós vamos fazer com aquele dinheiro. Não vou contar quanto é porque a troca ainda não se deu (supersticiosa, eu?!), mas posso dizer que está na casa dos três dígitos... e meu amado marido empresário negocia volumes na casa dos SEIS dígitos. Por causa disso, inclusive, que posso me dar ao luxo de brincar de economia criativa... que bom né?!

[pessoa querida que vai me pagar três dígitos no gorro, fique tranquila. Espero que você tenha entendido que tudo isso é um grande experimento e que cada caso importa MUITO pra mim. Desde o começo estou disposta a receber o que vier - mesmo - e meu carinho e dedicação pra fazer cada peça só aumentam! Sou muito, muito grata a cada um que topa entrar nessa aventura comigo!]

A segunda coisa que me veio à mente foi uma vontade de prospectar pessoas interessantes para trocar. Pessoas que tenham habilidades que eu gostaria de usufruir, mas que não posso pagar por elas (se você tinha se impressionado com os seis dígitos citados acima, saiba que o volume é grande, mas as cabeças são muitas... e no fim, é dinheiro).

E ao pensar nessas pessoas-alvo constatei que preciso ampliar meu leque de habilidades a oferecer, porque nem todo mundo gosta-quer-precisa de um gorro ou sapatinho de crochê, e nem dou conta de fazer... o trabalho é leeeeeeento...

Permeando tudo isso fica aquela sombra do tabu que é falar sobre dinheiro. Quanto eu ganho, quanto eu gasto, como eu gasto. Admito que eu tenho muita dificuldade em abrir essas coisas (percebeu, né? Mas to me esforçando), admito que eu tenho uma certa vergonha ou sentimento de culpa por ter uma renda bem acima da renda per capita brasileira, admito que eu vejo com olhos julgadores pessoas muito ricas ou esbanjadoras ou que gastam em coisas fúteis (tudo julgando, claro... "muito rica", "esbanjadora", "fútil"... tudo preconceito. To melhorando, juro que to).

E pra fechar essa primeira parte do relato da minha experiência em economia criativa (adorei o nome, porque de fato me identifico com ele. Estou criando pra caramba nessa história!), resolvi abrir mais uma página do meu leque de talentos: a escrita!

Portanto, senhoras e senhores, coloco na roda minha habilidade com as palavras.

De carta de amor a relatório empresarial.

Começando do zero ou só pra dar aquela revisada.

Leio, palpito, escrevo.


Meu currículo são meus blogs (se quiser tem minha dissertação de mestrado também, rs...):
- Aralume, este que vos fala, meu primogênito, com 242 textos dos mais variados temas, no ar desde 2008
- O Filho do Aralume é filho do meu filho, mas não é meu neto! Lá escrevo só sobre questões ligas à maternidade/paternidade, desde a vontade de ter ou não filhos, gravidez, parto, amamentação, introdução alimentar, educação, crises... no ar desde 2011, já tem 127 textos.
- Grandes Expedições para Pequenos Viajantes é o caçula, nascido em 2013 com a ideia de registrar nossas viagens com o Joaquim e também viagens de amigos com crianças (isso ainda não rolou, mas fica a dica). Por enquanto só tem 8 textos, mas todos recheados de fotos deliciosas e dicas espertas. Escrever sobre viagens sempre foi um sonho, uma forma de juntar o agradável ao mais agradável ainda... fica a dica#2

Se ficou curioso com a dissertação, vai lá na Biblioteca Digital da USP e baixa o PDF. Estudei métodos quantitativos aplicados para ciências florestais. Pode não parecer a coisa mais atraente do mundo, mas os agradecimentos, a biografia da autora e a epígrafe são bem divertidos.

Escrevi também uns artigos pra Revista Viverde. O primeiro fala sobre Agricultura orgânica, depois assinei uma matéria especial sobre o Cerrado e teve mais algumas, mas logo veio a época em que fui deixando a engenharia florestal de lado e deu vontade de escrever sobre outras coisas...

E tem um desafio recente, meio que abrindo a porta pra essa minha ideia, que foi escrever sob encomenda o texto do site de uma empresa de comunicação e design, a Idée.


Então vamos lá. Quer ou precisa de uma ajuda com as palavras? Faça sua oferta!


domingo, 24 de maio de 2015

Botinhas e gorros de crochê

Criança quieta tá aprontando; artesã que não posta no Facebook tá trabalhando!

Estou aqui finalizando minha primeira encomenda - que emoção! - e pra descansar as mãos resolvi escrever um pouco, contar como tem sido a experiência e atualizar minha forma de trabalhar, que como toda inovação precisa de ajustes constantes.

Como tirei do ar as postagens anteriores (já mudou tanta coisa!), vou fazer um apanhado geral pra quem está chegando agora. E se você já conhece a história, acompanhe as mudanças.

Era uma vez uma mãe que aprendeu a fazer crochê. Foi tão divertido, fez tão bem pra minha autoestima (querer, fazer, conseguir, achar bonito, receber elogios...), alimentou minha criatividade e aqui estou eu recebendo encomendas! A parte da criatividade fica por conta da estrutura do "negócio" (não sou eu que crio as peças... sigo as receitas e brinco com as cores, não vai além). E acho que minha criatividade é mais por aí mesmo. Não sou uma designer de moda, de crochê, sou uma designer de ideias! Essa descoberta também tem sido fantástica!

Então vamos lá: minha ideia inicial foi propor uma sistema de troca bem amplo. A troca poderia ser por outro produto, por algum serviço ou por dinheiro mesmo. A medida dessa troca seria estabelecida pela pessoa que faz a encomenda, tendo como ponto de partida o tempo que eu levo pra fazer a peça e quanto eu gasto de material. À partir dessas informações - uso quatro horas do meu tempo e preciso de R$ 20,00 pra comprar o material, por exemplo - a pessoa poderia fazer uma análise de quanto vale o tempo dela - quanto ela ganha em quatro horas - e me fazer uma proposta de troca. Sugeri que ela me pagasse o mesmo que ganha... mas fiquei aberta a todo tipo de negociação.

Agora vou contar como foi a "repercussão". Depois que postei as primeiras fotos e disse que estava aceitando encomendas recebi em torno de 12 pedidos informais (aquele "eu quero!" nos comentários). Pedi pra cada uma dessas pessoas que lesse o texto que eu escrevi explicando como funcionavam as encomendas.

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[silêêêêêncio]

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UMA amiga prosseguiu na negociação, mas isso só depois que eu expliquei pessoalmente qual era a minha ideia. E as outras onze?

Peguei aquele silêncio que recebi e conversei com ele. Ele me disse que as pessoas não estavam entendendo minha proposta. Tentei explicar de novo, escrevendo outra postagem, e não foi suficiente. Continuei conversando com o silêncio e ele me falou pra ser mais direta, mais clara.

Comecei então a entrar em contato individualmente com cada uma das pessoas que manifestou interesse e recebi retornos muito bacanas.

Com uma delas, que me mandou uma mensagem encomendando um gorro, pedi pra ler o texto, mas fui prosseguindo na parte mais prática, escolha de lãs e cores. Comprei a lã, comecei a fazer e lá pelas tantas perguntei se ela tinha entendido a forma de pagamento. Ela me confessou que ainda não tinha lido! Leu na hora e me mandou uma proposta LINDA, quase chorei (vou contar o resultado depois de tudo realizado, ok?).

Conclusão 1: nem todo mundo tem a disponibilidade de ler um manual de instruções... mas quando a gente dá uma ajuda, adianta o assunto, cria uma conversa mais pessoal, as coisas se resolvem.

Com outra, que tinha encomendado um gorro e uma botinha, entrei em contato mandando uma proposta de troca, não completamente fechada, mas percebi que seria bom dar um ponto de partida mais concreto. Ela me disse que tinha lido o texto, mas não tinha me retornado porque achou que o que ela tinha a oferecer não me interessaria, não seria justo, era pouco. Prosseguimos na conversa, a encomenda foi feita, estou providenciando o material e logo conto tudo!

Conclusão 2: eu achei que tinha ficado claro que eu estava disposta a receber qualquer tipo de proposta, que eu estava disposta a negociar e que a negociação convergindo ou não para a concretização da troca, não abalaria a nossa amizade. Eu achei que tinha ficado claro que estou fazendo uma experiência e que estou aberta a todas as possibilidades. Mas quando se trata de dinheiro, trabalho e amizade as coisas não são bem assim... precisa de uma conversa mais pessoal, precisa confirmar os "achismos", aí sim as coisas se resolvem.

Tem mais quatro que eu propus as trocas. Três toparam na hora, uma está mais vagarosa.

