quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O fim de uma Era


A princípio eu pensei, sem pensar, que seria só mais uma mudança. Mas naquela madrugada, em uma incomum visita noturna ao piso inferior, fui revendo cenas da minha história naquela casa que eu pensava, sem pensar, que não era minha. Mas era, claro que era.

Foi lá que eu encontrei pela sengunda vez – veja bem, segunda vez – com o Paulo Cesar, meu amor, meu companheiro por mais de onze anos. Foi lá que eu conheci sua família e fui me integrando a ela, e mesmo com todas as nossas diferenças,  passei a fazer parte dela.

Foi naquele quintal que fizemos um mosaico muito tosco, mas altamente significativo, que sempre ornou as cabeceiras das nossas camas. Quintal que presenciou o anúncio do nosso casamento, seguido por abraços e lágrimas de quem achava que a causa estava perdida.

Conforme eu ia andando pela sala enorme e já um tanto bagunçada pela iminente mudança, iam surgindo as cenas das festas, das crianças aparecendo e crescendo, das conversas e sonecas pós-almoço, das vezes em que eu e o Paulo Cesar chegamos tarde e fomos xeretar na cozinha e usufruir do sofá reclinável com televisão enorme e cheia de canais.

Recordei a sala de jantar antes da reforma e fui lembrando dos animados banquetes que ela já presenciou. Não precisava muito, só a família já é cuorum pra festa, mas mesmo assim sempre tinha um amigo, um primo, uma visita.

Fui subindo as escadas e parei no quarto que foi da Carol, onde eu e o Paulo Cesar dormimos juntos pela primeira vez. Esse foi um grande passo! Mas não confunda, quando digo dormir junto, estou querendo dizer dormir junto mesmo, literalmente. Até então eu ficava no quarto de hóspedes, mas teve uma hora que a sogrinha deve ter desistido de esperar o casório e, num ato inesperado, liberou geral! Não lembro quando foi, mas levou alguns anos...

E no quarto onde estávamos dormindo hoje também fui lembrando das vezes que o dividi com a Valéria, pois aquele era o quarto das moças, enquanto os moços repousavam no quarto em frente.

Isso foi quando todo mundo morava lá. Todo mundo quer dizer, é claro, pais e filhos. Embora tenha havido primos moradores e as namoradas, moradoras de final de semana. E então um saiu pra estudar, outro saiu pra casar. A moça da família foi atrás de fazer seu caminho.

A casa foi mudando de cara, mas chegou uma hora em que realmente ficou grande demais. E cá estou eu, encaixotando cristais e memórias, dando minha contribuição para o encerramento desta Era, que invariavelmente prenuncia o início de outra.

Mudar é preciso. Revolver velhos baús, espanar a poeira, jogar fora a tralha, permitir que o novo brote. O antigo tem história, tem valor sentimental, mas o novo é novo! O novo é possibilidade, o novo é esperança! E o novo vai virar antigo, vai ter sua história e assim vamos compondo o mosaico da nossa vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário