sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pé quente, cabeça fria

Incluindo a alegria dos Doces Bárbaros o Aralume deixa seu recado pra inspirar as famigeradas metas de início de ano:

Pé quente, cabeça fria, dou-lhe uma
Pé quente, cabeça fria, dou-lhe duas
Pé quente, cabeça fria, dou-lhe três
Saia despreocupado
Faça tudo que você queria e nunca fez

Pé quente, cabeça fria, numa boa
Pé quente, cabeça fria, na maior
Pé quente, cabeça fria, na total
Saia despreocupado
Mas cuidado porque existe o bem e o mal

Pé quente, cabeça fria, numa boa
Pé quente, cabeça fria, na maior
Pé quente, cabeça fria, na total
Saia despreocupado
Mas se alguém se fizer de engraçado, meta o pau.


E como "preceito moderador" fica o ombro amigo do sábio Xico Sá; sábio daquela sabedoria da vida real, dos botecos e bordéis, dos PFs e caminhos a pé, das contas a pagar e das geladeiras vazias, da vida como ela é, com seu sagrado e seu profano.

Depois de estabelecer todas as suas metas mirabolantes e embaladas por borbulhas de champanhe dê uma lidinha na crônica Plano bom é plano não-realizado que, coincidentemente, também cita os Doces Bárbaros, só que em outra passagem...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A formiga só trabalha porque não sabe cantar

A fábula da cigarra e da formiga nunca me convenceu muito... sempre achei cruel a pobre cigarra passar fome e frio só porque tinha dedicado seu tempo a fazer o que gostava e exercitar seu dom (coisas que, segundo a mensagem da fábula, não servem pra bancar o sustento de ninguém).

Mas o poder das histórias foge ao nosso domínio racional e, mesmo com dó da cigarra, a lição moral ficou gravada direitinho e acabei me tornando uma formiga (ou, pelo menos, achando que deveria ser uma formiga).

Então, nos meus momentos de formiga, invariavelmente acompanhados por cigarras cantantes, é inevitável lembrar dos conselhos da vovó de Rauzito: a formiga só trabalha porque não sabe cantar!

Aí a formiga resolve cantar, mas parece que já é tarde... alguém tem que trabalhar. As cigarras já assumiram seu posto e não parecem estar dispostas a trocar de papel.

Enquanto lava a louça e recolhe as garrafas, a formiga continua pensando e num lampejo descobre que não é formiga nem cigarra. Não é uma questão de ser, mas uma questão de estar. Todos temos o direito de ser cigarra de vez em quando e todos temos o dever de ser formiga de vez em quando.

A sociedade humana não é uma colmeia de abelhas, onde cada um tem seu papel definido e imutável. Os sistemas de castas que me perdoem, mas isso é pra inseto, não é pra gente! Uma sociedade humana só será justa e respeitosa quando todos, repito: todos, puderem se divertir, ter prazer e expressar seus dons e pra isso ocorrer, todos, repito: todos, precisam trabalhar.

Enquanto estivermos divididos em formigas e cigarras isso não vai acontecer... seguiremos sendo insetos.

E quem vai mudar esse sistema? A cigarra, que está lá cantando, felizona? Claro que não... quem tem que estabelecer os limites é a formiga. Essa transição não é fácil, pois no momento em que a formiga resolve que vai cantar o trabalho se acumula; então a formiga tem que ser disciplinada e deixar com que alguma cigarra faça o trabalho, por mais que demore, por mais que não saia tão bem feito, por mais que fique faltando alguma coisa.

A princípio, o medo da formiga é que ninguém faça o trabalho, mas as cigarras costumam ser prestativas (quem canta é alegre e pra uma pessoa alegre o trabalho não é um peso!). Formigas, deixem-se surpreender!

E não cobrem o primor com o qual vocês executariam a tarefa... as cigarras são principiantes, não tem a sua excelência. Simplesmente sejam humildes e aprendam com as cigarras o que elas tem a lhes ensinar, que é a leveza de fazer o que se gosta, o que muitas vezes precisa passar por um processo de descobrir do que se gosta. Mas não me venham com essa história de que vocês gostam de lavar louça! Permitam-se sair do chão!

Encerro com uma citação, que vi num livro da sala de espera do Spa que frequento em Campinas, o Azahar (pois é, como já disse, eu descobri que não sou formiga nem cigarra e, portanto, me permito frequentar um Spa entre uma pia de louça e outra!).

No mundo que está por vir, cada um de nós será chamado a prestar contas por todas as boas coisas que Deus colocou na Terra e que nos recusamos a desfrutar.

(não lembro o nome do livro, mas segundo ele essa citação é do Talmude, o livro sagrado dos judeus)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A importância de manter as aparências

Alguns podem confundir com hipocrisia, mas pra mim trata-se de uma regra básica e importantíssima de convívio social.

Existem poucas, pouquíssimas coisas mais desagradáveis do que lidar com caras feias, maus humores e alfinetadas, mesmo quando não são dirigidos à sua pessoa, por isso digo que é importante - e respeitoso para com a comunidade envolvida - saber manter as aparências, ou seja, manter um clima leve e descontraído, por mais que estejamos passando pelas mais devastadoras tormentas internas.

Você pode até argumentar, perguntando pra que serve nosso círculo próximo de amigos e familiares, se não podemos desabafar com eles e relaxar em sua presença. A isso eu mesma respondo com uma autocitação, antes que você me lembre dela equivocadamente como suporte ao seu argumento: "quem tem amigos não tem o direito de sofrer sozinho".

Sim, esse círculo próximo de amigos e familiares só serve pra alguma coisa se puder te confortar em momentos difíceis e, ao mesmo tempo, é praticamente uma traição passar por grandes dificuldades e não compartilhar com essas pessoas, que te querem tão bem e que gostariam muito de ajudar.

Mas o que quero dizer com "manter as aparências" é praticamente que todos merecem respeito e consideração, ainda mais as pessoas próximas. Espalhar mau humor não é uma atitude respeitosa e não é assim que você vai conseguir ajuda. Para usufruir do apoio das pessoas queridas também é preciso levar em conta regras de etiqueta, que insisto em chamar simplesmente de respeito.

Uma atitude adulta e madura é chamar pra uma conversa, em momento apropriado para os dois, de preferência fora do "calor da hora", fora da tempestade causada pela gota d´água que transborda o copo cheio de mágoas. Ok, às vezes é no meio desse furacão mesmo que precisamos de ajuda, mas essa ajuda precisa ser pedida de forma concreta, de forma aberta e o mais longe possível do "elemento deflagrador" de tanta fúria, porque senão vira bate-boca e você coloca a tal pessoa querida numa situação extremamente desagradável. E isso não é lá atitude pra se ter com uma pessoa querida, não é mesmo?

De mais a mais, quando nos propomos a ter uma atitude consciente de manter um clima leve e descontraído, só isso já pode ajudar em muito a resolver o conflito em questão. Até agora falei sobre a reverberação de caras feias, maus humores e alfinetadas que recebemos de forma indireta, quando duas ou mais pessoas estão passando por desentendimentos. Mas imagine que você está passando por um desentendimento e a pessoa tal se propõe a ter uma atitude respeitosa e madura de não espalhar caras feias, maus humores e alfinetadas. A chance de que ambos cheguem a um acordo, a uma conversa sincera e sem "manhas" é muito maior.

A loucura do mês de dezembro já toma conta das ruas e das pessoas, o "clima natalino" já se instaura, doidinho pra lavar roupas sujas em plena ceia, mas não é só isso... a todo momento nos deparamos com pequenos desentendidos, com pequenas gotas d´água, que precisam de tempo e paciência para evaporar.

Não deixemos com que nossas tempestades internas respinguem naqueles que nos cercam, ou, pelo menos, saibamos providenciar capas de chuva e galochas, porque senão o chato de galochas vai ser você.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Irina Palm

Irina Palm é o nome da personagem principal do filme homônimo, que foi lançado em 2007 e tem quíntupla nacionalidade (França, Reino Unido, Bélgica, Luxemburgo e Alemanha), segundo o meu querido amigo Google.

A sinopse - portanto, não vou "contar a história" - é mais ou menos assim: uma senhora tem um neto gravemente doente e se compromete a conseguir dinheiro para custear seu tratamento. Sem crédito nos bancos e sem formação profissional, ela acaba caindo num clube privê, motivada pelo anúncio da vaga para recepcionista. Depois de descobrir exatamente do que se tratava ela reluta, mas acaba aceitando e se torna a grande estrela do lugar, sob o pseudônimo de Irina Palm.

O filme é classificado como "comédia dramática" e achei a descrição bem condizente, pois tem um enredo um tanto quanto triste (criança doente é pra arrancar lágrima de qualquer coração gelado, fala verdade?!), mas tem muitas passagens engraçadíssimas e no balanço geral fica longe de ser um drama... mas também não é assim uma comédia, enfim, foram felizes com a classificação.

O cenário principal é o tal clube privê, então se prepare para lidar com cenas de sexualidade explícita, embora não apareça nada "cabeludo", se é que você me entende... de qualquer forma, a censura é pra 14 anos.

Gostei muito do filme e identifiquei várias mensagens interessantes, não sei se "viagem" minha, mas me fez pensar e é isso que importa.

Se você ainda não assistiu, talvez seja melhor fazer isso e voltar depois a essa postagem, pois a partir daqui pode ser que minhas análises interfiram na sua vivência... mas se você não aguentar de curiosidade, fique tranquilo, não vou "contar o final" :)

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Pois bem, vamos lá:

O ponto do filme que mais chamou minha atenção é que a protagonista não mente. Ao contrário do que geralmente acontece nos enredos em que personagens que precisam manter segredo, vão se enrolando cada vez mais em mentiras e confusões, até tudo ser desvendado e prevalecer a moral "viu como não adianta mentir", esse filme vai na linha oposta. Ele mostra uma personagem que banca sua escolha e mais do que dizer "viu como não adianta mentir", a mensagem passada é mais assim: "olha como não precisa mentir". E não é que ela conte todos os detalhes pra todo mundo, pelo contrário (imagina uma senhora de meia idade trabalhando em um clube privê... não é assim tão simples bancar a verdade...).