Se você fez as contas viu que tem mais umas cinco "em aberto". Talvez você esteja tentando se encaixar em algumas dessas histórias - será que essa sou eu?!

Fique tranquila. Estou dando esses retornos aos poucos, porque não adianta fechar um monte de encomenda de uma vez. Meu tempo pra fazer as peças é um tanto quanto lento pra essa nossa vida instantânea. Não quero criar expectativas que se demorarão a realizar.

Mas isso não impede que você. sendo uma dessas pessoas anonimamente citadas ou não, venha falar comigo, mande sua proposta, suas dúvidas, suas curiosidades. Não fique com medo de furar a fila, pode deixar que disso cuido eu.

Apenas recapitulando, pra ajudar quem esteja interessado:
1. Estou aberta a qualquer tipo de proposta
2. Isso não significa que eu vá aceitar a proposta, mas significa que eu vá negociar a proposta. Portanto, esteja aberto a negociações!
3. Se não conseguirmos chegar numa troca que seja boa para ambas as partes, não faremos a troca. E TUDO BEM! Fazendo ou não a troca tenho certeza que a negociação nos trará grandes indicadores dos pontos de nossas vidas que precisamos melhorar. Você encomenda um sapatinho e ganha inteiramente grátis uma sessão de autoconhecimento, rs...

Tem muita coisa boa acontecendo nessa história. E vai muito além de uma criança tchuqui-tchuqui usando mimos de lã!

Segue meu arremedo de portfólio pra ajudar nas encomendas:


Gorro da Floresta
Material = R$ 34,00
Tempo = 5 horas
Tamanhos: 1 ano, 2 a 3 anos (foto) e 4 a 6 anos

Gorro da Fada
Material = R$ 34,00
Tempo = 4 horas
Tamanhos: 1 ano, 2 a 3 anos e 4 a 6 anos (foto)

Gorro Inca
Material = R$ 34,00
Tempo = 4 horas
Tamanhos: 1 ano (foto), 2 a 3 anos e 4 a 6 anos

Botinha com Botão
Material = R$ 20,00
Tempo = 4 horas
Tamanhos: recém nascido a 4 anos (consultar para tamanhos maiores)


versão feminina da Botinha com Botão

Botinha Dobrada
Material = R$ 20,00
Tempo = 4 horas
Tamanhos: recém nascido a 4 anos (consultar para tamanhos maiores)

por enquanto não estou fazendo com sola de couro, por falta de material. Aceito ajuda pra conseguir!

Botinha Tricolor
Material = R$ 20,00
Tempo = 4 horas
Tamanhos: recém nascido a 4 anos (consultar para tamanhos maiores)


- nos três modelos de botinha a sola é dupla (duas camadas de lã, pra ficar mais quentinho) e com aplicação de tinta antiderrapante
- o material das botinhas é 100% lã e dos gorros é um fio composto por 70% acrílico e 30% lã (pra fazer 100% lã não fica tão macio. Existem lãs puras bem macias, mas são bem mais caras. Aí é só questão do quanto você pode pagar...)
- Tem pra adulto?! Fiz um teste com a bota e não dou conta. É MUUUUUITO trabalho e chega a ser insalubre pra fazer várias, porque precisa de fio duplo, fica pesado e dói a mão! Estou pra fazer um Gorro da Floresta e logo conto o resultado. O Gorro Inca já fiz, mas preciso fazer do novo pra quantificar tempo e material.




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Água e estratégias para tempos de crise

Sabe aquela coisa meio "palestra motivacional" de falar que crise = oportunidade? Goste ou não do ambiente autoajuda, do power point do empresário-bem-sucedido-feliz-e-realizado, dos discursos budistas que tentam te convencer de que o mundo é lindo e perfeito... não tem jeito, admita: é verdade!

Pra facilitar a compreensão vou até colocar meu terninho, fazer uma escova no cabelo, usar uma maquiagem discreta e montar um infográfico:

CRISE = necessidade de mudança
opção 1: não muda === fim do jogo, morreu, acabou, sorry
opção 2: muda pro primeiro lugar que aparece === ou você é um tremendo de um sortudo (não acredito em sorte...) ou a crise vai voltar...
opção 3: quer mudar, mas... pra onde???
??? = necessidade de reflexão
opção 1: não reflete, não muda, volte à casa anterior
opção 2: reflete, visualiza OPORTUNIDADES, muda! Muda com consciência
fim da crise
c.q.d.

