quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Reflexões cotidianas

Quem acompanha o que escrevo no Facebook talvez já conheça o título. Não é nada muito original, mas foi assim que eu comecei, despretensiosamente, uma série de pequenos textos, compartilhando algumas "sacadas" que tenho durante as tarefas mais banais do dia a dia.

Uma cena na rua, uma notícia do jornal, um lampejo, a frase de alguém. Quando isso desencadeia em mim um processo um pouco mais profundo do que inicialmente poderia prever-se, escrevo. Escrevo para mim, pra registrar, pra não esquecer. Mas escrevo também pra você, é claro, porque quando podemos aprender uns com os outros, caminhamos mais rápido, embora alguns aprendizados tenham que ser "na pele" mesmo...

Seguem os textos, em ordem cronológica. O último é inédito, especial pro Aralume!

Reflexões Cotidianas: a mulher catando lixo (12/maio/2011)

Quando fui sair de casa hoje vi uma senhora revirando a lixeira da rua. Aquela cena foi tão triste...

Você já revirou lixo? Não vale quando precisamos procurar algo no lixo reciclável, seco e limpinho. Também não vale composteira, que é úmida, mas tem aquele cheiro de terra de floresta (as bem feitas, pelo menos). Estou falando de lixo, lixo mesmo, fedido, feio. Quando eu vou colocar o lixo nessa lixeira já tampo o nariz e evito olhar, de tanto que aquilo me incomoda. Agora imagina colocar a mão lá dentro! E sem luvas, é claro! E ficar um tempo remexendo e procurando algo que possa valer alguns centavos...

Ao ver essa cena lembrei de um lema do Movimento dos Sem Terra que diz que enquanto houver uma pessoa sem terra, todos seremos sem terra. Isso me marcou, pois é o que dá coesão ao movimento. Imagina se cada um que conseguisse o seu pedacinho de chão fosse simplesmente cuidar da sua vida. O que seria dos demais? O que seria daqueles que não tiveram a mesma sorte?

Não quero discutir o Movimento dos Sem Terra, mas esse lema deles me inspirou outro: enquanto houver uma pessoa vivendo com condições desumanas, seremos todos desumanos!



Reflexões Cotidianas: nem bom nem mau (19/maio/2011)

Essa veio de uma conversa com a Carla Mader, minha monitora no Método DeRose. Estamos estudando o código de ética e dentre as muitas reflexões que esse tipo de estudo traz, a que queria compartilhar com você é a seguinte:

Nossa capacidade de avaliar o impacto de notícias, fatos, atitudes e ações é muito curta. Geralmente julgamos o que aquilo representa em um contexto muito reduzido, muito imediato, mas dificilmente percebemos as ondas que continuam reverberando por anos, décadas, milênios - impossível não lembrar da música "Futuros Amantes", do Chico Buarque: "futuros amantes, quiçá, se amarão sem saber, com o amor que eu um dia deixei pra você...".

Outro Chico, o Science, também veio me ajudar nesse argumento: "deixai que os fatos sejam fatos naturalmente".

Isso ajuda a não se desesperar diante de coisas aparentemente más; isso ajuda a não se deslumbrar diante de coisas aparentemente boas. Tornemo-nos apáticos então?! De forma alguma, mas podemos sim encarar a vida com mais maturidade e também com mais humildade, pois quando sabemos que não sabemos isso cria um certo distanciamento dos fatos, que nos permite inclusive enxergá-los em perspectiva e aí, tchã-rãm: você consegue enxergar um pouquinho mais longe!


Reflexões Cotidianas: ainda bem que eu nunca fui "boazinha" (02/junho/2011)

Estou lendo "Mulheres que correm com o lobos" (Ana Schilling, Carol Mendes e Marcelo Germani: gratidão eterna por me indicar esse livro!). Ontem li uma parte que fala sobre a importância de reconhecermos os predadores e sabermos no defender.

Sinceramente, eu tendo a ser ingênua e otimista, pois acredito nas pessoas e acho que até hoje foi "pura sorte" não ter aparecido nenhum lobo mau na minha vida. Ou não... talvez eu saiba sim me defender, simplesmente evitando consciente ou insconscientemente o contato com os predadores.

Vou compartilhar dois trechos:
"Todas as criaturas precisam aprender que existem predadores. (...) Compreender o predador significa tornar-se um animal maduro pouco vulnerável à ingenuidade, inexperiência ou insensatez."