Outra mensagem que ficou pra mim é que "só uma mãe entende outra mãe". Diria mais: "só uma mãe em desespero e sofrimento entende outra mãe em desespero e sofrimento". Essa passagem é particularmente bonita e me tocou de forma especial, uma vez que estou me preparando para ser mãe.

Nesse mesmo aspecto, entendi um pouco mais o que deve ser a experiência de ser avó. Dizem que vó é mãe duas vezes... acho que é mais complexo... pense: o maior sofrimento para uma mãe deve ser ver o filho sofrer (você que é mãe, me diga); um filho é um órgão extremamente sensível que funciona fora do nosso corpo, portanto é facilmente nosso ponto mais vulnerável (você que é mãe ou pai, me diga); então uma vó tem muito mais chances de ver o filho sofrer, uma vez que esse filho tem um filho e filho é propensão à vulnerabilidade. Respeito mais as avós (e avôs, ok) depois desse filme.

Por fim e voltando à história da verdade, uma outra mensagem é que a verdade, a simples verdade, pode ser a melhor das vinganças. Eu não gosto do "conceito" de vingança, acho bobagem, pois sou consciente da Lei do Karma, mas nesse caso é simplesmente dar um empurrãozinho na Lei do Karma... não precisa fazer nada além de dizer a verdade. Na hora certa, é claro, como um trunfo muito bem guardado.

E ainda tem outras coisas, pequenas passagens, que também dão margem a reflexões, mas aí você vai achar que o filme é perfeito demais e certamente irá se decepcionar, pois é o que geralmente acontece quando inflamos as expectativas!


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O melhor presente é a presença

Acho que todo mundo gosta de ganhar um pacotinho, eu também gosto, é claro. Mas faz tempo que tenho dado especial importância ao convívio, ao esforço que as pessoas fazem para estar juntas, que muitas vezes é bem maior do que qualquer esforço feito para comprar um presente...

Em tempos globalizados, com as comunidades cada vez mais difusas, amigos indo pra longe, menor vivência das cidades (quero dizer, anda-se menos a pé, encontra-se menos com as pessoas na rua, no mercado, nas esquinas do centro...); parece que todos estão correndo atrás do rabo pra ganhar uns trocados e quase não nos entreolhamos, ou pior, entreolhamo-nos através de facebooks e cia. e temos a impressão de que convivemos. Mas no fundo sabemos que isso não é convívio; nada como olho-no-olho, pele-na-pele e o som ao vivo dos sorrisos e - por que não? - das lamúrias.

Por essas e outras, considerando também a iminente onda de consumo característica da época, convido à reflexão: quanta presença de qualidade você tem oferecido às pessoas queridas?

Quanto tempo você oferece, descompromissadamente, aos seus filhos? Quantas visitas demoradas e leves você faz a seus pais? Há quanto tempo você não vê aquela tia querida? Quantos quilômetros você está disposto a viajar para rever um amigo? Quantas noites românticas você tem passado com seu amor?

Por outro lado, como você encara aquela pessoa que aparece sem um pacote nas mãos? Como você retribui as visitas que tem recebido?

E ainda, quais os compromissos que você "engole", quando na verdade gostaria de estar em outro lugar, com outras pessoas?

A vida é breve, saibamos valorizá-la!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Coisas muito baratas que eu gosto muito

Nem sempre o melhor é o mais caro... veja algumas coisas muito baratas que eu gosto muito:

1. Panetone de Chocolate do Pão de Açúcar: por algo em torno de R$ 5,00 não fica atrás das "grandes marcas". E para os menos ortodoxos tem ainda uma outra vantagem: é possível comprar o ano inteiro!

2. Sauna do Hotel Buhler: por R$ 15,00 você tem direito a saunas seca e úmida, duchas, piscina aquecida, vestiário, toalha e sabonete de eucalipto :)

3. Viajar pela Bolívia: nada como estar em um lugar onde seu dinheiro vale alguma coisa para achar coisas boas e baratas ;)

4. Comprar livros pelo Estante Virtual: esse site reune um monte de sebos, bem organizados e com preços muito convidativos. A compra é segura e pode confiar na descrição do livreiro quanto ao estado de conservação do livro.

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Hum... acho que a lista ficou um pouco curta... quer me ajudar a aumentá-la?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Novos tempos

A natureza e a vida mudam a cada instante e às vezes nos esquecemos de acompanhar esse ritmo impermanente.

Pois agora chegou a hora do Aralume mudar - de novo. Você deve lembrar que esse blog começou com uma pretensão bem modesta, que era divulgar um casamento. Algo informal, para os amigos, uma brincadeira.

Depois eu peguei o blog "pra mim" e comecei a escrever sobre variados temas. No começo tinha mais a ver com meio ambiente e sustentabilidade, depois os escritos foram ficando mais "cabeçudos" e abordando questões de comportamento e "outras viagens". As viagens, aliás, são tema sempre presente, pois assim vou guardando o meu diário.

E essa na verdade sempre foi a principal função do Aralume - e dos outros blogs também. Antes de mais nada, eu escrevo pra mim. Escrevo pra organizar minhas ideias, pra guardar informações, pra poder recordar mais tarde.

Claro que é uma delícia poder sentir como essas ideias e vivências reverberam nas pessoas e tenho recebido retornos muito bacanas, tanto dos mais chegados quanto de pessoas que não faço ideia de onde surgiram (faço sim... viva o Google!).

Essa interação acabou levando a outra novidade do Aralume, que foi abri-lo para textos de colaboradores. Fiquei muito feliz com os textos que recebi e aproveito para dizer que sempre será uma grande alegria poder divulgar escritos de outros autores. Não se acanhe!

O meu compromisso com o blog era atualizá-lo semanalmente, às terças-feiras... mas começou a ficar chato... o compromisso começou a pesar... crise criativa? Pode ser e é até compreensível, pois o momento da minha vida tem me conduzido por temas muito específicos, uma vez que estou grávida.

Eu já comecei outro blog, O Filho do Aralume, porque não queria deixar esse aqui monotemático. Mas a questão é que eu estou ficando monotemática! E até comecei um terceiro blog (?!), o Tricotando de cócoras, uma graça, um chuchu, guti, guti da mamãe =D

Então meus caros, deixo o Aralume um pouco de lado, por enquanto... claro que quando bater a inspiração correrei pra esse cantinho onde me sinto tão à vontade. Quando surgir alguma viagem, fique certo de que seu relato estará por aqui. E se alguém quiser fazer uso do espaço, agradeço para que ele não fique às moscas.

Obrigada pela companhia!

Ah, e tem uma outra coisa, muito chata, que é que não posso mais postar fotos! Minha cota nessa conta acabou e não estou a fim de comprar espaço extra e nem de apagar os álbuns que organizei com tanto carinho... de qualquer forma é bom pra ir aprendendo a não ficar tão dependente dessas ferramentas virtuais...


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Bonito Lindo

Nesse feriado tivemos o imenso privilégio de conhecer a Fazenda do Rio Bonito, vizinha de cerca do Parque Nacional da Serra da Bocaina (que conhecemos há dois anos, na estréia da Dalva).

É uma fazenda particular, de uma família que a preserva há mais de um século e um amigo em comum nos abriu essa porteira (ou portal, para ser mais exata...).

Embora com uma área imensa (quase 4 mil hectares), não é uma fazenda de produção convencional. Quase que 100% de sua área é coberta por florestas, que abrigam uma infinidade de nascentes e riachos de água extremamente limpa. Quer riqueza maior?

O isolamento também faz parte do pacote. São duas horas em uma estradinha para poucos, por onde só passam cavalos ou carros 4x4 muito bem conduzidos. E então chega-se a um casarão de 1887, feito de pau-a-pique, com seus seis quartos, quatro salas, varanda, dois banheiros, despensa e cozinha (essa última parte é mais "moderna" e é de alvenaria).

Não há luxo, esse luxo das revistas, mas há um outro luxo, que pra mim é a verdadeira sensação de estar em um lugar especial. A começar pelas janelas. Imagine-se olhando por uma janela, dessas grandes de fazenda, e todo o espaço da paisagem é floresta. Um paredão de floresta! Mas não é porque você está dentro da floresta, não, você está num vale, é um lugar amplo, um pequeno pasto, alguns carneiros, alguns cavalos, mas que você só vê se chegar perto da janela.

Mas quer saber qual é a melhor parte? O banho! Um chuveirão desses de piscina, com muita, muita água, muito, muito quente, que vem lá da serpentina do fogão a lenha, mas que antes vem das fontes mais limpas e frescas. A vontade era de esquecer da vida... mas eu só fazia pensar mais nela... pensar em como as pessoas seriam mais felizes se pudessem tomar banhos assim, se pudesse viver em lugares amplos, se pudessem ouvir os sons da natureza e respirar ar fresco da mata.

Como não poderia deixar de ser, havia também uma imensa lareira, fartamente abastecida. Poltronas confortáveis, companhias alegres, comida boa.

Os dias foram chuvosos e propícios para desfrutar do casarão. Mas pudemos ter uma amostra das cachoeiras ao redor e no primeiro dia, ainda com sol, ninguém dispensou um banho gelado pra tirar o pó da estrada.

