sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pé quente, cabeça fria

Incluindo a alegria dos Doces Bárbaros o Aralume deixa seu recado pra inspirar as famigeradas metas de início de ano:

Pé quente, cabeça fria, dou-lhe uma
Pé quente, cabeça fria, dou-lhe duas
Pé quente, cabeça fria, dou-lhe três
Saia despreocupado
Faça tudo que você queria e nunca fez

Pé quente, cabeça fria, numa boa
Pé quente, cabeça fria, na maior
Pé quente, cabeça fria, na total
Saia despreocupado
Mas cuidado porque existe o bem e o mal

Pé quente, cabeça fria, numa boa
Pé quente, cabeça fria, na maior
Pé quente, cabeça fria, na total
Saia despreocupado
Mas se alguém se fizer de engraçado, meta o pau.


E como "preceito moderador" fica o ombro amigo do sábio Xico Sá; sábio daquela sabedoria da vida real, dos botecos e bordéis, dos PFs e caminhos a pé, das contas a pagar e das geladeiras vazias, da vida como ela é, com seu sagrado e seu profano.

Depois de estabelecer todas as suas metas mirabolantes e embaladas por borbulhas de champanhe dê uma lidinha na crônica Plano bom é plano não-realizado que, coincidentemente, também cita os Doces Bárbaros, só que em outra passagem...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A formiga só trabalha porque não sabe cantar

A fábula da cigarra e da formiga nunca me convenceu muito... sempre achei cruel a pobre cigarra passar fome e frio só porque tinha dedicado seu tempo a fazer o que gostava e exercitar seu dom (coisas que, segundo a mensagem da fábula, não servem pra bancar o sustento de ninguém).

Mas o poder das histórias foge ao nosso domínio racional e, mesmo com dó da cigarra, a lição moral ficou gravada direitinho e acabei me tornando uma formiga (ou, pelo menos, achando que deveria ser uma formiga).

Então, nos meus momentos de formiga, invariavelmente acompanhados por cigarras cantantes, é inevitável lembrar dos conselhos da vovó de Rauzito: a formiga só trabalha porque não sabe cantar!

Aí a formiga resolve cantar, mas parece que já é tarde... alguém tem que trabalhar. As cigarras já assumiram seu posto e não parecem estar dispostas a trocar de papel.

Enquanto lava a louça e recolhe as garrafas, a formiga continua pensando e num lampejo descobre que não é formiga nem cigarra. Não é uma questão de ser, mas uma questão de estar. Todos temos o direito de ser cigarra de vez em quando e todos temos o dever de ser formiga de vez em quando.

A sociedade humana não é uma colmeia de abelhas, onde cada um tem seu papel definido e imutável. Os sistemas de castas que me perdoem, mas isso é pra inseto, não é pra gente! Uma sociedade humana só será justa e respeitosa quando todos, repito: todos, puderem se divertir, ter prazer e expressar seus dons e pra isso ocorrer, todos, repito: todos, precisam trabalhar.

Enquanto estivermos divididos em formigas e cigarras isso não vai acontecer... seguiremos sendo insetos.

E quem vai mudar esse sistema? A cigarra, que está lá cantando, felizona? Claro que não... quem tem que estabelecer os limites é a formiga. Essa transição não é fácil, pois no momento em que a formiga resolve que vai cantar o trabalho se acumula; então a formiga tem que ser disciplinada e deixar com que alguma cigarra faça o trabalho, por mais que demore, por mais que não saia tão bem feito, por mais que fique faltando alguma coisa.

A princípio, o medo da formiga é que ninguém faça o trabalho, mas as cigarras costumam ser prestativas (quem canta é alegre e pra uma pessoa alegre o trabalho não é um peso!). Formigas, deixem-se surpreender!

E não cobrem o primor com o qual vocês executariam a tarefa... as cigarras são principiantes, não tem a sua excelência. Simplesmente sejam humildes e aprendam com as cigarras o que elas tem a lhes ensinar, que é a leveza de fazer o que se gosta, o que muitas vezes precisa passar por um processo de descobrir do que se gosta. Mas não me venham com essa história de que vocês gostam de lavar louça! Permitam-se sair do chão!