Aí falam que a ÁGUA, símbolo da vida, possibilitadora da vida, elemento que compõe nossos corpos e nosso planeta, está em crise.

Quem encara a crise corre buscar baldes e bacias. Quem não encara continua lavando calçada. E carro.

Mas dentre aqueles que encaram a crise perceba que existem dois caminhos: o da "opção 2", que vai logo pro primeiro abrigo que encontra, e acha que está tudo resolvido. E o caminho da "opção 3", que analisa com mais cautela, que aprofunda e amplia as margens da crise. Adivinha por qual caminho foi quem saiu correndo buscar baldes e bacias?

Eu sei, eu fui. Mas não demorou muito, embora já estivesse com os braços cansados e água respingada por toda a casa, para que tropeçasse na célebre pergunta: PRA QUE você está fazendo isso?!

Em primeiro lugar: o racionamento de água em nível doméstico é uma piada. Uma piada de muito mal gosto, mas uma piada. Então quer dizer que "eles" desperdiçam 30% da água TRATADA e eu tenho que tomar banho na bacia?! Então quer dizer que indústrias e agropecuária continuam como sempre estiveram e EU tenho que atrasar meu almoço pra ficar procurando plantinha pra regar com a água que sobra na pia?! Então quer dizer que a vizinha que lava carro e calçada continua lavando carro e calçada enquanto EU fico com a casa parecendo um abrigo de refugiados, cheia de balde com água malcheirosa pra usar sabe-se lá quando?!

Então quer dizer que "eles" f*dem com tudo fazendo uma gestão porca e EU tenho que deixar de lavar meu carro e minha calçada?! (ok, nem tenho calçada e não ligo pra carro lavado mesmo, mas, enfim...).

O fato é que, racione água ou não, quando o bicho pega não interessa quem poupou e quem esbanjou. Se tem corte de água no seu bairro não adianta dizer "mas olha, eu tomei banho em bacia o mês todo!".

E aí? Vai continuar usando a água como sempre usou?

Da mesma forma que fico com dó de quem está economizando gotinhas e se achando herói, fico com asco de quem fala que "o que precisa é acabar com essa corrupção que domina o país", mas continua agindo da mesma forma.

Voltando ao nosso Flip Chart lá do começo, quem fica no blábláblá de achar que "a culpa é dos políticos", não está encarando a crise. E não venha me falar que faz a sua parte divulgando manifestações pró-impeachment. Também não dá pra achar que "votando com consciência" a lição de casa está feita e entregue. Desafio qualquer um que tenha esse discurso a me apresentar ações reais e palpáveis que esteja fazendo pra me provar que não está apenas no blábláblá.

Por outro lado, quem simplesmente economiza e raciona água em nível doméstico, de forma amadora, com baldes, bacias e até tambores de 200 litros, está naquele caminho de achar que está encarando a crise, comprando a primeira passagem-pra-não-sei-onde que lhe vendem.

Se você está em alguma dessas situações que citei, quero te convidar pra vir pelo outro caminho, o caminho do "quero mudar, mas... PRA ONDE???".

Vou esboçar agora algumas das minhas reflexões sobre o tema. Não as confunda com o caminho em si. O caminho é a dúvida, o caminho são as interrogações e exclamações. O que surgir delas é bem vindo, ajuda a continuar o caminho, à medida que gera mais interrogações e exclamações, mas não representa "a salvação". Não desviemos do caminho!

Pois bem, pros que racionam água em nível doméstico: vamos nos profissionalizar! Vamos racionar água sim, mas PRA NÓS, não pra "eles". Vamos instalar sistemas de captação da água da chuva, vamos fazer cisternas, vamos ter caixas d´água com tamanhos de gente grande. Aí sim justifica tomar banho na bacia. Ou você pode até se surpreender com o volume de água captado e se esbaldar numa chuveirada loooooonga (verão = chove mais = tomamos mais banhos; inverno = chove menos = tomamos menos banhos, ou banhos menores).

Vamos nos apropriar da água, vamos conhecer a água, vamos conhecer as chuvas, Todo mundo tira sarro da criança da cidade que acha que o leite vem da caixinha. E você, que acha que a água vem da torneira?! Ah, não, agora você sabe que a água vem do Sistema Cantareira e que ele está criticamente seco, então você precisa racionar água. Está na hora de conhecer a vaca... e cuidar da vaca... mas não venha me falar, pelamordedeus, que "a culpa da falta de água é o desmatamento da Amazônia". Pode até ser, mas papagaiar isso não ajuda em nada! Antes de falar mal do quintal do vizinho, que tal cuidar do nosso?

