terça-feira, 24 de maio de 2011

Mudanças no Código Florestal

O Código Florestal é uma lei federal (nº 4.771/65) que define a importância das florestas (e outras formas de vegetação), como bens de interesse comum a todos os habitantes do País. É nesta lei que são definidas as porcentagens de Reserva Legal (RL) que cada propriedade deve ter, em função do bioma no qual está inserido; são definidas também as Áreas de Preservação Permanente (APP), que se situam principalmente ao longo de rios, nascentes, topos de morro, encostas, restingas, tabuleiros e chapadas e em altitudes superior a 1.800 m.

Veja abaixo as definições de RL e APP, nas palavras do próprio Código:

Área de Preservação Permanente: área coberta ou não por vegetação nativa, com a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

Pra você ter uma ideia, a área de Reserva Legal é de 80% na Amazônia, 35% em áreas de Cerrado dentro da Amazônia Legal (isso é meio confuso e você pode pensar: "ué, mas é Amazônia ou Cerrado?"... mas a Amazônia Legal é uma área definida politicamente e não ecologicamente, por isso possui áreas de cerrado) e 20% nas demais regiões do país.

E existem flexibilidades na lei quanto à localização da RL, que pode ser averbada em outra propriedade. Exemplo: você tem uma fazenda com relevo plano e sem vegetação nativa, ou seja, apta à agricultura; eu tenho uma fazenda montanhosa e cheia de floresta (ai, meu sonho, rs...). Então você compra um pedaço da minha fazenda, referente aos 20% da sua, para ser a sua Reserva Legal. Tem alguns detalhes a serem observados, mas isso é pra mostrar que a lei não é totalmente rígida e "cega" e vem inclusive sendo melhorada nos últimos anos, incluindo diferenciações para pequenos proprietários, etc...

Importante ressaltar que a Reserva Legal é para uso florestal, ou seja, não é uma área que o proprietário "perde", mas um local onde deveria ser praticado um manejo florestal com finalidade econômica, desde que respeitadas algumas regras, que visam garantir o seu objetivo de uso sustentável, conservação, etc... por isso que a área de RL na Amazônia é tão grande, já que o bioma tem vocação florestal.

Com relação à APP, essa área não contempla nenhum tipo de uso e deve ser mantida exclusivamente para preservação. Colocando em números, significa manter sem uso, por exemplo, uma faixa de 30 metros ao longo de um rio com até 10 metros de largura (situação da maioria dos corpos d´água no interior de São Paulo). O máximo da faixa de APP é de 500 metros, mas isso para um rio com largura superior a 600 metros, ou seja, não é qualquer "corguinho", rs...

Bem, as mudanças que estão sendo propostas para o Código Florestal afetam esses dois mecanismos de proteção (APP e RL), que protegem não apenas da vegetação, mas principalmente a água, o solo, a biodiversidade e consequentemente, o bem estar comum da população.

O grande argumento dos proponentes dessas mudanças é que o Código Florestal engessa o desenvolvimento da agropecuária brasileira. Bem, necessidade de produzir comida para alimentar a nossa população que não é... ou você acha que é?! Pra mim já virou até lugar comum falar que o problema da fome não é produção, e sim distribuição, mas eu falo. E se não é para alimentar a nossa população é pra quê? Pra alimentar os africanos famintos e miseráveis?! É para exportar sim, mas não tem nada a ver com matar a fome dos necessitados. Tem a ver com commodities, com PIB, com rankings dos quais eu entendo muito pouco. E pra mim também é difícil de entender essa visão imediatista, que dá importância aos lucros e dólares agora, mas ignora o preço disso tudo no futuro.

Diminuir as cotas legais de cobertura florestal implica em autorizar desmatamento; implica em autorizar as lavouras e pastos a chegarem mais perto dos rios e nascentes, com seus agroquímicos e tratores. E isso tem um impacto em uma escala de tempo que pode nem ser assim tão longa, que pode nem ser assim tão gerações futuras.

Resumindo, a meu ver, essas mudanças tem a ver unicamente com interesses econômicos, que estão passando por cima da importância de ter ecossistemas minimamente equilibrados. E esses interesses econômicos estão longe de ter um objetivo de incluir a todos, de proporcionar distribuição de renda, de amenizar a pobreza. São interesses puramente capitalistas selvagens (só que sem selva... trocadilho infame, rs...).

Ouvi hoje cedo no rádio que a Dilma disse que vai vetar qualquer alteração nas cotas do atual Código. Tomara. Quero muito acreditar nisso.