Encerro com uma citação, que vi num livro da sala de espera do Spa que frequento em Campinas, o Azahar (pois é, como já disse, eu descobri que não sou formiga nem cigarra e, portanto, me permito frequentar um Spa entre uma pia de louça e outra!).

No mundo que está por vir, cada um de nós será chamado a prestar contas por todas as boas coisas que Deus colocou na Terra e que nos recusamos a desfrutar.

(não lembro o nome do livro, mas segundo ele essa citação é do Talmude, o livro sagrado dos judeus)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A importância de manter as aparências

Alguns podem confundir com hipocrisia, mas pra mim trata-se de uma regra básica e importantíssima de convívio social.

Existem poucas, pouquíssimas coisas mais desagradáveis do que lidar com caras feias, maus humores e alfinetadas, mesmo quando não são dirigidos à sua pessoa, por isso digo que é importante - e respeitoso para com a comunidade envolvida - saber manter as aparências, ou seja, manter um clima leve e descontraído, por mais que estejamos passando pelas mais devastadoras tormentas internas.

Você pode até argumentar, perguntando pra que serve nosso círculo próximo de amigos e familiares, se não podemos desabafar com eles e relaxar em sua presença. A isso eu mesma respondo com uma autocitação, antes que você me lembre dela equivocadamente como suporte ao seu argumento: "quem tem amigos não tem o direito de sofrer sozinho".

Sim, esse círculo próximo de amigos e familiares só serve pra alguma coisa se puder te confortar em momentos difíceis e, ao mesmo tempo, é praticamente uma traição passar por grandes dificuldades e não compartilhar com essas pessoas, que te querem tão bem e que gostariam muito de ajudar.

Mas o que quero dizer com "manter as aparências" é praticamente que todos merecem respeito e consideração, ainda mais as pessoas próximas. Espalhar mau humor não é uma atitude respeitosa e não é assim que você vai conseguir ajuda. Para usufruir do apoio das pessoas queridas também é preciso levar em conta regras de etiqueta, que insisto em chamar simplesmente de respeito.

Uma atitude adulta e madura é chamar pra uma conversa, em momento apropriado para os dois, de preferência fora do "calor da hora", fora da tempestade causada pela gota d´água que transborda o copo cheio de mágoas. Ok, às vezes é no meio desse furacão mesmo que precisamos de ajuda, mas essa ajuda precisa ser pedida de forma concreta, de forma aberta e o mais longe possível do "elemento deflagrador" de tanta fúria, porque senão vira bate-boca e você coloca a tal pessoa querida numa situação extremamente desagradável. E isso não é lá atitude pra se ter com uma pessoa querida, não é mesmo?

De mais a mais, quando nos propomos a ter uma atitude consciente de manter um clima leve e descontraído, só isso já pode ajudar em muito a resolver o conflito em questão. Até agora falei sobre a reverberação de caras feias, maus humores e alfinetadas que recebemos de forma indireta, quando duas ou mais pessoas estão passando por desentendimentos. Mas imagine que você está passando por um desentendimento e a pessoa tal se propõe a ter uma atitude respeitosa e madura de não espalhar caras feias, maus humores e alfinetadas. A chance de que ambos cheguem a um acordo, a uma conversa sincera e sem "manhas" é muito maior.

A loucura do mês de dezembro já toma conta das ruas e das pessoas, o "clima natalino" já se instaura, doidinho pra lavar roupas sujas em plena ceia, mas não é só isso... a todo momento nos deparamos com pequenos desentendidos, com pequenas gotas d´água, que precisam de tempo e paciência para evaporar.