Em todo caso, ter um mínimo de autonomia com relação à água é questão de sobrevivência. Ponto.

E conhecendo e gerindo a própria água é inevitável que você queira economizá-la. Aí se você tem tempo (e saco) de ficar manejando baldes e bacias, ok, mas o investimento financeiro pra fazer instalações decentes pra reuso de água pode começar a fazer parte do planejamento do seu orçamento doméstico...

Custa dinheiro, sei que custa. Mas o uso do dinheiro é questão de estabelecer prioridades. Vai priorizar a água, ou vai continuar esperando que "eles" façam alguma coisa?!

E não pense que para por aí. Até agora falei de ações práticas, litros, metros cúbicos, reais e centavos, mas tem a necessidade de repensar a nossa relação com a água. Precisamos nos conectar com a essência divina da água (se você acredita em Deus, deuses e cia imagino que não seja difícil; se você é um cético ou ateu, basta pensar que a água é a geradora da vida, a possibilitadora da vida. Isso não é misticismo, é fato). Pois bem, como você tem se relacionado com a Água?

Com que reverência você toma seu banho? Banho pra mim é sagrado. E não toque no meu banho! (até tentei tomar banho em bacia, mas me senti extremamente mal e continuo tomando meu banho como sempre tomei: sem pressa e sem preocupações. Eu PRECISO disso). No banho me limpo e me perfumo e pratico uma imensa gratidão para com a Água. É lindo.

Por outro lado, qual o sentimento de fazer xixi e cocô na água? Simbolicamente é um paradoxo. O cúmulo do excremento no cúmulo da divindade (água e sol pra mim ocupam o cúmulo da divindade). Vou te deixar com esse abacaxi na mão...

Então começamos a prestar atenção em todos os momentos que a Água está presente em nossa vida. Limpeza, limpeza, limpeza... que tal chamar de purificação? Serve também pro banho! Roupa, chão, utensílios... passo a usar a água com reverência, com gratidão, com consciência, ora economizando gotas, ora esbanjando baldadas generosas no chão da varanda, tranquilamente, pois aquela água está sendo usada pela segunda ou terceira vez, honrando sua nobreza. Pra certos rituais de purificação basta uma borrifada, mas pra outros precisa de baldadas mesmo...

Deu sede, bebo Água. Fresca, do filtro de barro. Existe maior sensação de prazer do que banhar a boca sedenta com uma água fresca?!

Deu fome, vou cozinhar. Mais Água, Água, Água. Mais gratidão, mais reverência, mais consciência.

Seguimos caminhando. E parando pra beber Água. E parando pra tomar banho. E quando chegarmos poderemos lavar as roupas e a casa, que estarão bastante empoeiradas, as primeiras, da estrada um tanto quanto árida, a segunda, pela longa espera...


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

É preciso repensar - e refazer - os rumos da educação

Hoje encontrei com um antigo professor. Ele lecionava português e literatura no meu então colegial, agora chamado de Ensino Médio. Lá se vão... peraí, deixa fazer as contas... dezoito?! Caramba, dezoito anos!!! Perguntei se ele continua dando aula e ele falou que passou por um momento muito difícil, uma crise de stress, se readaptou (quando o professor da rede pública deixa de trabalhar em sala de aula e assume outras funções na escola. Adivinha por que? Porque está a ponto de se matar ou matar um...) e agora está na Sala de Leitura. Era um dos meus professores favoritos e se hoje gosto tanto de ler e de escrever certamente ele tem influência! Espero que continue influenciando jovens e crianças no gosto pelas letras, mas precisava ter passado por uma crise tão séria (não sei detalhes, mas não se entra num processo de readaptação por bobagem...).

Apesar de ter um caso exatamente como esse ao meu lado (logo explico), foi falando com esse professor que me caiu a ficha: precisamos mudar a educação, não apenas pelas crianças, mas também pelos professores!

Tenho um filho que logo começará a frequentar a escola. Logo mesmo, fim do mês. E tenho estudado sobre sistemas e métodos pedagógicos, tenho conversado com outras mães e o que vejo me faz sentir muito forte que a escola, do jeito que está, é extremamente nociva ao desenvolvimento humano. Sim, chocante, alarmante, triste. Mas eu só enxergava isso pelo lado do aluno. Agora veio a pancada: pelo lado do professor a coisa não é menos nociva ou chocante.