Saiba mais em: http://www.wwf.org.br/informacoes/bliblioteca/?27443%2FCodigo-Florestal-Entenda-o-que-esta-em-jogo-com-a-reforma-de-nossa-legislacao-ambiental

Jack Sparrow e outros heróis

Hoje o Aralume fala de amenidades :)

Eu sempre gostei de histórias de piratas e desde o primeiro Piratas do Caribe virei fã do Jack Sparrow. O quarto filme acaba de ser lançado e estou louca pra ir ao cinema. Mas antes gostaria de rever os três anteriores, numa "maratona" adolescente de passar o dia inteiro na frente da televisão! Alguém se habilita?!


Outro herói que adoro é o Indiana Jones! Assisti inúmeras vezes os três primeiros filmes, mas confesso que o quarto me decepcionou um pouco com a orgia de efeitos especiais... entre esses dois heróis tem algumas semelhanças como o senso de humor, as malandragens e as aventuras em meio à natureza. Ah, e o charme, claro =D


E por falar em charme e aventuras em meio à natureza, lembrei do Robin Hood! O com o Kevin Costner também assisti à exaustão, mas esse mais recente, com o Russell Crowe não vi ainda... preciso colocar na lista. Engraçado pensar que eu gosto de piratas e do Robin Hood - um ladrão - justo na semana que estou estudando a segunda e a terceira normas éticas do Yôga, que são não mentir e não roubar... ah tá, eu disse que hoje falaria de amenidades, rs...


Então pra sair da área dos heróis charmosos e malandros, vou citar a minha heroína preferida: Maria, mais conhecida como A Noviça Rebelde! Também assisti esse filme incontáveis vezes e tudo nele me encanta: os cenários, as paisagens, as músicas e é claro, os desenvolvimentos dos relacionamentos humanos. Os questionamentos da Maria quando ao convento, quanto à educação que o Capitão Von Trapp impõe a seus filhos e o modo como ela lida com tudo isso. Ah, é fofo, muito fofo! E eu gosto de filme fofo!


Tá bom, é um pouco forçado chamar o Jack, o Indy e o Robin de fofos... mas eles não são ?! =D

Gosto de filmes de aventura, de romance, engraçados e com boas mensagens, por mais chichê que sejam. Já faz um tempo que eu evito deliberadamente filmes violentos (violência de verdade e não luta de espadas), tristes, pesadões... por mais cult que sejam, por melhores que sejam. E isso por um motivo simples: pra que eu quero criar essas sensações em mim?! Não vejo motivo nenhum para sentar em frente a uma tela e ficar duas horas passando medo, raiva, tristeza e indignação (também é por isso que não assisto telejornal, hehe).

E pra finalizar com mais uma heroína, quero muito reassistir a Mary Poppins, que foi feita pela mesma atriz da Noviça (Julie Andrews) e lançado um ano antes (1964, viva o Google!!!). Esse eu também assisti incontáveis vezes, mas a última ainda foi antes dos 15 anos. Lembro que eu adorava!


Pronto, já tenho quatro maratonas cinematográficas: Piratas do Caribe, Indiana Jones, Robin Hood e Julie Andrews. Haja pipoca!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Queimando o site

A Revista TPM (Trip pra mulher) tem uma nota toda edição que chama "queimando o livro", onde elas indicam (pra fogueira) aqueles livros de auto ajuda do tipo "O que fazer para brilhar no trabalho e conquistar o homem mais bom partido do pedaço em doze lições". E eu agora queria inaugurar o "queimando o site".

Estava eu dando uma bobeada na frente da TV quando aparece a Bebel (a filha da Nenê, da Grande Família, sabe?!) dizendo que "pra mulher a questão é: menstruar ou não menstruar?". O comercial vai se desenrolando em torno dos sintomas indesejados e incompreendidos da menstruação, dizendo que agora é uma opção sua ficar ou não inchada, ficar ou não de TPM, ter ou não um sangramento.

Fiquei tão chocada que corri pro Aralume, esse meu querido veículo de vasão das angústias, indignações e alegrias. O comercial divulga o site vivasemmenstruar.com.br e é esse mesmo que eu quero queimar!

O slogan deles é "Não menstruar. Você conquistou esse direito". Outra pérola do site: "sem menstruar quem manda na sua vida é você, não o seu ciclo menstrual". E depois de discorrer sobre todos os desconfortos da menstruação, encerra com "a não ser que você decida dar um basta nesse encontro mensal chatíssimo". Encontro mensal chatíssimo...

