segunda-feira, 26 de abril de 2010

Benditas Leitoras!

Filha de artistas que sou, aprendi desde muito pequena a reconhecer a importância da arte em nossas vidas. Da arte, da beleza, da sensibilidade, da expressão, da cultura, do prazer, da felicidade!

E é por isso que fiquei muito feliz ao saber da existência do grupo Benditas Leitoras, de Itu, que organiza o Nhoque da Fortuna com Sarau, todo dia 29! O do mês passado foi o primeiro e foi muito gostoso ouvir poesia, prosa e música, degustar um bom nhoque e confraternizar com os amigos. É de sair com a alma lavada e perfumada.

Mas um "pequeno detalhe", que talvez passe despercebido pelos espectadores menos atentos, me fez ficar mais feliz ainda. Se tivesse sido um sarau já teria sido ótimo, mas foi um sarau idealizado, organizado e realizado por mulheres (homens também participaram, mas o feminino estava muito presente!). "Ok, e daí?", você deve estar se perguntando, "A Carol deu pra virar feminista agora?". De forma alguma. Mas de um tempinho pra cá algumas pessoas tem me feito ver como o mundo está precisando do feminino.

A estrutura da sociedade que vivemos é patriarcal e isso traz consequências muito tristes, tanto para o homem quanto para a mulher, para a humanidade e para o planeta. Muitos dos valores do feminino são cada vez mais anulados. A mãe concebe, gera, cuida, nutre. A mãe sabe o que é melhor para o filho, e o pai vai lá e realiza. Quando o masculino está desconectado do feminino são criadas armas, acontecem guerras, há exploração da natureza e dos seres humanos, polui-se e mata-se. A mãe - no sentido mais amplo que esse termo possa assumir - não quer morte, ela deseja acima de tudo a prosperidade da vida.

Você deve estar pensando que existem muitas mulheres "perversas e destruidoras". Sim, existem, e aí é mais triste ainda, pois essas mulheres perderam totalmente a conexão com o feminino - no sentido mais amplo que esse termo possa assumir. Não basta usar batom, vestido e salto alto. O buraco é mais em cima, como bem dizem Rita Lee e Zélia Duncam na música Pagu.

E que tal cultivar o feminino que existe em você - seja você homem ou mulher? A arte é uma boa forma... segue abaixo o convite para o Sarau!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Condeomínio

[Conde: é um título nobiliárquico existente em muitas monarquias, sendo imediatamente superior a visconde e inferior a marquês. Inicialmente, na Idade Média, era o senhor feudal, dono de um ou mais castelos e de terras denominadas condado, mas posteriormente, a partir do século XIV, o título nobiliárquico foi utilizado apenas como grau de nobreza (fonte: Wikipédia)]

Os títulos de nobreza me lembram a Idade Média e também o início da colonização do Brasil, lembraças essas que confirmo na definição de Conde da Wikipédia. E o que esses períodos históricos tem em comum? No meu entendimento leigo, de quem estudou isso na oitava série do primeiro grau (veja só que "antigo", pois hoje essa classificação nem existe mais!), esses períodos, como tantos da história - se não todos! - foram marcados por uma grande exploração do ser humano pelo... leão? Pelas baleias?! Pelos extraterrestres?!?! Não... pelo próprio ser humano... claro, quem mais iria nos explorar, se somos o topo da cadeia alimentar? Quem mais iria nos explorar, se somos o único ser do planeta dotado de "telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor"?

E haja telencéfalo altamente desenvolvido pra entender isso... eu lembro que quando li "O Mundo de Sofia" fiquei chocada ao me dar conta de que aqueles filósofos ilustres só puderam filosofar à vontade porque tinham escravos cuidando das coisas "mundanas". Pelo menos naquela época os que não estavam fazendo trabalho braçal faziam algum trabalho intelectual que valesse a pena... ah, deixa pra lá... estou meio ranzinza hoje!

De qualquer forma, eu acho que muitos seres humanos estão sendo "desperdiçados". Não creio que uma pessoa tenha "mais potencial" do que outra... a plenitude do ser humano pode (e deve) ser expressa por qualquer ser humano! Será que precisamos mesmo sacrificar indivíduos em benefício da espécie? Isso é para plantas e animais, não para gente.