Às vezes eu penso que tenho aspirações tão modestas, principalmente quando as comparo com o mundo do consumo desenfreado... não quero as roupas da moda, não faço questão dos melhores restaurantes, não preciso de grandes hoteis, não coleciono sapatos, tenho meia dúzia de brincos e colares, nunca tive uma bolsa de couro... mas quando começo a pensar no que eu realmente quero, vejo que é de uma sofisticação e de uma preciosidade que a maioria das pessoas sequer desconfia...

Pois é amigos, devo confessar... minhas aspirações não são nada modestas! Mas pelo menos por enquanto o dinheiro ainda pode comprá-las... por enquanto...



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O que tenho aprendido sobre a formação de tumores

Pra começo de conversa, alguns esclarecimentos: nada do que você vai ler aqui vem do depoimento de algum médico (o que, sob certo ponto de vista, pode até conferir maior credibilidade às informações, se é que você me entende...); tampouco o que você lerá saiu da minha cabecinha, portanto, não me faça perguntas, nem me "ataque", pois realmente é bem provável que eu não tenha as respostas e os argumentos que você busca; por fim, um aviso que vale pra tudo, mas especialmente aqui: leia com atenção, faça seus julgamentos e tire suas conclusões... assim como comer enlatados não faz bem, absorver ideias "prontas" é igualmente prejudicial.

Então vamos lá! Achei muito interessante essa explicação sobre a formação de tumores e como sei que é algo que não se vê no Fantástico nem na Marie Claire, gostaria de compartilhar. Pode te soar meio estranho, ou simples demais (mas não se iluda!). Pelo sim, pelo não, não custa ficar atento.

Quem me deu essa explicação foi a Maria Grillo, grande amiga e muito entendida das coisas que fazem bem e das que nem tanto. Formalmente, a Maria é terapeuta e pesquisadora floral, tendo desenvolvido a linha Filhas de Gaia e fundadora do Instituto Mater Gaia, do qual faço parte, ainda que virtualmente.

Pois bem, tudo começa com algum conflito interno, geralmente de ordem emocional, mental, espiritual, enfim, algo não físico. Conforme a natureza do conflito ele vai afetar alguma parte do corpo físico e esse impacto se dá na forma de uma acidificação do local. Nesse ponto, pequena pausa: vale a pena entender melhor esse balanço do pH do nosso corpo, que, estando sadio, tende a ser mais alcalino. Esse site, embora bastante informal, traz algumas informações, dicas e receitas para tornar a dieta mais alcalina.

Então estamos na parte em que alguma região do corpo se tornou mais ácida. Esse local será propício ao estabelecimento de todo tipo de parasita que esteja circulando por nosso corpo (e pode estar certo de que eles estão! Quem fala muito sobre isso é a Sônia Hirsch, que tem diversos livros publicados, dentre os quais o Almanaque de bichos que dão em gente, que ainda não li).

Quando o parasita se fixa ele piora as condições do local, deixando-o ainda mais ácido. É praí também que vão as toxinas que a gente ingere, queira ou não, tais como metais pesados (provenientes de alimentos cultivados com agrotóxicos e de fumaça de escapamento... dá pra escapar?), petroquímicos (presentes em cosméticos, produtos de limpeza, comida industrializada, roupas sintéticas que vão liberando resíduos no nosso organismo, plásticos que embalam os alimentos mais orgânicos e saudáveis, que também vão liberando resíduos... um caos), drogas (lícitas, ilícitas, com ou sem receita médica)... enfim, algumas coisas a gente compra gato por lebre, mas pode crer que a maioria das toxinas temos plena consciência de que estamos ingerindo e eu nem precisaria dizer quais são.

Então a festa está formada: parasitas e toxinas. O quadro vai se agravando com a chegada de outros "bichos", como bactérias e sei lá o que mais, que vão fazer parte do ciclo de vida e decomposição dos excrementos dos parasitas! Argh! Daí pra formar uma bolinha "esquisita" é só questão de tempo... e pra esse bolinha ir ficando cada vez mais "esquisita", também. Segundo a Maria, todo tumor tem o "dedinho" de parasitas.

Listemos pois os personagens desse enredo:
- conflito;
- parasitas;
- toxinas.

Dá pra se livrar de algum deles?

Se você está lendo esse texto, significa que é minimamente "civilizado" e que, portanto, a resposta para você (e pra mim) é não. Ah, sim, a não ser que você seja iluminado e não tenha conflitos...

Mas, se os conflitos são inevitáveis e parte do nosso processo de evolução na Terra, se os parasitas estão por aí e são invisíveis e se as toxinas acabam chegando até nós, por mais cuidado que tenhamos, o que fazer?

Bem, se não podemos eliminar nenhum desses fatores, podemos minimizá-los, reduzindo a velocidade do processo e mantendo-o em níveis "aceitáveis".

Com relação aos parasitas a Sônia Hisch é enfática na necessidade de tomar vermífugos regularmente. Esses de farmácia mesmo, embora ela tenha grandes brigas com a indústria farmacêutica. Lembro, mais uma vez, que essa não é palavra de médico e que a automedicação é um risco que quem assume é quem faz. Me deixe fora dessa! Mas se quiser conversar com seu médico sobre isso, duvido que ele se oponha...

No mais, os conselhos da mamãe: lavar sempre muito bem as mãos, especialmente depois de mexer com animais domésticos e com dinheiro, que vai carregando os micróbios de todo mundo que pegou nele. Éca! Ah, e escovinha debaixo das unhas... é pra lá que os bichinhos correm. Lavar muito bem frutas e qualquer vegetal que vá ser consumido cru (uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água + 10 minutos + lavar em água filtrada ou mineral). Quanto a carne e peixe crus nem sei o que dizer... pra mim é fácil, eu não como :)

Agora é a vez das toxinas... e você vai ouvir de novo a musiquinha daquela tecla em que bato sempre, chamada "produtos orgânicos". Nem vou repetir a ladainha. Se é novidade pra você, lição de casa... vai pesquisar! Está com preguiça? Então é simples: consuma o máximo possível de alimentos orgânicos, procure cosméticos orgânicos, produtos de limpeza orgânicos (só assim você pode ter certeza que não levam petroquímicos). Recomendo a Cassiopeia e a Weleda. É caro? Bem, coloque nessa conta quanto vale sua saúde...

E pra evitar os petroquímicos, ficar longe o máximo possível de todo e qualquer plástico, inclusive e principalmente aqueles usados diretamente sobre o corpo. Ah, você não é a Lady Gaga e não usa roupa de plástico? Pois saiba que isso vale pra todo material "sintético" que, resumindo, é petróleo e é genericamente e carinhosamente apelidado por mim de plástico.

E os conflitos? Aposto que já gerei um monte deles em você com essas informações, não é? Então relaxa! Não vai pirar na batatinha, porque dessa forma você está piorando ali onde tudo começa, no conflito. Em todo caso, qualquer trabalho de autoconhecimento ajuda muito a identificar, entender e, quem sabe um dia, resolver os conflitos.

É amigo, viver não é fácil... mas adoecer é pior ainda ;)

domingo, 30 de setembro de 2012

Vida de cachorro

Conheci o Jawa em 2001, quando fui morar na Casa da Siriguela, onde ele já morava.

Quem adotou o Jawa foi o Marcão, que fazia mestrado na Esalq e tinha trabalho de campo no Xingu. O nome dele era originalmente algo do tipo Djhawat, que, segundo informações passadas de boca a ouvido, significa onça em alguma língua indígena. No final simplificamos pra Jawa, porque preencher ficha em veterinário e carteirinha de vacinação era sempre um episódio a parte.

Pois bem, o Marcão morava na Siriguela, junto com a Mari. Depois ele veio a se fixar no Xingu e o Jawa ficou com a Mari, que um belo dia resolveu ir embora da casa, passando-a pra Morena, com quem eu fui morar. A condição para ficar com a casa - disputadíssima por sua localização, aluguel convidativo e principalmente pelo quintal - era assumir o Jawa. Sem problemas!

Foram morar conosco também o Axé e o Márcio, então namorado da Morena. Eu, que antes morava na Casa do Estudante (entenda-se um quarto e meio banheiro), de repente ganhei uma casa com sala, cozinha, quintal e cachorro! Além dos companheiros, é claro! Foram tempos ótimos naquela casa!

Acabei voltando pra Casa do Estudante, o Axé também foi pra outro canto e a Morena e o Márcio continuaram com a casa - e com o Jawa.

Quando eles foram embora não puderam levá-lo, pois se mudaram pra um apartamento em Belém. Mais uma vez a condição pra escolha do próximo morador foi que continuassem cuidando do Jawa e assim foi.

Foram morar na Siriguela o PC - meu então namorado e atual marido -, o Caramelo e o Ancião. Mais um tempo se passou e eu e o PC resolvemos morar juntos e os meninos gentilmente foram buscar outros cantos, nos cedendo a casa.

Só que nesse meio tempo eu adotei o Pajé, que tinha ido morar comigo em Pedra Bela e agora me acompanhava em Pira. No começo foi difícil fazer os dois conviverem. O Jawa, por um lado, senhor supremo da casa, e o Pajé, mimado e ranzinza não deixava barato.

Por sorte eu estava numa época de pouca atividade e pude me dedicar à árdua tarefa de convencê-los que seria melhor para todos se se entendessem. Ter um pai adestrador de cães ajudou e em alguns meses eles já rolavam no chão brincando como filhotes! Depois disso, nos cerca de seis anos que viveram juntos tiveram três ou quatro episódios de estranhamento, e só. Foram grandes companheiros, cada um com sua personalidade canina adorável.

Foi o PC que decidiu quebrar a tradição de entregar a Siriguela junto com o Jawa e quando mudamos pra Itu ele foi junto. Finalmente o Jawa tinha um dono! Antes era ele o dono da casa, o anfitrião, mas acho que o sonho de todo cachorro é ter, de fato, um dono, no sentido mais carinhoso do termo.