Faz um tempinho que estava montando um texto aqui pro Aralume sobre menstruação. Eu já escrevi um pouco sobre isso, principalmente no Entendendo (ou tentando entender) os ciclos femininos, mas estava a fim de falar especificamente sobre a menstruação. Eu começava o texto assim: "eu adoro ficar menstruada". Só que achei que poderia ser meio esquisito, não estava conseguindo um acabamento, então ficou "na gaveta". Eis que então me chega essa nova revolução feminina - tem hora que eu acho que nós mulheres somos umas patetas mesmo.

Ah, e o tal site apela também pro lado da prevenção de doenças. É tudo tão convidativo, são tantas vantagens... Eles dizem que "é para mulheres que querem levar uma vida com mais liberdade, bem estar e conforto". Quem não quer?!

A seção de mitos e verdades é de fazer chorar. Tem também a seção de perguntas ao ginecologista; um ginecologista homem, é claro.

CACETE, eu podia ter ido dormir sem essa!

Ou eu que sou muito arcaica?

Para mim sempre foi muito nítido que quanto mais perto da natureza, melhor. E consequentemente, quanto maior o distanciamento da natureza, maiores as chances de sofrimento, de doenças, de distúrbios psíquicos e afetivos. Tecnologia é sim muito legal, usufruo de inúmeras conquistas tecnológicas, mas sempre me pergunto onde estará a linha tênue que divide os benefícios dos malefícios da tecnologia.

Eu devo ser mesmo muito privilegiada por nunca ter tido problemas sérios com menstruação. Na verdade, a única fase da minha vida que tive TPMs homéricas e desesperadoras foi justamente quando tomei anticoncepcionais.

Mas nada me tira da cabeça que problemas relacionados à menstruação devem ser resolvidos no consultório do psicanalista, não no do ginecologista e muito menos abafando esses gritos de socorro do corpo e da alma, se me permitem usar esse termo.

Essa semana eu tenho como lição de casa observar AHIMSÁ, que é a primeira norma ética do Yôga e consiste na não agressão. Confesso que não consegui conter minha agressão nesse texto. Mas acabo de ler uma definição interessante sobre o meu sígno:

"TOURO - O Resistente. Que encanta, mas agressivo. Podem parecer enfadonhos, mas não são. Trabalhadores duros. Amável. Forte, tem resistência. Seres sólidos e estáveis e seguros dos modos deles/delas. Não procuram atalhos. Orgulhosos da beleza deles/delas. Pacientes e seguros. Fazem grandes amigos e dão bons conselhos. Bom coração. Amam profundamente - apaixonados. Expressam-se emocionalmente. Propenso a temperamentos e acessos de raiva ferozes. Determinado. Cedem aos seus desejos frequentemente. Muito generoso.

Como vimos no nosso estudo sobre ahimsá, cada um, de acordo com suas funções no mundo, deverá ter a sua forma de observar essa norma ética. Enquanto alguns monges não matam nem formigas, os guerreiros precisam combater para proteger os demais...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Na ponta do pelo do coelho

Já faz muito tempo que li "O Mundo de Sofia", um livro que traz de maneira muito lúdica a estrutura do pensamento filosófico ocidental. Não lembro de muita coisa, mas tem uma imagem que sempre me marcou que é "estar na ponta do pelo do coelho". É o seguinte: um mágico retira o coelho da cartola e você habita esse coelho, como se fosse uma pulga. O autor diz que quando nascemos estamos na ponta do pelo do coelho, vendo todo o universo, o mágico e o próprio coelho. Conforme vamos envelhecendo, escorregamos em direção à pele do coelho e tendemos a ficar lá, acomodados, no quentinho seguro e sem graça. Instigar o pensamento, a inteligência e o deslumbrar diante das coisas mais simples é escalar o pelo do coelho!

E aqui estou eu, mais uma vez sentindo o vento em meus cabelos, o ar fresco e a sensação instável de estar equilibrada na ponta de um pelo flexível. Tenho ficado por aqui cada vez mais. Às vezes escorrego um pouco e dou uma "descansada", mas logo aparece algo que me faz ter vontade de subir de novo e ver o que está acontecendo.

Na semana passada comecei a estudar espanhol, com uma professora particular, a Cássia. Eu não esperava que fosse aprender tantas coisas logo na primeira aula! E foi tão boa a sensação de aprender. Olha que legal, agora eu sei coisas que não sabia antes! E, claro, são coisas bacanas, é cultura, é conhecimento, é habilidade.