Tudo isso porque a estratégia de marketing de um condomínio me atingiu profundamente. Imagina que eles usaram postes humanos para pendurar suas plaquinhas: Campos do Conde. Não foi uma "performance", nem uma intervenção artística. Durante todo o fim de semana algumas pessoas ficaram em pé, debaixo de um sol escaldante, com uma placa pendurada no pescoço indicando a direção do tal condomínio. Fiquei pasma. Estou exagerando? Perdi a medida das coisas?

Mas já que estamos falando de condomínios, não poderia deixar de declarar aqui a minha aversão por essa febre urbanística. Condomínios e shopping centers são a declaração de falência das cidades. As pessoas se trancam atrás de muros protegidos por câmeras e cercas elétricas e constroem lá dentro um mundo ilusório onde tudo é bonito, limpo e seguro. Saem em seus carros blindados, entram em edifícios espelhados, respiram ar condicionado, entram no shopping, não veem a luz do sol e comem comida de plástico (nossa, eu estou muito ranzinza)!

Claro que a vida em condomínio é uma saída (pseudo-saída) para o caos que as cidades estão virando, sob más administrações e falta de cidadania. Eu mesma alimento um sonho nada secreto de morar em uma ecovila que, em última análise, é um condomínio natureba*, rs... não quero julgar e está longe de mim propor uma saída, mas às vezes o simples fato de apontar o problema pode ajudar alguém a encontrar uma solução. E não custa nada dizer que quem compra um lote em um condomínio que utiliza pessoas para pendurar suas placas está assinando embaixo, está de acordo com esse desrespeito ao ser humano. Os outros contras e prós de condomínio nem vem ao caso nesse caso.

Precisamos estar muito atentos ao impacto das nossas decisões no mundo. Precisamos estar atentos aos exemplos que damos. Precisamos afinar discurso e prática. Precisamos ser coerentes. Pode parecer simples, mas não é. Demanda atenção constante e integridade. É um exercício interessante.

*nota sobre ecovilas: que os companheiros não se melindrem pela tosca comparação das ecovilas com os condomínios. Em uma sociedade "ideal" as ecovilas não seriam necessárias, porque o campo seria dividido de forma justa, as relações entre vizinhos seriam harmoniosas, as cidades seriam pequenas e a maior parte da população viveria na zona rural, que teria boas escolas, boas estradas, boa comunicação. Aqueles que vivessem nas cidades andariam a pé e teriam grandes quintais. O mundo seria uma grande ecovila! Mas a justificativa de não estarmos em um "mundo ideal" não cabe aos condomínios, simplesmente porque eles não fazem o menor esforço para construir esse mundo, coisa que as ecovilas fazem.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma casa que respira!

No fim de semana eu e o PC fomos a São José do Rio Preto, para o casamento de um primo dele e ficamos hospedados na casa da Maria e do Paulo. A Maria, prima do PC, é arquiteta especializada em bioconstrução e a casa dela é seu principal cartão de visitas!

É uma casa deliciosa, toda feita com tijolos de adobe, que é uma técnica que usa terra crua. Para assentar os tijolos é usada uma mistura de barro, que dispensa o cimento e a estrutura da casa é toda de madeira reutilizada de antigos postes de rua e pontaletes, ou seja, nada de ferro e nada de madeira "nobre". E não pára por aí: o telhado é de grama!!!

Esse telhado amplia a área útil da casa, pois da porta do mezanino se tem acesso a ele e dá pra ficar lá em cima, tomando um sol, olhando o céu ou até cultivando um jardim ou uma horta! Essa técnica também melhora o conforto térmico da casa e, se usada em larga escala, ajuda no ecossistema urbano, reduzindo o calor refletido pelos telhados comuns. Mas não se empolgue e não saia plantando grama no seu telhado! Todo o projeto precisa levar isso em consideração, para ter uma boa vedação e uma estrutura que suporte o peso.

E é justamente aí que entra a Maria - merchandising no Aralume, eu adoro! Quem estiver pensando em construir, fale comigo que eu coloco vocês em contato.