Lá fomos nós pra uma casa quase sem quintal, mas o que o Jawa queria era ficar com a gente. Ele sempre gostou de ficar com a gente, no nosso pé.

De Itu viemos morar em Bragança, numa casa enorme, com gramado, árvores, passarinhos e cia. Mas o Jawa queria ficar com a gente, dentro de casa, sempre junto. E ficava. Foi nessa casa que ele passou os últimos meses, velhinho, surdo, meio cego, tomando muitos remédios, mas com um abanar constante do rabo. Ele sempre abanava o rabo!

O Jawa era muio simpático e não precisava muito tempo pra ele conquistar quem se achegasse. Ele foi muito querido pelos nossos amigos, fazia parte da turma. Sempre gostamos de levar os cachorros nas viagens, especialmente as de fim de ano, porque eles se apavoravam com os rojões. Assim o Jawa conheceu a Serra do Cipó, o Pouso da Cajaíba, a Mantiqueira, a Serra da Canastra, o Saco do Mamanguá.

Ao contrário do Pajé, que adora água e se divertia à beça, o que o Jawa gostava mesmo era de estar com a gente - e de encontrar, vez ou outra, uma cadelinha charmosa.

O Jawa não gostava de água nem de banho. Fora isso e os rojões, acho que tinha poucas coisas das quais ele não gostava. Ah, ele não gostava de tempestades...

Ele gostava muito de um tapetinho! Ele gostava de comer toda e qualquer migalha que caísse no chão da cozinha; ele gostava de passear; ele gostava de tomar sol; ele gostava de visitas e quando tinha mais gente em casa ele não parava quieto!

Ele era muito bonzinho, não dava trabalho pra tomar remédio e nos últimos dias, já bem fraquinho, o PC levava ele pra fazer xixi na grama e ele entendia.

Ele gostava de cenoura e de manga (aprendeu com o Pajé). Quando a ração não mais o apetecia, gostava de carne assada ou cozida e arroz.

Na minha "vida adulta" o Jawa é o primeiro cachorro com o qual eu convivo por tanto tempo e que se vai. Confesso que vê-lo envelhecer e adoecer foi triste... no final ele exigiu cuidados constantes, o que fez com que alterássemos planos e ficássemos mais em casa. Nos últimos dias ele chorava o tempo todo, aquele gemidinho que parece um sagui. Era claro que ele estava sofrendo e ver um ente querido sofrendo também é sofrido.

Chegamos a cogitar se seria o caso de sacrificá-lo, mas eu achava que não tínhamos razão pra chegar a tanto, afinal, era demandante, ele sofria, mas ele estava ali, "lúcido", como disse minha mãe... no fim não foi mesmo preciso e foi melhor assim.

Toda essa trajetória me faz repensar a vontade e a necessidade de ter a companhia canina. Claro que temos o Pajé, que apesar de já estar no décimo primeiro ano de vida, esbanja vitalidade e espero que fique conosco por muito tempo ainda.

Mas avaliando esse hábito de ter cachorro - e qualquer outro "bicho de estimação" - começo a achar um tanto sem sentido. Subjugamos os bichos às nossas vontades, prendendo-os, dando-lhes comida que lhes causa câncer, deixando-os sozinhos, enfim, eles fazem o que a gente quer e pra quê? Pra acharmos bonitinhos, pra desfrutarmos de sua companhia (quando a gente quer, é claro), talvez pra nos proteger ou nos dar uma sensação de segurança. Não sei se a relação é justa, por mais bem cuidados que os bichos sejam.

E aí eu vejo a quantidade de pet shops com bugigangas mil e o tanto que as pessoas gastam com seus pets. Isso tudo não é pelo bicho... isso é pra preencher algum vazio que o bicho não tem como preencher e com isso ainda depositamos neles uma responsabilidade que não lhes compete e que muitas vezes lhes custa o abandono e a morte em frias mesas de aço inox.

Escrevo isso sob o "calor da hora" e sei que é muito cedo pra dizer "dessa água não beberei"... mais.

Mas situações extremas proporcionam reflexão e, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, não desperdicemos essas oportunidades de ouro para nos aprimorar e fazer os neurônios trabalharem!

Além da companhia adorável, mais esse presente o Jawa me deixou. A oportunidade de repensar hábitos e atitudes "consolidadas". Uma vida nunca deve ser desperdiçada. Nenhuma gota.

sábado, 22 de setembro de 2012

Banho de São Paulo

Essa semana fiz um programa tão legal que preciso compartilhar (e registrar, porque um dos objetivos do Aralume é ser o "meu querido diário", rs...).

Uma das coisas legais do programa é que não foi programado. Embora eu goste muito de planejar e programar, o estilo easy rider ainda me seduz e apaixona.

Precisei ir a São Paulo de última hora, meio que assim resolvendo na hora do almoço pra sair no fim da tarde e passar uma noite. No dia seguinte eu não teria compromissos, mas teria que esperar o Paulo Cesar sair de uma reunião que terminaria no fim da tarde. Findo o compromisso de última hora, começou minha aventura.

Fui almoçar com a Ana, coisa que por si só já vale qualquer ida a São Paulo, pois sinto muita falta da minha mAninha. Escolhemos um restaurante árabe, o Halim, ale perto do metrô Paraíso. Pedimos um menu degustação, com direito a uma gentil adaptação vegetariana. Por R$ 26,00 cada comemos homus, coalhada seca, tabule, fatouche, arroz com lentilha, arroz com aletria, falafel e charuto e kafta pra Ana.

Eu estava a toa e pensei em ver uma exposição que a Ana já tinha visto (impressionistas no Centro Cultural Banco do Brasil), mas como ela tinha parte da tarde livre, sugeriu que fôssemos ao MASP ver a exposição do Caravaggio. Por R$ 3,00 pegamos um metrô e duas estações depois lá estávamos, no coração da Paulista. Adoro!

A fila estava razoável e enquanto esperávamos comprei por R$ 4,00 uma Ocas'', revista que faz parte de um trabalho muito bacana de geração de renda para moradores de rua. A Ocas'' é vendida no Rio e em São Paulo e já está no seu décimo ano, sempre trazendo matérias sobre cultura, comportamento, política, esporte e meio ambiente, abordando também o tema da exclusão social. A capa e entrevista principal dessa edição é com o Wagner Moura.

Compramos nosso ingresso por R$ 15,00 e lá fomos nós. Passadinha no banheiro, garrafinha de água por R$ 2,50 e estávamos prontas pra mergulhar nas sombras genialmente iluminadas do mestre que definiu um estilo tão próprio que levava seu nome: caravaggismo. Sua obra situa-se no início do século XVII, juntamente com o surgimento do período barroco. Em tempos de tecnologias digitais é preciso ficar atento para não achar "normais" aquelas figuras perfeitas, lembrando que foram feitas com pincel, tinta, mão e habilidade. Elas estarão lá até o dia 30 de setembro.

A Ana teve que ir e fiquei fazendo uma hora no café do museu, devidamente acompanhada de meu bordadinho. Fiquei lá, bordando calmamente em plena quarta-feira a tarde, naquele oásis paulistano, pensando em como sou privilegiada por cada uma dessas pequenas coisas que te conto. E por falar em privilégio, ainda tive o prazer de ser abordada por duas senhorinhas, cada uma em separado, que se interessaram pelas minhas parcas habilidades manuais e vieram me parabenizar, pois não viam uma jovem bordando há muito tempo. Acredito!

No meio desse meu enlevo nostálgico recebi uma mensagem do Paulo Cesar dizendo que a reunião ia demorar mais do que o previsto. Tive então a ideia de ir ao cinema, coisa que não fazia há muito tempo, pois infelizmente não há uma mísera sala em Bragança. Liguei pra Ana e ela me ajudou com as programações dos cinemas mais próximos. Fui pro Cinema da Livraria Cultura pra assistir Os Intocáveis, mas o cartaz não me cativou... resolvi então ir até o antigo Espaço Unibanco, que agora é Espaço Itaú de Cinema. Lá o filme que me chamou a atenção foi Tropicália, mas a sessão começaria só dali a 1h20. Fiquei em dúvida, mas como é um documentário de 82 minutos, resolvi arriscar (eu não sabia direito quanto tempo tinha). Comprei o ingresso por R$ 16,00 e atravessei a rua para dar uma sapeada naquela loja de CDs que tem ali em frente e que é responsável por vários títulos do nosso acervo.

Achei um CD do Milton que queria faz tempo, o Tambores de Minas, e após ficar R$ 17,00 menos rica ele era meu! Voltei pro cinema e continuei com meu bordado, o que me rendeu mais um elogio de uma senhora bastante simpática. O tempo passa rápido quando fazemos coisas prazerosas e já estava na hora de comprar a pipoca, que me custou R$ 6,00 e estava deliciosa!

A escolha do filme não poderia ter sido melhor. Alegre, musical, nostálgico, com grande parte dos meus ídolos na tela. Não tem o que fazer, eu adoro essa galera!

No meio do filme me comuniquei com o Paulo Cesar por mensagens e ele foi me encontrar lá na Augusta. Saí do cinema e fui encontrá-lo num boteco em frente. Qual não foi minha surpresa ao ver o Caramelo, nosso amigo e um "doce de pessoa", que faz doutorado e está em sampa fazendo uma matéria na USP. Resolvemos ir jantar no Piolin, cantina italiana deliciosa ali no comecinho da Augusta. Por R$ 30,00 cada comemos as deliciosas torradas de alho e uma massa suculenta com tomate seco e mussarela de búfala.

