segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quanto Vale o Trabalho?

Puxando aqui na memória, comecei a pensar objetivamente no assunto quando tive meu primeiro emprego. Eu era responsável por uma equipe de trabalhadores braçais, que faziam e plantavam as mudas de árvores tão preciosas para a instituição e para os patrocinadores. Meu salário era umas cinco vezes mais alto que o deles e isso me incomodava profundamente.

Em termos de horas eu até podia trabalhar um pouco mais do que eles, que tinham asseguradas as oito horas diárias, enquanto que a parte mais "intelectual" da equipe muitas vezes não tinha hora pra ir embora. Mas a diferença não era tanta. Em termos de empenho e dedicação, aprendi muito com alguns deles e me comovia a forma como tratavam as mudinhas, com o cuidado e carinho que todo ser vivo merece, mas que poucos tem.

Qual era a diferença então? O fato de eu ter passado dois terços da minha vida estudando? O fato de ostentar em meu currículo o pomposo nome de uma Universidade reconhecida? Universidade esta custeada pelo trabalho de todos os cidadãos paulistas, diga-se de passagem.

Por mais que a gente saiba que está em um país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, parece que só quando sente na pele pra se dar conta mesmo.

Acho que não precisa falar que tudo isso gerou apenas movimentos internos e não, eu não dividi o meu salário com a equipe, nem os instiguei a fazer greves e reivindicações. Acho que esse tempo já passou... e, no mais, cada um estava feliz com seu emprego, com sua carteira assinada, seu plano de saúde... certamente muitos dos seus vizinhos não tinham a mesma sorte.

Então eu saí do emprego (por n motivos) e fui ser agricultura. Isso, agricultora. Durou pouco, mas o suficiente pra eu sentir na pele - na pele mesmo, das mãos calejadas e do rosto queimado de sol - quanto ganham as pessoas que colocam a comida na nossa mesa. É ridículo.

As profissões se engalfinham discutindo qual é a mais nobre e eu digo, meu senhor, que o ofício mais nobre é o de produzir alimentos. É o ofício de semear, de cuidar, de colher, porque sem ele ninguém faria mais nada...

Tudo bem, até me abstenho da discussão sobre a importância de cada ofício, pois sei que cada um deles tem o seu papel... e é mais ou menos nesse ponto que eu queria chegar. Quanto Vale o Trabalho?!

O que faz o trabalho de uma pessoa valer mais que o de outra?

E só pra terminar a minha linha do tempo dessa análise, atualmente, que não tenho mais ninguém sob o meu comando e, consequentemente com salários mais baixos que o meu, que não sou mais explorada por um sistema que menospreza o campo, o que me cutuca é a relação com o trabalho das empregadas domésticas.

Às vezes eu me sinto uma imbecil quando estou limpando a casa, pois eu poderia pagar uma faxina com uma hora do meu trabalho. Chega a ser burrice financeira - tanto que voltei a ter uma faxineira com periodicidade quinzenal, depois de longos meses by myself.

Mas aquela pequena Sinhá Moça dentro de mim não me deixa em paz! Em primeiro lugar, eu já acho um absurdo alguém ter que limpar a minha sujeira e, pra piorar, enquanto ela está limpando a minha sujeira eu estou ganhando dez vezes mais dinheiro do que ela.

Bem, se você estava esperando uma conclusão grandiosa, irei decepcioná-lo. Eu só queria mesmo compartilhar algumas angústias... mas uma música não me sai da cabeça:

Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor! Beto Guedes

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