"Essa aceitação do casamento com o monstro [ela usa histórias e mitos como simbologia para explicar os mecanismos da psique] é na realidade decidida quando as meninas são muito novas, geralmente antes dos cinco anos de idade. (...) Esse treinamento básico para que as mulheres "sejam boazinhas" faz com que elas ignorem sua intuição."
Ingênua ou não, otimista ou não, o fato é que nunca fui das mais "boazinhas". Se algo ou alguém me incomoda, não me esforço muito para "engolir" o fato ou a pessoa. Por isso já fui muitas vezes tachada de rebelde, de questionadora, de antipática. Sinto-me agora aliviada, por saber que isso é minha intuição me protegendo. Embora a primeira norma ética do Yôga seja a não agressão, tem horas que precisamos sim ser agressivas! Mostrar os dentes, rosnar e se preciso for dar uma boa patada. Se o predador insistir, parto pra luta, com unhas e dentes. Se o predador for mais forte, corro muito e busco um lugar seguro, mas nunca fico parada e dou a luta por vencida.

E voltando à norma ética da não agressão, é importante lembrar que a agressão mais grave é aquela que cometemos contra nós mesmos. Primeiro eu me preservo e, assim preservada, serei muito mais útil ao mundo e às pessoas.


Reflexões Cotidianas: quem cuida/cuidará dos seus filhos? (25/julho/2011)

Acabo de ver um quadro do Jornal Hoje que fala de profissões. Começou dizendo que a profissão de babá é uma ótima opção e que é praticamente garantia de emprego. Mostraram uma escola de babás e sabe quanto tempo dura o curso? TRÊS DIAS! Sim, em três dias uma pessoa com ensino médio aprende como cuidar de um bebê ou criança. Logo em seguida fiquei ainda mais chocada: um curso para corretor de imóveis dura SEIS MESES.

Cada vez mais vejo que é um verdadeiro luxo uma mãe que cuide de seu próprio filho. Necessidade financeira? Afirmação profissional? Falta de estrutura psíquica? Acho que um pouco de cada... mas o preço é alto e quem paga é a sociedade toda, com crianças desamparadas, adolescentes desnorteados e adultos fracos, que geralmente vão dar continuidade a esse ciclo.

Mas o que me dá esperança é que vejo elos se partindo nessa corrente esquisita. Lampejos de consciência que podem gerar novos rumos.


Reflexões Cotidianas: a Barbie tomando banho de cachoeira (29/julho/2011)


Adoro fazer faxina, por diversos motivos, mas um deles é que geralmente os momentos de limpeza são inspiradores. Eu estava lavando os baldes quando lembrei de uma cena da infância, eu e minha irmã Ana Clara brincando de Barbie no tanque de lavar roupas. Era um tanque enorme (provavelmente porque éramos pequenas ele parecia tão grande, mas certamente era BEM maior do que o tanquinho minúsculo que tenho em casa...) e feito de cimento. A cor do cimento, junto com os musgos e limos que foram se acumulando ao longo dos anos - independente dos sabões e águas sanitárias - lembrava pedra. A torneira aberta era uma cachoeira e nossas Barbies nadavam felizes, mergulhando, tomando sol... parecia que a gente mergulhava junto com elas!

Aí penso nos tanques de hoje, brancos, sem graça... aliás, as meninas brincam de Barbie no tanque de lavar roupa?! E não me espantaria que isso fosse reprimido por um discurso pseudo ecológico de economia de água :(

Há mais de vinte anos, quando o discurso ambientalista era incipiente, minha mãe já nos educava sob esses preceitos, quer fosse por simples economia financeira, ou por princípios mesmo, mas de forma natural. A água do tanque onde brincávamos exaguava roupa, ia pra lavar o quintal. Minha mãe junto, fazendo as tarefas domésticas enquanto a gente brincava. Entre uma brincadeira e outra, ensaboávamos as meias, ajudávamos a esfregá-las. Era muito divertido!

Talvez hoje alguem achasse um absurdo colocar crianças para ensaboar meias...

E cá estou eu, feliz, limpando a minha casa, lembrando dos mergulhos que dava com a minha Barbie!


Reflexões Cotidianas: "pensei tanto em você" (21/agosto/2011)

Esse fim de semana participei mais uma vez do DeRose Festival, um evento delicioso com mais de 500 pessoas num hotel muito agradável, ótimas comidas e o principal: práticas ministradas pelos melhores professores do mundo! Não é exagero. Grandes feras, com 10, 20, 30, 40, 50 anos de prática e muito carisma para compartilhar tudo isso.