Não deixemos com que nossas tempestades internas respinguem naqueles que nos cercam, ou, pelo menos, saibamos providenciar capas de chuva e galochas, porque senão o chato de galochas vai ser você.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Irina Palm

Irina Palm é o nome da personagem principal do filme homônimo, que foi lançado em 2007 e tem quíntupla nacionalidade (França, Reino Unido, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha), segundo o meu querido amigo Google.

A sinopse - portanto, não vou "contar a história" - é mais ou menos assim: uma senhora tem um neto gravemente doente e se compromete a conseguir dinheiro para custear seu tratamento. Sem crédito nos bancos e sem formação profissional, ela acaba caindo num clube privê, motivada pelo anúncio da vaga para recepcionista. Depois de descobrir exatamente do que se tratava ela reluta, mas acaba aceitando e se torna a grande estrela do lugar, sob o pseudônimo de Irina Palm.

O filme é classificado como "comédia dramática" e achei a descrição bem condizente, pois tem um enredo um tanto quanto triste (criança doente é pra arrancar lágrima de qualquer coração gelado, fala verdade?!), mas tem muitas passagens engraçadíssimas e no balanço geral fica longe de ser um drama... mas também não é assim uma comédia, enfim, foram felizes com a classificação.

O cenário principal é o tal clube privê, então se prepare para lidar com cenas de sexualidade explícita, embora não apareça nada "cabeludo", se é que você me entende... de qualquer forma, a censura é pra 14 anos.

Gostei muito do filme e identifiquei várias mensagens interessantes, não sei se "viagem" minha, mas me fez pensar e é isso que importa.

Se você ainda não assistiu, talvez seja melhor fazer isso e voltar depois a essa postagem, pois a partir daqui pode ser que minhas análises interfiram na sua vivência... mas se você não aguentar de curiosidade, fique tranquilo, não vou "contar o final" :)

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Pois bem, vamos lá:

O ponto do filme que mais chamou minha atenção é que a protagonista não mente. Ao contrário do que geralmente acontece nos enredos em que personagens que precisam manter segredo, vão se enrolando cada vez mais em mentiras e confusões, até tudo ser desvendado e prevalecer a moral "viu como não adianta mentir", esse filme vai na linha oposta. Ele mostra uma personagem que banca sua escolha e mais do que dizer "viu como não adianta mentir", a mensagem passada é mais assim: "olha como não precisa mentir". E não é que ela conte todos os detalhes pra todo mundo, pelo contrário (imagina uma senhora de meia idade trabalhando em um clube privê... não é assim tão simples bancar a verdade...).

Outra mensagem que ficou pra mim é que "só uma mãe entende outra mãe". Diria mais: "só uma mãe em desespero e sofrimento entende outra mãe em desespero e sofrimento". Essa passagem é particularmente bonita e me tocou de forma especial, uma vez que estou me preparando para ser mãe.

Nesse mesmo aspecto, entendi um pouco mais o que deve ser a experiência de ser avó. Dizem que vó é mãe duas vezes... acho que é mais complexo... pense: o maior sofrimento para uma mãe deve ser ver o filho sofrer (você que é mãe, me diga); um filho é um órgão extremamente sensível que funciona fora do nosso corpo, portanto é facilmente nosso ponto mais vulnerável (você que é mãe ou pai, me diga); então uma vó tem muito mais chances de ver o filho sofrer, uma vez que esse filho tem um filho e filho é propensão à vulnerabilidade. Respeito mais as avós (e avôs, ok) depois desse filme.

Por fim e voltando à história da verdade, uma outra mensagem é que a verdade, a simples verdade, pode ser a melhor das vinganças. Eu não gosto do "conceito" de vingança, acho bobagem, pois sou consciente da Lei do Karma, mas nesse caso é simplesmente dar um empurrãozinho na Lei do Karma... não precisa fazer nada além de dizer a verdade. Na hora certa, é claro, como um trunfo muito bem guardado.

E ainda tem outras coisas, pequenas passagens, que também dão margem a reflexões, mas aí você vai achar que o filme é perfeito demais e certamente irá se decepcionar, pois é o que geralmente acontece quando inflamos as expectativas!