Já era tarde e a vantagem foi o trânsito liso pra pegar o caminho da roça. Fui dormir exausta, mas feliz, muito feliz, com o coração cheio de beleza, cultura e alegria.

Tem quem goste de tomar banho de loja, eu gosto de tomar banho de São Paulo! E, me diga, o que você faz numa loja com R$ 120,00?!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Turquia - Parte VII: voltando pra casa

No final do tour alucinado pelas belezas do interior e litoral da Turquia ainda tivemos mais dois dias em Istambul, que não foram menos alucinados, ao contrário.

Foi uma corrida para comprar tudo o que não tínhamos comprado antes (e olha que o volume de souvenirs já não era de passar despercebido). Fomos finalmente conhecer o Grand Bazaar, mas por mais que as coisas sejam lindas e os preços até que acessíveis, turismo de compras não é mesmo a minha praia... demos mais uma passada no Mercado das Especiarias e em mais um tanto de lojinhas que pulam na frente da gente pelo caminho.

O pior é que embora tenhamos comprado absolutamente TUDO o que podíamos, com as limitações de orçamento e capacidade para carregar (que não eram tão pequenos, rs...), ao chegar no Brasil rolaram várias crises do tipo "devia ter comprado aquilo", "devia ter trazido mais um daquele" e "poxa, por que eu não comprei um presentinho pra fulano?!". Não tem jeito, por mais que a gente traga umas lembrancinhas coringa, sempre vai faltar alguma coisa... paciência... mas eu tenho melhorado nesse quesito ao longo das viagens :)

A despedida de Istambul não poderia ter sido melhor, pois apesar das compras alucinadas, já estávamos nos sentindo em casa e totalmente familiarizadas com os nomes e com os diversos meios de transporte. Foi o máximo pegar um tram e depois um funicular, fazendo baldeação e descendo certinho nas estações que queríamos! Também nos arriscamos com uns táxis e correu tudo bem.

Subimos na Torre de Galata e vimos a cidade do alto e também conhecemos mais algumas mesquitas. Chave de ouro mesmo.

O nosso querido motorista, agendado através dos donos do apartamento que alugamos, nos pegou pontualmente e tudo no aeroporto foi tranquilo. Mais umas comprinhas no freeshop e doze horas de voo depois, terra brasilis novamente, com direito a um frio de lascar!

Claro que a viagem foi ótima, não tem como não ser! Mas da próxima vez vou com mais tempo... ou farei menos coisas com o tempo que tiver (isso pra qualquer viagem, não só pra Turquia, hehe). A experiência de viajar com mãe e irmã também foi enriquecedora, embora um pouco difícil... eu já estava preparada, mas isso não evita os atritos e as diferenças de ritmo... acho que nada evita, mas é bom não se iludir e achar que vai ser que nem viajar com amigos. Tem que saber que o foco da viagem pode ir muito além do turismo, forçando a gente a fazer um mergulho nas relações familiares e uma reflexão sobre nossa "biografia".

Antes que me perguntem qual é a próxima, aviso que temos um cãozinho doente em casa e os planos "around the world" estão temporariamente suspensos... (mesmo porque tenho uma meia dúzia de faturas de cartão de crédito comprometidas em essa esbórnia, rs...).


PS -  acabo de descobrir que lotei minha cota de imagens nessa conta do Google, por isso que não tem uma mísera fotinho sequer :( Acho que teremos que fazer uma vaquinha pra eu comprar mais espaço =D

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Turquia - Parte VI: Kusadasi

O objetivo de ir a Kusadasi era conhecer Éfeso, onde tem/teve (?!) o Templo de Ártemis, uma das Sete Maravilhas do Mundo, entre muitas outras coisas (por "coisas" entenda ruínas...).

A cidade mais perto de Éfeso é Selçuk, que me pareceu bem pitoresca pelas descrições dos guias, e também por ter um museu que preserva os tesouros que não ficam mais expostos nas ruínas. Mas fora isso não teria muita coisa, então optamos pela hospedagem em Kusadasi, que também é perto e fica na beira do Mar Egeu (convenhamos... depois de ficar o dia todo vendo ruínas, uma praia é bem mais convidativa do que um museu...).

Ficamos no Hotel Stella, onde tivemos um atendimento mega VIP, começando pela troca de e-mails muito atenciosos e num inglês impecável. O próprio dono do hotel, o Hasan, foi nos buscar no ponto de ônibus e foi com ele que compramos o passeio pra Éfeso. Foi a melhor coisa que fizemos e logo você entenderá por quê.

Fomos recebidas com um por do sol incrível, que podia ser avistado da varanda do nosso quarto, juntamente com aquele mar espetacular e os navios de cruzeiro atracados no porto logo em frente (não que isso seja incrível, mas foi interessante ficar vendo aqueles naviozões, rs... e tinha até um veleirão! Ai meu veleirinho, como diria o PC...).


Logo no dia seguinte já fomos pra Éfeso e atendemos as fortes recomendações do Hasan de começar o passeio o mais cedo possível, pois a cidade é toda feita de mármore e conforme o dia vai ficando mais quente fica sofrido transitar por ali (e fica mesmo, não duvide!).

Ele nos levou de carro e nos deixou no portão oposto ao qual a maioria das pessoas entra, então pegamos um certo contra fluxo. Ele também deixou com a gente um livro sobre a cidade, com mapas e histórias, muito gentil. Não tivemos um guia, uma pessoa, pra ficar nos contando tudo, mas isso foi ótimo, porque era de dar dó a cara dos gringos ouvindo as intermináveis explicações do guia debaixo daquele sol inclemente.


Fomos fazendo o passeio a nosso tempo e combinamos de nos encontrar no outro portão. O calor nos fez dar uma adiantada no caminho, estava realmente muito quente e os miolos derretendo nem conseguem absorver muita coisa. Se estivéssemos em um passeio de agência, tendo que seguir o cronograma de um guia e um grupo, teria sido um calvário!

Mas vale a pena... tem o teatro, com capacidade para 25 mil espectadores, e a linda Biblioteca de Celso. As primeiras ocupações são de 1.000 a.C. e é emocionante estar em um local com tantos anos de história.



De lá nós fomos para a Casa de Maria, o local para onde João Batista levou Maria após a crucificação de Jesus e onde supõe-se que ela tenha vivido até sua morte. Mesmo para uma não-católica fervorosa como eu é um passeio interessante. A casa é hoje uma capela, um local de peregrinação, silêncio e oração. É muito bonito, dá pra sentir a atmosfera especial daquele lugar.


Depois o Hasan nos levou para um breve passeio, onde vimos a Basílica de São João Batista e uma mesquita bem importante que não lembro o nome :) Foi nesse caminho que começamos a ver as cegonhas e foi uma comoção geral no carro! Elas são lindas, grandonas, e fazem seus ninhos por lá nessa época. Quando chega o inverno migram para o norte da África, segundo informações do nosso guia VIP.


E por fim fomos para o Tempo de Ártemis. Bem, "templo" é um pouco de exagero, pois só restou uma única coluna... mas, enfim, a gente já sabia disso e mesmo assim não poderíamos perder a oportunidade de estar nesse lugar, que foi construído em 550 a.C. e destruído e reconstruído algumas vezes.


Voltamos pro hotel antes do almoço e ávidas por uma praia... que decepção... fomos para a Lady´s Beach, que foi a recomendada pelo nosso anfitrião, com a ressalva de que deveria estar bem lotada. E realmente estava... cruzar o Atlântico para se acotovelar numa areia cheia de bitucas de cigarro não era bem o meu sonho de férias no Mar egeu... a água era muito bonita, mas a faixa de areia estreita piorava a sensação de multidão. E como aquele povo fuma! Tentei abstrair um pouco e tomar aquele solzinho delicioso de fim de tarde que eu adoro... a Ana até entrou na água, corajosa!


Voltamos pro hotel a pé (a ida foi de van, aventura à parte!) e a vista da orla foi ficando cada vez mais linda! Paramos em uma ilhota que tínhamos visto da nossa janela e tiramos boas fotos do sol caindo no mar.



O dia seguinte já era dia de ir embora... nosso atencioso anfitrião nos levou até o aeroporto de Izmir, que fica a uma hora dali, e com mais uma hora de vôo estávamos de volta a Istambul! Esse último trecho seria de ônibus, como os demais, mas estávamos tão cansadas e o preço nem era tão alta, que lá em Antalya resolvemos nos dar esse presente. Mais uma vez, valeu cada centavo de dólar cobrado na fatura do cartão um mês depois ;)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Turquia - Parte V: Pamukkale

Devolvemos o Otto no otogar (rodoviária) e de lá pegamos um otobus (fácil essa né?!) pra Denizli, que é a cidade mais próxima a Pamukkale, um vilarejo aos pés das ruínas de Hierápolis e das tais formações calcárias tão aguardadas (Pamukkale quer dizer "castelo de algodão"... vai imaginando...).

De Denizli pra Pamukkale daria pra ir de microônibus, mas pegamos um táxi, pois peregrinação tem limite! Escolhemos um hotel bem pertinho do parque (que reservamos antes via Booking.com), o Ozbay Hotel, que tem como sua única vantagem a proximidade das atrações... bem, não sejamos tão duras... os funcionários foram atenciosos, o colchão não era de todo mal e o preço foi honesto, mas as instalações são bem antiguinhas (entenda-se velhas e ligeiramente encardidas...) e o café da manhã é um tanto quanto espartano. Enfim, para o pouco tempo que tínhamos por lá foi perfeito.


A viagem de ônibus merece menção, pois foi nosso primeiro trajeto de dia, além de ser bem mais curta e, portanto, sem torturas... a paisagem é encantadora, com propriedades rurais que instigam meu imaginário e cores e formações de relevo muito especiais, tudo muito lindo. Chegamos à noite e deu pra dar um passeio pela parte baixa do parque, que já mostra um pouco da loucura que são essas formações.