E pra quem pensa que isso é coisa de "bicho grilo", nada disso! A casa é super confortável, com paredes retinhas e pintadas (de cal, mas fica lindo e se fizer do jeito certo não deixa a roupa branca, rs...), o teto é forrado, tem azulejos nos banheiros e na cozinha, pé direito alto, cômodos amplos, enfim, uma casa do jeito que você está acostumado, mas com muito mais respeito ao meio ambiente e mais conforto para os moradores.

Com relação ao custo, geralmente fica empatado com uma casa convencional, mas isso depende da mão de obra para fazer os tijolos: se conseguir fazer num esquema de mutirão, literalmente colocando a mão na massa, fica beeeeeeeeeeeem mais barato. Mas como diz a Maria, a pessoa que opta por uma construção dessa tem que ter outra motivação que não o custo, é uma questão de ideologia mesmo, de assumir uma outra postura com relação à casa.

Seguem mais algumas fotos:
Foram usados cerca de 5.000 tijolos para construir a casa, que tem dois quartos (um é suíte), um banheiro, sala, cozinha com despensa, mezanino e varanda - todos os cômodos são bem amplos!

Aí estão os postes reutilizados. As portas e janelas foram garimpadas em demolições.

O telhado verde e detalhe da parede com os tijolos visíveis. Essas mangueiras pretas são para irrigação (gotejo), que pode ser feita também por aspersão.

Área interna: casa arejada e iluminada!

terça-feira, 6 de abril de 2010

A humana de um cachorro preto

Certo dia a Carol, minha amiga e cunhada, que também é admiradora dos seres de quatro patas, chegou em casa contando que viu na calçada da padaria um cachorrinho simpático, que estava sozinho. Aí ela "puxou papo"com ele - coisas do tipo: ei, o que você faz aqui sozinho? - e apareceu um rapaz dizendo: eu sou o humano dele! Nos divertimos com a história e a expressão pegou.

O primeiro cachorro preto do qual fui a humana foi o Jiguê. Acho que ele já existia na nossa família quando eu nasci (mãe, conta essa história?), mas me lembro do dia que me pai veio me falar que ele tinha morrido... foi uma sensação bem estranha e, como acho que acontece com todo mundo nessas situações, a ficha demorou um pouco pra cair. Claro que fiquei muito triste, mas eu sonhava com ele passeando no mato, feliz. Lá no sítio a gente tinha o cemitério dos bichos e agora, olhando pra trás e relembrando isso tudo, acho que foi uma boa "introdução à morte"...

Muitos anos depois apareceu na minha vida o segundo cachorro preto, o Pajé. Eu estava indo morar no sítio (o mesmo do Jiguê e do cemitério), e precisava de um "guardião", portanto, não poderia ser filhote. Não foi difícil encontrá-lo, pois meu pai adestra cães e está sempre às voltas com cachorros dos mais variados tipo e humanos idem. Quando ele me falou que tinha achado um cachorro preto e peludo, como o Jiguê, o senti um pulo no coração. Fomos encontrar o Pajé, que ainda não tinha esse nome, e lá estava ele, amarrado num quintal... os então humanos dele o haviam pego para fazer companhia a uma criança, mas o Pajé em pouco tempo ficou bem maior e mais barulhento que a tal criança e aí, já viu... virou um problema. Problema pra eles, solução pra mim!

Em um mês meu pai o transformou em um lord (que depois tratei de dar uma "estragada", rs...) e lá fomos nós dois pro sítio! No começo eu ficava com medo de que ele fugisse, mas logo entendi o quanto ele me era grato por tê-lo tirado daquela situação humilhante que ele vivia... e ele também sabia o quanto eu era grata a ele por me fazer companhia e por cuidar de mim (é impressionante como um cachorro preto mete medo!).

Depois voltei pra Pira e o Pajé foi junto, claro. Aí fui morar com o PC e foi um longo e minucioso trabalho para fazer a amizade dele com o Jawa, nosso outro cachorro. Hoje eles são super amigos e se fazem companhia, até dividem a mesma casinha nas noites de rojão ou tempestade!

Quando "resgatei" o Pajé ele tinha um ano, ou seja, já era adulto, mas isso não foi problema nenhum, ele acostumou comigo e até mudou de nome! A amizade dele com o Jawa também mostra que com carinho e atenção (e de preferência auxílio de um adestrador!), é possível fazer dois machos adultos ficarem amigos.