Foi a terceira vez que participei e desde a primeira sempre pensava muito no Paulo Cesar, até que dessa vez, "aos 45 do segundo tempo", ele finalmente foi! E quando eu o vi saindo de uma prática que eu tinha certeza que ele ia gostar, ele veio me falar que foi incrível, com aquele ar que eu conheço tão bem!

Nesse exato momento eu senti um alívio muito grande. Não que eu estivesse tensa e depois me sentido aliviada, mas eu simplesmente fiquei mais leve. Primeiro porque isso pra mim era uma constatação de que eu o conhecia e mais importante: um sentimento de missão cumprida, um sentimento libertador de que eu não precisava mais ficar pensando "ai, o Paulo Cesar ia gostar tanto...". Ele simplesmente estava lá e isso me libertava de ficar pensando que eu queria tanto que ele estivesse ali. Louco né?!

Esse sentimento é comum em mim, principalmente quando estou viajando, fico pensando na minha mãe, no meu pai e em tantas pessoas queridas que certamente iam adorar aquele lugar, aquela comida, aquelas histórias. E quando podemos levar essas pessoas e constatar in loco que elas de fato estão adorando os lugares, as comidas e as histórias é muito bom!

Por outro lado, quando alguém vier me falar que pensou muito em mim em determinado lugar ou com determinada situação, vou dar mais valor a isso e tentar estar presente numa próxima vez, retribuindo o espaço mental e emocional que aquela pessoa dispendeu ao "pensar tanto em mim".


Reflexões Cotidianas: eu não preciso de tratamento de choque (08/setembro/2011)

Quer dizer... não sei se é "não preciso" ou "não quero", mas o fato é que eu definitivamente não gosto do caminho do aprendizado pela dor e pelo desprazer.

Digo isso porque esses dias fui obrigada a ver no meu feed de notícias [do Facebook] a foto de um feto num chão de cimento com os dizeres "é fácil ser a favor do aborto quando você já nasceu". É o tipo da coisa que a gente olha e lê em uma fração de segundo, não tem como evitar, só de bater o olho pronto, foi. Podemos até discutir o aborto, mas eu não quero ver fotografias agressivas!

E aquela campanha educativa nos maços de cigarro? Eu não fumo, nunca fui fumante e tenho que ver pessoas entubadas, rostos desfigurados, sofrimentos diversos. Eu não consigo olhar pra essas fotos e pensar "ufa, ainda bem que eu não fumo" e muito menos "taí, bem feito, quem mandou fumar?!". O que eu sinto é um grande desconforto, na melhor das hipóteses...

Tem também todo o terrorismo que tenta convencer as pessoas a não comer carne. Outra pérola que o Facebook me proporcionou nos últimos tempos foi a fotografia de um pé humano, devidamente azulado e ensanguentado, numa bandeja de isopor, com uma mensagem do tipo: se você acha normal comer um pé de boi, por que não come um desses?! Ah, faça-me o favor!!! Eu não como carnes, mas já comi muita e olha, a visita a uma granja de porcos, embora deprimente, não me fez recusar o salame nem a mortadela. É interessante como parece que essas informações são armazenadas em compartimentos separados e isolados.

Quando vejo algo feio ou triste parece que isso tira uma parcela das minhas energias... A beleza me alimenta e é a partir dela que as transformações ocorrem em mim.



Reflexões Cotidianas: virei gente grande? (17/setembro/2011)

Acabo de compartilhar no meu mural uma figura interessante: mostra uma fita K7 e uma caneta Bic, com os dizeres: "se você entendeu, está ficando velho". Claro que eu entendi, né? Alguém não entendeu?! Ah, não entendeu? Então desliga esse computador e vai dormir, porque tá na hora de criança estar na cama! Shhh, não discute! =D

Mas essa figura foi só a gota d´água pra essa reflexão, que vem refletindo na minha cabeça há alguns dias. Eu comecei a achar que "estava ficando velha" na primeira vez em que me referi a alguma coisa que aconteceu "há dez anos" e não se tratava de uma memória de criança... putz, DEZ anos, eu pensava. Bem, agora começo a me espantar quando lembro de alguma coisa que aconteceu "há dez anos" e não se trata de uma memória de adolescente...

E recentemente tem acontecido uma coisa curiosa. Eu olho pra uma pessoa, que claramente não é adolescente, e essa pessoa parece BEM mais nova do que eu. E pior: É.