Quantos talentos, mestres brilhantes, com carisma para motivar, para encantar, para conduzir com respeito; quantos desses professores não estão sendo esmagados pelo sistema de ensino? Jovens sonhadores e cheios de energia pra fazer a diferença que vão sendo transformados em adultos amargurados, cansados de tantas decepções, até que desistem, saem de cena, frustrados. Todos perdem. Não é um final digno pra um ofício tão nobre!

Vou contar um pouco da história de alguns admiráveis professores que conheço bem de perto:
- Minha mãe foi professora da rede pública. Lecionava educação artística e tenho certeza que fez diferença na vida de seus alunos, trazendo beleza e cultura praqueles alunos de periferia, que não veriam aquelas coisas na televisão e que provavelmente não teriam aquela oportunidade de expressão em casa... Se aposentou antes do tempo, não aguentava mais.
- Meu pai tentou ser professor, mas não é do tipo que aceita facilmente as regras, viu que não ia dar certo e foi dar aula pra cachorro (é sério! Virou adestrador de cães e paralelamente escreve suas poesias, peças, músicas...).
- Meu padrasto é professor, agora readaptado. Lecionava educação física e ia muito além da bola. Tenho certeza que fez muita diferença na vida de seus alunos também, trazendo disciplina, determinação, saúde. Mas foi esmagado pela sala de aula.
- Minha tia, irmã da minha mãe, foi professora primária. Lecionou por muitos e muitos anos em escolas rurais e enfrentava coisas que você nem sonha pra ensinar o alfabeto praquelas crianças. Teve que se afastar da sala de aula porque fez um câncer, mas, guerreira que é, vive às voltas com o ambiente escolar e voltou pra sala de aula no ano passado. É contadora de histórias e estimula a leitura nessa garotada que só quer saber de tela. Mas precisava ter sofrido tanto?!
- Minha prima, filha dessa tia, também é professora primária. Optou por trabalhar em uma escola particular antes que fosse esmagada pela rede pública...
- Minha irmã é professora de inglês para crianças em uma escola particular. Parece estar feliz com o ofício, mas atribui em grande parte essa satisfação à escola onde trabalha e à forma como os professores são tratados lá.
- Minha cunhada teve uma experiência-relâmpago em sala de aula e foi extremamente traumática. Assim como meu pai, viu logo que aquilo não ia dar em boa coisa...

Fora os exemplos na família tenho conhecido pessoas da minha geração que foram ser professores, com o nobre propósito de melhorar o mundo, e que estão voltando atrás, apavorados.

E agora quem se apavora sou eu: não podemos perder esses talentos! O mundo precisa MUITO de bons professores, de educadores. A nova geração precisa MUITO de bons exemplos, de pessoas que os encantem, de pessoas que saibam apresentar o mundo, mas que também os deixem descobrí-lo por seus próprios olhos. No fim do ano passado conheci uma pessoa assim e que está conseguindo trabalhar assim, dentro de uma proposta totalmente nova, fora da escola. Não parece fácil, mas parece motivador.

E por falar em "fora da escola", conheço pouco da desescolarização, mas não sei se a saída é extinguir a escola. Precisa sim de um terremoto, precisa por tudo abaixo (talvez aí a desescolarização tenha um papel crucial), mas precisa ser reconstruída. Com novas bases, com novos prumos. Com novas formas e novas funções. Talvez até com outro nome... ok, chega de escola, rs...

Mas a certeza é que não há tempo a perder! Não quero deixar essa lição de casa pro meu filho. Não quero esperar mais dezoito anos pra ver onde isso vai dar...


domingo, 4 de janeiro de 2015

2015, o Ano da Casa

Não, não é horóscopo (pra quem quiser saber, 2015 pelo horóscopo chinês é o ano do carneiro, mas nem sei o que isso quer dizer).