No dia seguinte acordamos cedo e lá fomos nós. Incrível, incrível, incrível! Mais uma vez nem vou descrever. Só digo que é absolutamente lindo e que qualquer expectativa que eu tenha criado foi plenamente satisfeita e superada! Eu nunca tinha visto nada parecido e na verdade, nem sei se existe.


As ruínas de Hierápolis ficam na parte alta do parque, com uma vista absolutamente fascinante.


Bem, ruínas não são lá a minha paixão, mas o teatro é imperdível. Imenso e bem conservado (para o que se espera de uma ruína!).


É lá que fica também uma piscina de águas termais bem quentinhas, com umas colunas de mármore caídas pelo meio. Tem que pagar mais uma grana pra entrar (lógico!!!), mas vale cada centavo de Lira Turca, mesmo com a pequena multidão que se aglomera (e se você me conhece sabe que tenho HORROR a multidões). Mas o lugar é tão único, a experiência é tão única e a possibilidade de ter aquilo sem multidão é tão remota, que dá pra por tudo na balança e ficar feliz com o passeio.


Em Pamukkale não tem muito mais pra se ver, mas sinto que poderíamos ter ficado mais um tempinho. No final, foram menos de 24 horas, pois nosso próximo ônibus saía às 16h. Demos uma bobeada em não comprar a passagem pra Denizli com antecedência e ficamos um tempão esperando na rodoviária de Antalya... se não fosse isso, teria sido perfeito, pois pegaríamos o por-do-sol nos castelos de algodão e não quero nem pensar o espetáculo que isso deve ser!

A viagem até Kusadasi é curta e em breve estaríamos diante de mais um mar inédito, o Egeu. Haja coração!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O campo e a cidade: quem sustenta quem?

Eu tenho um sonho antigo, que às vezes se mostra como uma poderosa fogueira, cheia de vigorosas labaredas, e às vezes fica adormecido como brasas sob as cinzas. Esse sonho é o de viver no campo e do campo.

Viver em uma unidade rural - terreno, chácara, sítio, fazenda, comunidade, ecovila... dê o nome que quiser - e tirar de lá o meu sustento. Vejo um lugar com água limpa e abundante, terra fértil, floresta, pomar, horta, roça, vacas, galinhas, minhocas, cogumelos, pessoas queridas... quanto mais alta a fogueira, mais itens vão sendo adicionados a esse cenário, mas quando falta lenha as brasas incandescentes guardam o cerne: viver no campo e do campo.

Eu já tive breves experiências de viver no campo, no nosso sitiozinho lá em Pedra Bela. Cresci lá e "depois de grande" morei lá durante alguns meses, só eu e o Pajé, meu guardião negro de alma canina dourada luminosa. Eita tempos bons! O pseudo silêncio da noite, com sua infinidade de grilos e sapos; o ar fresco; a companhia das árvores e das montanhas. Mas eu não vivia do campo... estava ali para estudar e investir no sonho...

Tempos depois tive uma breve experiência do que seria viver do campo, foi com a Sempre Viva Orgânicos (se não conhece a história, veja aqui). Eu diria que foi uma "amostra grátis", embora tenha passado longe de ser grátis, rs... mas o importante é que deu pra ter uma ideia de como o campo é tratado pela cidade. É triste, acredite. O trabalho árduo de quem se levanta antes do sol e passa o dia com as mãos na terra é muito pouco recompensado... quem ganha dinheiro é quem está no escritório cercado de celulares, computadores e números.

Não que o objetivo seja "ganhar dinheiro", mas a remuneração de quem vive do campo está muito aquém do mínimo condizente com os confortos que a cidade proporciona (mínimo, eu disse mínimo... não estou falando de consumos supérfluos...). Talvez possamos fazer uma exceção aos grandes latifundiários, que ganham dinheiro às custas de um modelo predatório, moendo em seu engenho gente, terra, água, ar e veneno.

Outra constatação que deixa a fogueira dos meus sonhos à míngua é quando me deparo com alguém que aparentemente vive do jeito que eu gostaria, mas quando vou investigar acabo encontrando uma fonte externa de recursos, invariavelmente vinda da cidade e quase que sempre na forma de um aluguel de algum imóvel herdado da família. Isso sim é balde de água fria que faz a fogueira virar fumaça (mas lembre-se, onde há fumaça, há fogo e essas brasas taurinas são teimosas...).

E matuta que sou, fico matutando: o que está errado? O normal seria o campo sustentar a cidade, e não o contrário! Não quero polarizar, não quero fazer dois "times", mas com a falência de um, quem sobrevive?! É claro que o campo precisa de muitas coisas vindas da cidade, ainda mais esse campo, formado por exilados urbanos, mas no limite, no caos, no frigir dos ovos, se tem alguém que sucumbe, esse alguém é a cidade!

Agora me diga, com o colapso das cidades, quem está no campo sendo sustentado pela aglomeração urbana, fica como? Que tal voltar à cartilha e rever o conceito de sustentabilidade?

Estou sendo apocalíptica, admito. Estou dizendo que as uvas estão verdes, uma vez que não as posso colher (minhas uvas verdes são tanto a fazendinha dos sonhos quanto o apartamento que a sustentaria...). Estou caindo no fácil papel de avaliar, julgar e “resolver” a vida alheia...

Mas revolução não se faz com concessão. E eu só acredito na revolução, porque o barco já está tão furado que não há remendo que dê jeito. Esse pensamento me fez lembrar do meu querido professor de Educação Ambiental, que também alertava pra importância de não cair na ilusão do “paraíso particular”, essa coisa de ter uma terrinha, linda e perfeita como eu imagino, mas sem se preocupar com a vizinhança. Uma hora o caos bate na sua porteira e no momento seguinte ele fura sua cerca. Não tem como se isolar e realmente o caminho não é por aí.

No meu sonho de viver no campo e do campo, além do pedaço de terra que já descrevi brevemente, sonho com um campo forte, sonho com uma comunidade unida, íntegra e de cabeça erguida, que não se curva a gravatas e paletós, que não rasteja por moedas, aliás, que não rasteja por nada!

E se você, caro internauta, acha que não tem nada a ver com isso, reveja seus valores, desligue-se um pouco da tomada e do wi-fi e conecte-se com seu instinto de sobrevivência.

Um campo íntegro e forte pode socorrer uma cidade à beira da falência. É de vital interesse do morador urbano que o morador rural esteja cuidando adequadamente da produção de água e de alimentos; é de vital interesse do morador urbano que o morador rural esteja cuidando adequadamente da biodiversidade e do equilíbrio da teia da vida. Porque sem água, sem alimentos, com espécies e habitats inteiros desaparecendo e uma dinâmica natural completamente alterada, não tem computador que dê jeito, não tem dólar que resolva.

A meu ver, a ação mais básica, simples e indolor que o morador urbano pode fazer é consumir produtos orgânicos, tantos quanto possa (alimentos, cosméticos, produtos de limpeza, roupas...). A filosofia da produção de orgânicos fortalece o campo; o consumo de produtos orgânicos valoriza o morador rural, deixando a relação campo-cidade num patamar mais olho-no-olho - ninguém precisa abaixar a cabeça pra falar com o outro.

Quando quiser avançar um passo, pode passar a adquirir esses produtos com cada vez menos intermediários, de preferência em feiras, empórios comunitários, cooperativas. Lembre-se que o Pão de Açúcar garfa grande parte do que você paga pela bandejinha de tomates orgânicos... (mas mesmo assim é muito melhor do que comprar o convencional, não desanime!).

Outra prática saudável é conhecer o campo! Fazer turismo rural, gastar seu dinheirinho em estabelecimentos familiares, comprar artesanato, comprar o queijo da Dona Maria, a geléia da Dona Dita, a cestaria do Seu Raimundo. Contratar o guia que é filho do Seu Zé e cresceu tomando banho naquelas cachoeiras.

E nessas andanças pela roça, cuidado pra não “contaminar” a moçada com as tentações urbanas... é você que tem que ir embora de lá encantado com as cores do por-do-sol e não o filho do Seu Zé que tem que ficar fascinado com o seu iPad. Cuidado, muito cuidado... o filho do Seu Zé pode vir a ter um iPad, se for o caso, mas não precisa colocar a carroça na frente dos bois... discrição é fundamental.

Com uma postura correta, de igual pra igual, veremos que ninguém precisa sustentar ninguém, trata-se apenas de uma troca, cada um cumprindo seu papel, sem senhor, sem patrão, sem escravo e sem submissão. Isso sim é que é humanidade e torná-la possível e nossa grande revolução.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Turquia - Parte IV: Mediterrâneo


Para molhar os pés no Mediterrâneo nosso pouso foi Antalya. Aqui alugamos mais um apartamento pelo AirBNB e fomos muito bem recebidas por nosso anfitrião (na verdade pelo pai dele), que foi nos buscar na rodoviária.

O apartamento é incrível, espaçoso e muito bem decorado. E no prédio tem até piscina! O único inconveniente é que fica num bairro meio ermo, então para não precisar de otobus alugamos um otomobil, o Otto, muito chique, otomatic, que dormia no otopark e que devolvemos no otogar =D

Aliás, o procedimento de aluguel e devolução do carro foi uma comédia! Pagamos em dinheiro, não pediram um cartão de crédito, não tem vistoria, o carro vem com o tanque assustadoramente vazio, uma loucura. A única coisa que fizeram foi escanear a carta de motorista da Ana (nem passaporte pediram!). Mas se a polícia pega, quem não tem carta de motorista internacional fica sem o carro e paga uma multa, equivalente ao preço pra tirar a carta internacional (uns 200 reais). Foi tanta correria (e gastos) pré viagem que não tiramos a carteira internacional, mas eu recomendo, pra evitar contratempos, embora conosco tenha sido tudo tranquilo e nem vimos sinal de polícia...