Não, não é crise; só constatação de que as coisas realmente mudam. Só que eu ainda não me sinto gente grande, entende? Eu sou apenas uma criança!!!


Reflexões Cotidianas: é fácil falar em regime quando sua barriga está cheia! (05/outubro/2011)

Hehe, se você acha que a magrela aqui pirou de vez e está fazendo regime, fique tranquilo, não é nada disso!

Mas essa foi a imagem mais didática que eu encontrei pra dar o meu chacoalhão e ele não é alimentar, mas financeiro.

Me chateia demais ouvir as pessoas criticando programas sociais, falando mal do "bolsa isso, bolsa aquilo", caindo no lugar comum do "a gente fica trabalhando pra sustentar vagabundo", ou ainda "meu pai começou do nada e trabalhou duro pra conquistar nosso patrimônio", ou pior "se a pessoa tá na miséria é porque é acomodada".

Eu não vou entrar num campo que não domino, tentando explicar ciências políticas, econômicas e sociais, mas proponho que você faça um exercício muito simples: pesquise qual é a renda per capita do brasileiro. Está com preguiça? Ok, fiz isso pra você: coloquei no Google "renda per capita do Brasil" e com os dois primeiros resultados dá pra entender o que é e qual é a nossa renda per capita. Resumindo: se pegarmos toda a riqueza gerada no país e dividirmos pelo número de habitantes, o valor mensal que caberia a cada um seria em torno de R$ 1.600,00.

Agora some toda a renda da sua Unidade Familiar (pessoas que moram na mesma casa) e divida pelo número de habitantes dessa moradia (inclusive crianças, porque pelo que eu saiba elas entram na soma da população usada na renda per capita). Quanto deu? Mais de R$ 1.600,00?! Então, pronto, sua barriga está cheia, não venha me falar em regime!!!

Pra completar, acabo de ler a seguinte pérola: "se você pagar mais para o professor, o aluno vai aprender mais? Porque a minha preocupação pessoal é com o aluno e não com o professor". Quem disse foi Gustavo Ioschpe, colunista da revista Veja. Não, eu não li isso na Veja, porque não tenho nenhum interesse nesse veículo, mas li em uma entrevista que ele concedeu à Revista Trip em edição especial sobre educação (setembro/2011), que recomendo fortemente a quem queira repensar um pouco os paradigmas vigentes.

Por mim iria longe comentando essas duas frases do distinto Sr. Ioschpe, mas não vou dizer que provavelmente o salário dos professores de ensino médio e fundamental estão abaixo da renda per capita do brasileiro, nem direi que é impossível se preocupar com o aluno sem se preocupar com o professor, tampouco falarei que essa visão fragmentada da sociedade e do meio ambiente é responsável por equívocos delirantes. Também não vou dizer que o mundo às vezes me dá náuseas. Não, pensando melhor, isso eu vou dizer sim:

O mundo às vezes me dá náuseas e a necessidade de colocar certas coisas pra fora chega a ser involuntária!
 
 
[inédito!] Reflexões Cotidianas: trabalho é trabalho (12/outubro/2011)

Outro dia uma amiga me perguntou se eu estava feliz com as mudanças profissionais que venho empreendendo em minha vida nos últimos anos. Eu mesma me surpreendi com minha resposta: trabalho é trabalho!

Você pode buscar um ambiente mais gostoso, um propósito mais nobre, uma equipe mais afinada, mas não tem jeito, trabalho é trabalho! A gente sempre acaba fazendo algumas coisas que não gosta, que não quer. E quanto mais idealista for o ofício, maior a chance de se frustrar e de acordar do sonho em plena segunda-feira chuvosa.

Eu sempre fiz escolhas idealistas, românticas, e a sensação de "isso não está encaixando" sempre aparecia. Até que eu me dei conta de que trabalho é trabalho e aí parece que tudo ficou mais leve. Claro que trabalho não é pra ser uma tortura, muito pelo contrário, mas também não dá pra achar que "fazer o que gosta" é ficar o tempo todo satisfeito e nunca ter umas apurrinhações!

Fico me perguntando se eu finalmente entendi o "lance" do trabalho ou se na verdade ainda não encontrei o meu talento, o meu nobre ofício, que fará com que o mundo vire um enorme parque de diversões no qual ao invés de pagar pra entrar, você recebe pra andar nos brinquedos!

Se você vive nesse parque de diversões, por favor me diga! Eu preciso estudar o seu caso ;)

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