Eu não entendo muito essa coisa de comprar cachorro, pois realmente acho que amigo não se compra... se você quer ter um cachorro, procure por bichos que estejam precisando de um lar! Há tantos... e das mais variadas raças, tamanhos, cores, pelos, idades, históricos... a Carol, lá do começo da história, se envolveu bastante com a proteção animal e pode deixar aqui alguns contatos para quem quiser adotar (hein, Flor?).

PS - pra quem não percebeu, as fotografias acima foram tiradas no mesmo local, com exatos 20 anos de diferença! O cachorro preto da primeira é o Jiguê e o da segunda, o Pajé, ambos com sua humana. Ah, nessa tem também o Lucas, meu irmão. Abaixo tem uma outra foto, que minha mãe achou outro dia "por acaso"... antes mesmo de conhecer o mundo "aqui fora" eu já era a humana de um cachorro preto!






sábado, 3 de abril de 2010

Casa de Francisca

Uma casa pequena, bem pequena. Pequena mas cheia de detalhes. Como o detalhe dos castiçais envoltos em gotas de cera derretida; detalhe da louça sem padrão que lembra as casas antigas com enxovais sobrepostos; detalhe do prato finamente preparado e decorado. A música no começo é um detalhe, que logo passa a ser foco dos holofotes - que não há.

Não há holofotes, mas toda a atenção está voltada para o minúsculo palco, recheado de talentos. Tudo pára. Nada é mais importante do que a música, do que os músicos, do que os instrumentos. A fome já foi saciada, a sede pode esperar. Mas nem sempre é fácil controlar a vontade de fazer um comentário, de expressar fisicamente o enlevo e êxtase do momento. Aí a mulher ao lado, inquieta e um pouco barulhenta nos faz lembrar daquele parente meio sem compostura. Mais um motivo para nos sentirmos em casa, em família.

Dinheiro, há que se ter um pouco, como para tudo na vida. Mas penso com alegria que aquele desembolso vai para bolsos tão nobres; é com gratidão que tiro as notas da carteira, para retribuir notas tiradas de um bandolim; e me despeço do anfitrião com o desejo de que ele continue nos proporcionando essa poesia em forma de casa. A Casa de Francisca.


Rua José Maria Lisboa, 190
São Paulo - SP
www.casadefrancisca.art.br

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Declaração de amor


Hoje eu e o Paulo Cesar completamos 9 anos de namoro e 9 anos e 1 dia que nos conhecemos! Ou seja... pode-se dizer que foi "amor à primeira vista"! Talvez lá, naquele dia, a gente não soubesse disso (racionalmente, pelo menos), mas conforme o tempo foi passando e a gente foi se conhecendo mais, se gostando mais, decidindo mais, fomos vendo que o amor sempre esteve presente. E para compartilhar esse amor, trago aqui pro Aralume uma página do meu diário da época, que escrevi menos de dois meses depois de conhecer o Paulo Cesar (pra quem não sabe, no início nós não morávamos na mesma cidade).



Piracicaba, 29 de maio de 2001

Uma nova inspiração surge em minha vida. Estou namorando. Tudo está muito bom e lindo.

Mas uma coisa interessante está acontecendo: ando escrevendo poemas! As palavras surgem na minha cabeça e martelam até que eu as coloque no papel.

Obedeço meus "insights", aí vão...

"MEU CORPO DÓI
meus olhos ardem, meu nariz não quer funcionar
quero dormir quero chorar
sair de dentro de mim virar do avesso
ver onde é o fim... e o começo"


"Sinto um vazio no interior do meu corpo
Um vazio bom, de limpeza
Às vezes dá um frio
Às vezes da um eco
Às vezes dá tristeza...
Essa sensação chega junto com tua mão,
com teus lábios
com teu cheiro.
Um turbilhão de sentimentos
varre meu corpo,
tumultua minha mente
e toca minha alma"


"CONJUGAÇÃO VERBAL
Há uma semana atrás, estávamos juntos...
Daqui uma semana, estaremos juntos...
Mas HOJE não estamos.
O passado já foi.
O futuro não existe.
O que existe é a esperança e a vontade;
O medo e as lágrimas... de saudade!"