Bem, em Antalya conhecemos o porto, que é bem bonito e, claro, antiquíssimo. Contratamos um passeio pra conhecer a cachoeira Duden, que deságua no mar. Foi lindo, a começar pela água daquele mar, que tem um azul jamais visto!

Andamos um pouco pelo centro antigo e voltamos pra casa motorizadas, com direito a passar no supermercado e comprar até melancia! O roteiro do dia seguinte foi Olympos, um lugar muito bem recomendado e que superou as expectativas. Pra não perder o costume, tem umas ruínas, mas aí tem a praia! Linda praia, onde não tem areia, mas pedrinhas; onde não tem conchas, mas pedrinhas (quando for à casa da minha mãe peça a ela pra ver sua coleção, rs...); e onde tem bitucas de cigarro, muitas bitucas, éca! Impressionante como esse povo fuma!!!

Nessa praia andamos de caiaque e foi muito legal flutuar sobre aquela água cristalina! Fizemos também um pique-nique, foi muito bacana (achamos melhor comprar lanche e foi realmente muito bom, mas a comida lá é mega barata).

Na volta paramos em Phaselis, mais ruínas e um antigo porto pirata. Com a luz do fim do dia fica impressionante de linda e com as pessoas indo embora é melhor ainda... um sossego...

No dia seguinte ainda deu pra curtir um sol na piscina do prédio e logo levantamos acampamento, rumo ao nosso próximo destino, a esperadíssima Pamukkale, com suas formações calcárias e águas quentinhas.

(as fotos vão chegar, um dia... hei de vencer!)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O fim de uma Era


A princípio eu pensei, sem pensar, que seria só mais uma mudança. Mas naquela madrugada, em uma incomum visita noturna ao piso inferior, fui revendo cenas da minha história naquela casa que eu pensava, sem pensar, que não era minha. Mas era, claro que era.

Foi lá que eu encontrei pela sengunda vez – veja bem, segunda vez – com o Paulo Cesar, meu amor, meu companheiro por mais de onze anos. Foi lá que eu conheci sua família e fui me integrando a ela, e mesmo com todas as nossas diferenças,  passei a fazer parte dela.

Foi naquele quintal que fizemos um mosaico muito tosco, mas altamente significativo, que sempre ornou as cabeceiras das nossas camas. Quintal que presenciou o anúncio do nosso casamento, seguido por abraços e lágrimas de quem achava que a causa estava perdida.

Conforme eu ia andando pela sala enorme e já um tanto bagunçada pela iminente mudança, iam surgindo as cenas das festas, das crianças aparecendo e crescendo, das conversas e sonecas pós-almoço, das vezes em que eu e o Paulo Cesar chegamos tarde e fomos xeretar na cozinha e usufruir do sofá reclinável com televisão enorme e cheia de canais.

Recordei a sala de jantar antes da reforma e fui lembrando dos animados banquetes que ela já presenciou. Não precisava muito, só a família já é cuorum pra festa, mas mesmo assim sempre tinha um amigo, um primo, uma visita.

Fui subindo as escadas e parei no quarto que foi da Carol, onde eu e o Paulo Cesar dormimos juntos pela primeira vez. Esse foi um grande passo! Mas não confunda, quando digo dormir junto, estou querendo dizer dormir junto mesmo, literalmente. Até então eu ficava no quarto de hóspedes, mas teve uma hora que a sogrinha deve ter desistido de esperar o casório e, num ato inesperado, liberou geral! Não lembro quando foi, mas levou alguns anos...

E no quarto onde estávamos dormindo hoje também fui lembrando das vezes que o dividi com a Valéria, pois aquele era o quarto das moças, enquanto os moços repousavam no quarto em frente.

Isso foi quando todo mundo morava lá. Todo mundo quer dizer, é claro, pais e filhos. Embora tenha havido primos moradores e as namoradas, moradoras de final de semana. E então um saiu pra estudar, outro saiu pra casar. A moça da família foi atrás de fazer seu caminho.

A casa foi mudando de cara, mas chegou uma hora em que realmente ficou grande demais. E cá estou eu, encaixotando cristais e memórias, dando minha contribuição para o encerramento desta Era, que invariavelmente prenuncia o início de outra.

Mudar é preciso. Revolver velhos baús, espanar a poeira, jogar fora a tralha, permitir que o novo brote. O antigo tem história, tem valor sentimental, mas o novo é novo! O novo é possibilidade, o novo é esperança! E o novo vai virar antigo, vai ter sua história e assim vamos compondo o mosaico da nossa vida.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Turquia - Parte III: Capadócia


Eu e a Ana não conseguimos fazer coisas simples como "passar dez dias Istambul", então nosso roteiro foi estendido no tempo e no espaço, totalizando 15 dias de viagem e percorrendo parte significativa do território turco.

A primeira parada foi na Capadócia, região com peculiares formações vulcânicas e importante ponto da história cristã - não só o Jorge é de Capadócia ;)

A ideia original era ir de trem, mas a linha está desativada para reformas, então o jeito foi encarar um "overnight bus", amargando 12 horas salpicadas por inúmeras paradas. Compramos as passagens ainda no Brasil, pela agência Turista Travel, que foi muito bem recomendada por um blog que nos ajudou bastante. O legal de comprar passagem pela agência é que pudemos deixar nossas mochilas lá no período entre o check-out do apartamento e a hora do ônibus, que é só no fim da tarde. Além disso a rodoviária é longe e tem uma van que sai da agência, muito prático.

Foi através dessa agência que compramos também o passeio de balão, altamente recomendado por qualquer um que já tenha ouvido falar da Capadócia.

Ficamos hospedadas em Goreme, no Village Cave Hotel, que reservamos pelo Booking.com. O hotel é uma graça, tem atendimento muito simpático e preços razoáveis. A cidadezinha é muito, mas muito pitoresca, cheia de casas escavadas nas tais formações vulcânicas (inclusive o hotel onde ficamos) e tem um museu a céu aberto, onde funcionava um mosteiro e é possível entrar em várias dependências, como algumas capelas com afrescos bem interessantes, tudo escavado. De lá também se tem uma paisagem muito bonita da região e o melhor: dá para ir a pé. Em Goreme dá pra fazer tudo a pé, é bem pequenininha.

No primeiro dia nós visitamos esse museu e descansamos, pois a noite no ônibus foi de matar. No dia seguinte fizemos o passeio de balão, que foi incrível, ainda mais porque nenhuma de nós havia voado assim. Nem vou fazer comentários sobre a experiência... apenas vá e vá.

Depois do passeio eles "devolvem" a gente no hotel pra tomar café e no nosso pacote incluímos um passeio guiado, que visita uma cidade subterrânea e depois tem uma trilha, pelo canyon do Ihlara. É uma caminhadinha de 4km, mas é legal pra quebrar o esquema entra-na-van-sai-da-van. Em termos de belezas naturais qualquer passeio similar pelo Brasil ganha de lavada, mas tem o lance das moradias e igrejas escavadas, que são intrigantes e muito diferentes de qualquer coisa que eu já tenha visto nessas minhas modestas andanças.

Tivemos um almoço delicioso incluído no roteiro, com opção vegetariana no menu (uns cogumelos com legumes, muito bons!). E na volta ainda tem mais duas paradas, uma em outro mosteiro e a última com uma vista espetacular do Vale dos Pombos. O legal de fazer esses passeios, além de viabilizar para quem está sem carro (esses lugares são bem longe uns dos outros), é ir aprendendo com o guia, que sempre conta umas histórias bacanas... mas cansa... eu não aguentaria fazer esse esquema dois dias seguidos...

Ainda tivemos mais um dia em Goreme, que não fizemos muita coisa, só ficamos de loja em loja, de bar em bar e eu aproveitei pra fazer mais um Hamam, o famoso banho turco. Fizemos um em Istambul e ainda vou escrever especialmente sobre esse tema, pois sou apaixonada por banhos em geral e esse então nem se fala! Um verdadeiro luxo de rainha!

E lá fomos nós para mais um overnight bus... esse foi melhor e o trajeto um pouco mais curto. Próxima parada: Antalya, na costa do Mediterrâneo. Não perca os próximos capítulos, pois as belezas só aumentam!

Veja aqui as fotos da Capadócia.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Turquia - Parte II: conversando com Istambul


Com corpo e mente minimamente descansados conseguimos nos entender na cidade e vimos que nossa localização era melhor do que imaginávamos, dando para fazer várias coisas a pé (ainda mais pra nós, que estamos acostumadas a andar bastante e que gostamos de conhecer os lugares "palmo a palmo", ou passo a passo).

Estávamos equipadas com três guias, cada um com sua particularidade, um phrase book e também tínhamos lido e anotado várias coisas de blogs e sites, mas o que faz a diferença mesmo é mens sana in corpore sano!