Eu sempre gostei muito de estudar. Adoro lembrar dos meus professores, dos meus cadernos, das minhas escolas. Na entrevista com o Rubem Alves (só assisti toda depois da postagem da semana passada) ele fala da Escola da Ponte, que é uma escola que não tem salas de aula, que não tem grade curricular (é ótima a fala dele sobre a grade curricular!), não tem separação por séries e idades e o papel dos professores é bem diferente do que o habitual. Fico pensando que maravilha seria o mundo se o sistema educacional todo fosse assim. Eu até que me dei bem com o sistema convencional, pelo menos sob o aspecto de não sofrer e inclusive de gostar da escola, mas sei que para muitas crianças e adolescentes a escola é uma verdadeira tortura e ao invés de estimular, vira uma chateação. Que tristeza!

Continuando na onda do Rubem Alves, ele diz que o corpo deseja aprender e que o impulso para a aprendizagem é o impulso de viver. Se o "templo do saber", que é a escola, vira um ambiente hostil, cheio de regras chatas e anti naturais, esse impulso de aprendizagem fica seriamente comprometido. E o que acontece com o impulso de viver? Também fica comprometido e vamos formando seres que não vivem, mas que sobrevivem (essa análise é minha mesmo, rs...).

Toda essa reflexão e constatação gera uma grande angústia e até mesmo uma tristeza. Sempre que eu descubro algo que acho genial, tenho vontade de sair correndo e contar pra todo mundo; tenho vontade de literalmente começar a andar na rua parando as pessoas para contar essa descoberta. Só não faço isso porque tenho aprendido que tudo tem seu tempo e que uma grande descoberta pra mim pode não ter significado nenhum para outra pessoa, nesse momento.

Então me contento em ir contando essas grandes e pequenas descobertas aqui no Aralume, para quem quiser ler e pensar e aprender e saber e contar e ensinar e fazer o mundo ficar mais bacana, principalmente porque o mundo é o que vemos e vos digo que o mundo daqui da ponta do pelo do coelho é lindo!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vale uma hora de sono

Ando meio em crise com meu tempo. Não está dando tempo de fazer tudo o que eu preciso e muito menos tudo o que eu quero... ontem, por exemplo, eu deveria ter postado um artigo no Aralume, mas não consegui.

Às vezes eu até consigo escrever em 20 minutos, mas se eu souber que só tenho vinte minutos vem uma ansiedade e acaba não saindo nada. Enfim, deixei o Aralume de lado e corri para as obrigações mais urgentes...

Cheguei em casa umas 22h e já estava com a ideia de me aprontar para dormir, pois saio da cama às 6h e (ainda) preciso de oito horas de sono para me refazer. Aí o Paulo Cesar me diz que o entrevistado do Provocações (TV Cultura), que começa às 23h15, seria o Rubem Alves. Eu sou muito fã do Rubem Alves. Os textos dele tem a capacidade de me transportar muito rápido para um estado de contentamento, me trazem uma alegria, uma esperança, uma sensação de que viver é lindo e vale a pena.


Eu nunca tinha visto uma entrevista com ele e não pensei duas vezes. Foi o tempo de comer e tomar um banho bem gostoso e lá estávamos nós quatro: eu, PC, Abujamra e Rubem Alves!

E logo de início o Abujamra já lança uma frase que cutuca a minha crise com o tempo:

Regra mais importante da educação: não ganhar tempo, mas gastá-lo.


O comentário do Rubem Alves sobre isso segue transcrito:

O prazer quer tempo. O prazer demanda tempo, então a gente tem que gastar tempo, porque a vida é pra isso, é pra gastar tempo. Quando a gente diz que está ganhando tempo, na realidade a gente não está ganhando tempo, a gente está estragando tempo.

Logo em seguida ele cita meu querido Guimarães Rosa: Alegria, só em raros momentos de distração.

Depois o Abujamra cutuca ele com a questão da religião e olha que legal, o Rubem Alves diz que toda a nossa tradição espiritual ocidental é baseada no sofrimento. Parece que Deus se deleita quando vê os homens sofrendo. Imagina se alguém faz a seguinte promessa: "Senhor eu prometo que se eu alcançar essa bênção, todos os dias às seis da tarde eu vou ler um poema de Fernando Pessoa". Ninguém oferece coisa boa pra Deus.

Pois é. Nem vou tecer comentários. Não precisa, né?

Não vi a entrevista até o fim porque realmente já estava dormindo no sofá. Por mais maravilhosa que estivesse a conversa, chega uma hora que parece que cai a chave geral, rs... mas a encontrei no You Tube na íntegra hoje! É nessas horas que eu reverencio a tecnologia.

Vou assistir agora e recomendo que você faça o mesmo ;)

http://www.youtube.com/user/marcallombardi