terça-feira, 10 de maio de 2011

Na ponta do pelo do coelho

Já faz muito tempo que li "O Mundo de Sofia", um livro que traz de maneira muito lúdica a estrutura do pensamento filosófico ocidental. Não lembro de muita coisa, mas tem uma imagem que sempre me marcou que é "estar na ponta do pelo do coelho". É o seguinte: um mágico retira o coelho da cartola e você habita esse coelho, como se fosse uma pulga. O autor diz que quando nascemos estamos na ponta do pelo do coelho, vendo todo o universo, o mágico e o próprio coelho. Conforme vamos envelhecendo, escorregamos em direção à pele do coelho e tendemos a ficar lá, acomodados, no quentinho seguro e sem graça. Instigar o pensamento, a inteligência e o deslumbrar diante das coisas mais simples é escalar o pelo do coelho!

E aqui estou eu, mais uma vez sentindo o vento em meus cabelos, o ar fresco e a sensação instável de estar equilibrada na ponta de um pelo flexível. Tenho ficado por aqui cada vez mais. Às vezes escorrego um pouco e dou uma "descansada", mas logo aparece algo que me faz ter vontade de subir de novo e ver o que está acontecendo.

Na semana passada comecei a estudar espanhol, com uma professora particular, a Cássia. Eu não esperava que fosse aprender tantas coisas logo na primeira aula! E foi tão boa a sensação de aprender. Olha que legal, agora eu sei coisas que não sabia antes! E, claro, são coisas bacanas, é cultura, é conhecimento, é habilidade.

Eu sempre gostei muito de estudar. Adoro lembrar dos meus professores, dos meus cadernos, das minhas escolas. Na entrevista com o Rubem Alves (só assisti toda depois da postagem da semana passada) ele fala da Escola da Ponte, que é uma escola que não tem salas de aula, que não tem grade curricular (é ótima a fala dele sobre a grade curricular!), não tem separação por séries e idades e o papel dos professores é bem diferente do que o habitual. Fico pensando que maravilha seria o mundo se o sistema educacional todo fosse assim. Eu até que me dei bem com o sistema convencional, pelo menos sob o aspecto de não sofrer e inclusive de gostar da escola, mas sei que para muitas crianças e adolescentes a escola é uma verdadeira tortura e ao invés de estimular, vira uma chateação. Que tristeza!

Continuando na onda do Rubem Alves, ele diz que o corpo deseja aprender e que o impulso para a aprendizagem é o impulso de viver. Se o "templo do saber", que é a escola, vira um ambiente hostil, cheio de regras chatas e anti naturais, esse impulso de aprendizagem fica seriamente comprometido. E o que acontece com o impulso de viver? Também fica comprometido e vamos formando seres que não vivem, mas que sobrevivem (essa análise é minha mesmo, rs...).

Toda essa reflexão e constatação gera uma grande angústia e até mesmo uma tristeza. Sempre que eu descubro algo que acho genial, tenho vontade de sair correndo e contar pra todo mundo; tenho vontade de literalmente começar a andar na rua parando as pessoas para contar essa descoberta. Só não faço isso porque tenho aprendido que tudo tem seu tempo e que uma grande descoberta pra mim pode não ter significado nenhum para outra pessoa, nesse momento.

Então me contento em ir contando essas grandes e pequenas descobertas aqui no Aralume, para quem quiser ler e pensar e aprender e saber e contar e ensinar e fazer o mundo ficar mais bacana, principalmente porque o mundo é o que vemos e vos digo que o mundo daqui da ponta do pelo do coelho é lindo!

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