O que importa é que 2015 é o ano da minha casa. É o ano da nossa casa. Nossa, a princípio, minha, do PC, do Joaquim, do Pajé e da Nina, mas quero que seja sua também! Explico: esse ano construiremos nossa casa. O projeto está em andamento e está ficando supimpa. Depois vem a etapa burocrática, aprovar na Prefeitura, essas coisas. Aí começa a terraplanagem (mínima, embora o terreno seja uma ribanceira!). Depois vem a estrutura (metálica, pra simplificar). Aí aquela coisa toda de piso, parede, teto. Depois a parte mais divertida: louças, metais, azulejos, portas, janelas, tinta, muita tinta! Ih, tem chão... depois, a parte-mais-que-divertida de colocar os móveis, as cortininhas, os tapetinhos e tapetões, estender a colcha na cama, rechear os armários e prateleiras com xodós antigos e novas paixões. A primeira noite na casa nova, a primeira festa pros amigos, os primeiros hóspedes... Aí já será 2016, mas tudo bem, com a esperança de chegar a gente curte o caminho.

E por falar em chegar e caminho, em festa e em hóspedes, é justamente por isso que escrevo: quero que você nos visite esse ano! Estaremos (precisaremos estar) focados no nosso grande projeto. Precisaremos economizar dinheiro, precisaremos economizar energia, precisaremos ser monotemáticos. Isso quer dizer, logo de cara, menos viagem... e você me conhece, sabe que sou movida a viagens! As grandes e as pequenas, as que precisam de guia e as que conheço de cor o caminho. Então, por favor, heeeeeelp!!!

Fazer essa casa será uma grande viagem, estou animada, mas preciso dos amigos, preciso/precisamos de companhia. Topa?! Em todas as mensagens de ano novo que troquei com amigos havia o desejo mútuo de que em 2015 a gente se encontrasse mais. Depende de nós! Façamos o nosso ano novo. Cuidemos de realizar nossos desejos!!!

Esse ano tem 179 mil feriados, não faltarão oportunidades. Mas também não precisa de grandes feriados, estamos perto da maioria dos amigos. Uma horinha (com sorte) de São Paulo; uma horinha (com certeza) de Campinas; hora e meia de Itu; duas no máximo de Pira; Leme tá um pouco mais longe, mas não inviabiliza; Itamonte idem; Rio de Janeiro já precisa de um fim de semana... Belo Horizonte também; Ilhéus precisa de feriado, mas tem de sobra. Ah, sim: estamos perto dos principais aeroportos do país (ui!) e o traslado não é problema.

Venha pra um café. Venha pro jantar. Venha pra dormir. Venha pra passar o dia, a gente garante o almoço! Durante a semana a agenda é mais apertada, mas amigo sempre cabe.

E cabe com conforto. Aqui tem até casa de hóspedes! Tem lençol e toalhas macios, colchões honestos. Cobertores e chuveiro quente pras noites sempre fresquinhas da montanha. Travesseiro não é o nosso forte, mas tem pra quebrar um galho. Comida, bebida e música tem da melhor qualidade, mas contribuições são sempre bem vindas. Traga um instrumento, traga um vinho, traga uma iguaria. Ou não traga nada, simplesmente VENHA!

Venha ver o Joaquim, que continua cada dia mais lindo, mais gostoso, mais esperto, mais sapeca, mais conversadeiro. Cada dia diferente, aquele bebê já não existe mais, venha ver a nossa criança!

Venha dar pitacos no projeto, venha ajudar a construir uma parede de garrafas (?!), venha plantar uma árvore, um canteiro de flores, uma roça de milho ou mandioca.

Venha brincar com os cachorros, dar um passeio com eles.

Ou venha pra não fazer nada, mas VENHA!

Venha contar da sua vida, dizer por onde andou (adoro viajar nas viagens dos amigos!). Venha mostrar seus planos e projetos. Venha chorar as pitangas.

VENHA!

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O aparente desdém com o horóscopo chinês lá do começo não engana quem me conhece... adoro horóscopos, oráculos e coisas do tipo! Aí não aguentei o fui ver o que o Carneiro traz:

A influência do Carneiro trará mais proximidade com o lar e com a familia, fazendo com que as pessoas se importem mais com aqueles que estão perto.

Só espero que nos importemos também com quem está longe ;) se bem que em matéria de amor e amizade o que importa é estar perto do coração \o/

Aí eu continuo lendo e olha só:

A energia do ano é de ótimas ideias. Porém, será necessário ter determinação para colocá-las em prática, pois o Carneiro tem certa dificuldade para concretizar as coisas sozinho.

Bem, por enquanto é isso pessoal. Vamos cuidar da vida, que ela não está dentro do computador, nem do celular, nem do tablet...