Eu geralmente faço relatos de viagens cheios de detalhes, como que dando um roteiro para quem queira seguir meus passos, mas agora será diferente. Vou tentar falar algumas coisas que não vi nos guias e nos sites, porque os roteiros em Istambul são bastante óbvios a partir do momento que você tem um guia. E eu recomendo que tenha, então vou começar dizendo quais usamos:

- Lonely Planet: se você for uma pessoa normal e escolher levar "só" um guia, certamente esse é o melhor. Ele é leve (isso faz muita diferença do meio pro fim do dia!), tem muita informação, tem mapas detalhados e tem informações para quem viaja por sua conta e risco (afinal, se você for contratar uma agência e um guia humano, não precisará de um guia impresso...). As desvantagens são que tivemos alguns desentendidos com os horários de alguns estabelecimentos, mesmo o guia sendo bem recente (nov/11) e ele não é ricamente ilustrado, detalhe bobo mas que fez a criança aqui, que adora figuras, demorar pra se entusiasmar com ele. Portanto, se você é como eu, não se iluda e caia logo pra dentro do Lonely Planet!
- Guia Visual Folha - Turquia: esse sim é ricamente ilustrado (riquissimamente, eu diria) e o único que encontramos sobre o país inteiro, pois os outros só falam de Istambul. Mas ele é pesadão e pouco detalhado... ele pode ser bom pra planejar a viagem e ótimo pra ter na estante de casa e mostrar que você já foi pra Turquia, rs...
- Guia Adresses Istambul - Uma cidade fascinante: esse guia, composto por dois volumes, me foi emprestado pelo querido amigo Lino quando eu disse que estava vindo pra cá. Foi ótimo porque consegui ler muita coisa antes da viagem e ele tem um foco forte na parte histórica e cultural, o que ajuda a ir encaixando as peças que você encontrará pela frente. A desvantagem é que é direcionado pros "bacanas" então não tem informações detalhadas de serviços de transporte e as indicações de hoteis e restaurantes são para "outro padrão". Claro que se você é de "outro padrão", pode pular o Lonely Planet feinho e sem graça e ir direto pra esse glamuroso livro em forma de guia ou guia em forma de livro.

Com relação ao idioma, logo vimos que não seria assim tão impossível se comunicar, pois nas partes bem turísticas todo mundo se vira bem no "perfect english", mas é bom aprender algumas palavras em turco (mesmo porque é muito divertido! Principalmente pros turcos, é claro, rs...). A Ana ganhou um phrase book do Leo, que ele comprou num sebo, e foi bem útil. Tem também uma opção da série do Guia Visual, mas não cheguei a folhear.

A minha dica pessoal pra comunicação em inglês é usar palavras chave, ao invés de frases inteiras e completinhas do jeito que a teacher ensinou. E fazer um sotaque mais parecido com o deles também ajuda... claro que você vai encontrar pessoas que falam inglês de verdade, aí você pode gastar sua proficiência sem dó!

Ainda nessa área, cuidado com a ilusão da "privacidade idiomática"... muitos vendedores entendem e falam um pouco de português e espanhol e não é difícil topar com brasileiros ou pessoas de outros países que falam português. E eles sacam de onde a gente é, pois o Brasilzão velho de guerra é um ídolo mundial, todo mundo faz exclamações alegres sobre o "Bresília" e os papos de futebol, carnaval e samba não demoram a aparecer!

Bom, mas minha dica de ouro e jade otomana pra conversar com Istambul é estar descansado. É não dar uma de turista maluco, é se permitir entrar no ritmo da cidade, é respeitar seu corpo para deixar que ele lhe conduza às experiências inesquecíveis dessa cidade que é uma verdadeira viagem no tempo, por muitos e muitos tempos. Sim, esse conselho cai no "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", ou fiz... mas depois não diga que não avisei!

Ah, e pra conhecer a cidade sem pressa, sem grandes sacrifícios e com tempo pra comprar muitos presentinhos o ideal seria ter pelo menos seis dias inteiros (fora o que você chega e o que você vai embora). Claro que entre o ideal e o real existe uma grande distância, mas o importante é saber quanto tempo você tem, listar as prioridades e desapegar do que ficou de fora (e essa é a parte mais difícil! Já tenho uma listchenha para a "próxima vez"...).

Veja as fotos aqui.

sábado, 30 de junho de 2012

Turquia - Parte I: chegando em Istambul


A ideia do destino foi da Ana, minha irmã, enquanto estávamos decidindo qual viagem faríamos com nossa mãe em comemoração ao seu 60o. aniversário. Depois de meses "enrolando" sem nenhuma ideia que realmente nos cativasse, a menos de um mês da data de partida resolvemos: Turquia!

No dia seguinte compramos as passagens e conseguimos ótimos lugares num voo direto pela Turkish Airlines. As doze horas de viagem transcorreram muito bem e a qualidade do serviço realmente merece destaque. Coisas como talheres de metal e prato de louça (o que indica que houve comida "de verdade"!), travesseirinho, mantinha, "amenities" e uma televisãosinha bem divertida, a partir da qual, por módicos US$ 1,60 mandamos SMSs para nossos meninos! (se você está acostumado a voos internacionais de longa distância pode ser que nada disso seja novidade, mas pras "caipiras" aqui foi a maior diversão, hehe...).

Chegamos em Istambul por volta das 18h e tudo o que teve de burocracia foi uma pequena fila para carimbar o passaporte. SÓ! Nem teve ficha de imigração no avião... a bagagem demorou um pouco para chegar, mas nossas malas vieram bonitinhas. Na saída o Isik estava nos esperando, conforme combinado com os donos do apartamento que alugamos através do site AirBNB.

A primeira impressão da cidade foi ótima, com suas largas avenidas e jardins floridos. Depois as ruas vão ficando cada vez mais estreitas até virarem vielinhas pelas quais nosso condutor ia adentrando com uma van nada modesta.

O apartamento fica no primeiro andar de um predinho minúsculo (o diminutivo duplo aplica-se perfeitamente, não é lapso gramatical!) e subindo por escadas estreitíssimas chegamos ao nosso pequeno espaço de chão e teto em Istambul, composto por um quarto com cama de casal, uma salinha/cozinhinha com sofá cama e um banheirico. Tudo realmente muito, muito pequeno, mas muito, muito cuidadoso, charmoso e bem equipado.

Logo o Ahmet, um de nossos anfitriões, foi nos receber, dando as poucas instruções do apê (entendeu que a abreviação não é gíria, né?!). Em seguida saímos com ele para uma pequena caminhada pelos arredores, que tem a Rua Istkal como principal vizinhança (depois falo sobre essa rua, que a Ana chama de Oscar Freire de Istambul, rs...). O Nico, sócio do Ahmet e outro anfitrião, ligou pro Ahmet e fez questão de falar conosco, pois está na Itália (ele é italiano). Ótima recepção, muito atenciosa e carinhosa!

Pertinho do apê tem uns mercadinhos, só que a galera não fala NADA de inglês, só turco. Se o Ahmet não estivesse conosco nem sei o que teríamos conseguido comprar... mas compramos boas coisitas e fizemos um jantar em casa. Ah, pra finalizar a carinhosa e atenciosa recepção, o Ahmet deixou conosco um celular e disse que se quiséssemos pegar um taxi poderíamos ligar pra ele conversar com o taxista. Detalhe: ele retornaria a chamada, pois não paga pra ligar pra esse celular. Isso nos deu um certo conforto, mas pelo jeito não precisaremos desse recurso (depois explico também... são muitos os capítulos dessa história!).

Resumindo a ópera, fomos dormir mais de 2h da madruga e no dia seguinte acordamos tarde e principalmente eu e a Ana ficamos muito, mas muito cansadas, não só pela viagem, mas também pela dificuldade em entender as rotas, a forma de usar o transporte público, os mapas, os guias e cia. E olha que eu me considerava razoavelmente boa com rotas, mapas e guias... mas algumas noites pouco dormidas, a diferença de 6h no fuso e o idioma absolutamente incompreensível criaram uma névoa que deixou as letrinhas embaralhadas na minha cabeça.

E, como dizia minha vó (ou bisavó, não sei), quem não tem cabeça tem perna! Andamos muito, muito, muito e no fim eu não sabia de onde vinha o cansaço maior.

O primeiro dia foi cansativo demais, mas vimos lugares lindos. Vou falar sobre eles depois. Agora estou cansada ;)

(mas pra não deixar ninguém preocupado adianto que o segundo dia foi incrível, já estamos muito bem localizadas e a Ana já conseguiu até um diálogo INTEIRO em turco! É noise!)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

metrópole

Saiu do consultório com o ombro carregado de dúvidas e o coração esvaziado de vontades.

A rua, cinza e hostil, era o campo de batalha a ser vencido para chegar em algum lugar que trouxesse um mínimo alento que fosse.

Buscou alguma vontade, mas todas pareciam traiçoeiras. O que fazer quando não podemos confiar nem mesmo em nós mesmos?

Os passos apressados de quem não gosta de se atrasar mas sobrepõe compromissos deram lugar a um vagar quase sonâmbulo. A cada ponto de ônibus a dúvida, mais uma. Resolveu brincar de roleta russa, deixando as rédeas da vida nas mãos do acaso. E o disparo estava vazio.

Celular a postos, esse amuleto da modernidade, no qual depositamos nossas esperanças. Agarrada a ele esperava um eco, um sinal. Pensou naquela amiga com a qual poderia rir e chorar. Poucos quilômetros as separavam, mas a complexidade da relação tempo e espaço forma um emaranhado do qual poucos saem vivos.

Entrou no cinema e encontrou na história alheia motivo para explicar suas lágrimas. Buscou calor num copo de capuccino. O troco veio errado, mas resignou-se, não havia força para lutar por um real.

Chegou em seu prédio clamando por um elevador vazio, pois suas forças não seriam suficientes para um mínimo aceno de cabeça, menos ainda para palavras pseudo cordiais acerca da chuva. Com as chaves na mão deu um suspiro, olhou-se no espelho enquanto era carregada até seu porto seguro.

Comeu mal, jurando começar uma dieta na semana que vem. Não ligou a TV nem o computador. Nem mesmo uma música, um livro, nada. Deixou-se desabar na cama, já sem as lágrimas que gastara com a história alheia.

Deu folga ao despertador, dormiu o quanto pôde.

E preferiu a certeza das dúvidas à ilusão das certezas.